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A poupança e a esperteza de Lula

As mudanças anunciadas nesta quarta-feira na caderneta de poupança revelam a esperteza do presidente Lula. É evidente que algum dia será necessário acabar com o tabelamento do rendimento da aplicação, do contrário ela se tornará, na prática, a taxa básica de juros da economia brasileira. Neste momento, porém, a ideia de taxar os rendimentos acima de R$ 50 mil e diminuir os tributos sobre os fundos é suficiente para abrir caminho para uma queda maior da taxa Selic sem que o piso "oficial" de rendimento da poupança precise ser alterado.

A esperteza do presidente está no rápido movimento para culpar a oposição pelo desenlace "provisório" da mudança - foram os oposicionistas, especialmente do PPS, que "politizaram" a questão - e no discurso de que 99% dos aplicadores foram preservados. Como os números não mentem e de fato este é o percentual de pessoas com aplicações na faixa que não será tributada, é evidente que a medida será entendida desta forma. Uma situação completamente diferente da que comparava o PPS, o confisco de Collor: amanhã, quando o banco abrir, o pequeno investidor saberá que seu dinheiro está lá, disponível para saque. E o PPS amanhecerá com cara de quem saiu por aí gritando "fogo na floresta" quando nada aconteceu.

Lula é mesmo muito mais esperto do que seus opositores. Consegue fazer de qualquer limão uma limonada, enquanto seus rivais ficam quebrando a cabeça para achar um jeito de tentar atingir o governo. Não conseguem por uma razão muito simples: não têm projeto alternativo. O que fariam os críticos no caso da poupança? Manteriam o rendimento e parariam de baixar os juros? Zerariam os tributos dos demais fundos, comprometendo a arrecadação dos estados e municípios? No fundo, ninguém tem uma proposta alternativa coerente. Assim, Lula consegue acabar jogando para a galera do jeito que ele bem sabe fazer enquanto a oposição assiste ao show, mais perdida que cego em tiroteio. Neste episódio particular, por exemplo, ninguém se surpreenda se nos próximos dias acontecer uma corrida de depósitos na poupança. Aí o governo vai deitar e rolar, afinal, que tungada é esta que no final acaba atraindo recursos?

Comentários

  1. Luiz Antonio
    vi, abaixo do post, 0 comentários.
    Por isso resolvi escrever.
    Leio o seu blog diariamente e por isso devo dizer:
    Não pára, não pára, não pára.
    Afora a provocação corinthiana, é sério.
    Não pára, seu trabalho é bom.
    abs

    ResponderExcluir
  2. "...e Lula acaba sempre jogando para a galera.."
    Essa não deu para entender.
    Mas deve tá certo...

    ResponderExcluir
  3. Lula tb tem outra esperteza; é bem assessorado.

    O mais antigo membro de sua equipe econômica é "o cara": Bernardo Appy. Na verdade está desde a transição. Ele estruturou essa proposta.

    O mais petista da equipe de Palocci, o Beca, como é conhecido pelos amigos, foi um dos dois únicos que ficou com Mantega. Passou por 3 cargos:

    Secretário Executivo;
    Secretário de Política Econômica;
    secretário de Reformas Econômico-Fiscais

    Foi secretário da fazenda de POA em dois governos e era sócio de Luciano Coutinho na LCA, antes de assumir com Palocci o governo.

    Aliás os dois que ficaram esses 6 anos de 5 meses na Fazenda são o Appy e o também petista Arno Augustin. Ambos gaúchos.

    ResponderExcluir
  4. De qualquer forma, a Folha hoje achou um jeito de jogar fumaça em cima do plano de Lula: titulaço de primeira "GOVERNO PROPÕE TRAXAR POUPANÇA" ...hora hora...o povão passa na frente da banca de vê aquilo e pensa que a sua vai ser taxada também. É muita maldade mesmo. Não dá para acreditar, é incrível.

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