No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério Andrade”, escreve Rafael Soares na edição desta semana da revista Época. Vale a leitura, continua a seguir.
A revelação do pai do policial — que integra o processo administrativo para excluir o cabo da corporação, obtido por ÉPOCA — ajuda a montar o quebra-cabeça do capítulo mais recente de uma guerra no submundo do crime do Rio que já dura mais de duas décadas: a disputa pelo espólio criminoso de Castor de Andrade, o maior “capo” do jogo do bicho carioca entre as décadas de 1970 e 1980. Desde a morte do chefão, vítima de um ataque cardíaco em abril de 1997, seu sobrinho Rogério Andrade e seu genro, Fernando Iggnácio, disputavam à bala o império de pontos de jogo do bicho e máquinas caça-níqueis que Castor de Andrade construiu na Zona Oeste do Rio. O conflito familiar — que acumulou traições, atentados e mais de 200 homicídios — teve um ponto final com a execução de Fernando Iggnácio.
A partir da teia de conexões dos pistoleiros, o Ministério Público (MP) do Rio encontrou as digitais de Rogério Andrade no crime. No último dia 12 de março, a juíza Viviane Ramos de Faria decretou, a pedido da promotoria, sua prisão pelo homicídio do desafeto. Até hoje, no entanto, ele não foi encontrado pela polícia e está foragido. Com base numa série de documentos coletados em processos judiciais e investigações policiais — muitos deles inéditos —, ÉPOCA reconstituiu o passo a passo da investigação do crime, acompanhou os 23 anos de guerra pela herança de Castor de Andrade e mostrou o rastro de sangue por trás da trajetória de Rogério Andrade até se tornar o bicheiro mais poderoso do Rio.
O caminho da investigação do homicídio de Fernando Ignácio que levou o MP até Rogério Andrade começou justamente pelo cabo Neves, primeiro dos quatro assassinos identificados pela polícia. O reconhecimento foi possível graças a um descuido do grupo: uma câmera de segurança localizada numa rua atrás do heliporto flagrou a placa do veículo clonado que o bando usou para ir até o local e fugir após a execução. Os atiradores desembarcaram do veículo às 9h01 de 10 de novembro, dia do crime, e esperaram até as 13 horas, atrás do muro no fundo do terreno do heliporto, pela chegada do alvo, de helicóptero. O contraventor havia passado alguns dias com a mulher, Carmen Lúcia, filha de Castor de Andrade, na mansão do casal em Angra dos Reis, na Costa Verde. No momento em que estava abrindo a porta de seu carro blindado, os assassinos atiraram várias vezes com fuzis, correram e embarcaram no carro que os aguardava na rua de trás.
Nos sete dias posteriores, policiais da Delegacia de Homicídios (DH) refizeram a rota de fuga dos assassinos a partir de câmeras de monitoramento do trânsito e de estabelecimentos comerciais e chegaram a um condomínio em Campo Grande, também na Zona Oeste, a 33 quilômetros de distância da cena do crime. Câmeras do conjunto também flagraram o momento em que os atiradores estacionaram o carro na rua e entraram pela portaria. Vizinhos e funcionários logo identificaram um dos homens como o PM Rodrigo das Neves: a namorada do policial morava num apartamento no bloco 7, e ele ia com frequência ao local.
A ficha do cabo na PM descreve seu comportamento como “mau”, pior classificação possível na corporação. Em seis anos como policial, Neves acumulou 25 punições e 11 dias preso administrativamente. As seguidas faltas e atrasos levaram seu comandante a tirá-lo das ruas e designá-lo para uma das tarefas mais ingratas no batalhão, a faxina. No entanto, foi a função do PM fora da corporação que chamou a atenção dos investigadores: fotos espalhadas pelas redes sociais revelaram que Neves tinha um “bico” como segurança da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, onde Castor de Andrade fez história na década de 1980 e cujo patrono atual é Rogério Andrade.
Em 17 de novembro, a Justiça determinou a prisão do cabo e expediu mandado de busca para o apartamento de sua namorada. No local, a polícia encontrou quatro fuzis — dois deles usados na execução de Fernando Iggnácio. Neves, no entanto, não foi encontrado. Quando a polícia chegou, ele já havia fugido num carro de um amigo rumo ao município baiano de Canavieiras, onde seria preso dois meses depois. Com o desertor, os agentes apreenderam um diário em que Neves revela que topou participar do crime “por dinheiro e aventura”. Durante a viagem de volta ao Rio, ele ainda disse aos agentes que o prenderam que “o pagamento pelo crime foi dividido em duas etapas e que apenas recebeu a primeira”. Não revelou a quantia recebida.
Os contatos do celular de Neves levaram a polícia aos outros três atiradores. Dados dos aparelhos dos quatro obtidos por meio de quebra de sigilo revelaram que todos estiveram juntos, nas mesmas regiões da cidade, na véspera, no dia do crime ou no dia seguinte. Confirmando que eles de fato se conheciam, policiais da DH descobriram que os quatro tinham os contatos dos demais salvos nas agendas telefônicas de seus celulares. Fotografias de todos foram comparadas com as imagens de câmeras de segurança do dia do crime. Até as tatuagens batiam. Por fim, uma testemunha — um amigo em comum dos quatro assassinos — entregou aos agentes a pista que faltava para que a investigação subisse um degrau em direção ao mandante. Em depoimento, ele relatou que um dos executores, o segurança da Mocidade Ygor Rodrigues Santos Cruz, conhecido como Farofa, “tinha uma ‘visão’ para pegar a vítima” — ou seja, uma dica para matar Fernando Iggnácio — e que ele “trabalha para um homem conhecido como Araújo, cujo nome é Márcio”. A testemunha se referia ao sargento reformado da PM Márcio Araújo de Souza, chefe da segurança de Rogério Andrade.
Chamado a depor em fevereiro passado, Araújo negou conhecer Rogério Andrade e os executores. A investigação comprovou que ele estava mentindo. Primeiro, porque no celular de um dos atiradores, o ex-PM Pedro Cordeiro, os investigadores encontraram o contato de Araújo gravado. Depois, o próprio Araújo, sem saber que estava sendo gravado, admitiu não ter contado à polícia a verdade sobre seu chefe.
No dia em que o sargento prestou depoimento, celulares ligados a ele estavam sendo interceptados com autorização da Justiça. Numa ligação a um pai de santo logo depois que saiu da delegacia, Araújo admitiu que mentiu em seu relato e chegou a se referir ao bicheiro como “01” e “patrão”. “Foi tudo certo, não fizeram pressão. Me fizeram uma pergunta se eu conhecia meu 01 e eu disse que não. Mas, no final, eles me mostraram um vídeo de 2017 que mostra eu tirando o cara do hospital”, afirmou o PM na ligação, referindo-se ao vídeo que gerou a investigação da PM. O pai de santo retrucou que Araújo podia ter dito que conhecia Rogério Andrade, afinal a polícia já sabia da relação entre os dois. “Não, meu padrinho. Eu estava com instrução para não”, disse o sargento.
Baseado na teia de relacionamentos que levavam os atiradores até o bicheiro, o MP denunciou à Justiça e ainda pediu a prisão de Rogério Andrade, Araújo e dos executores. Atualmente, só estão presos o cabo Neves e o chefe da segurança do bicheiro, que se entregou na delegacia. Com base em contatos feitos pelos demais executores após o crime, a polícia já sabe que eles fugiram para o Paraguai. Já a localização de Rogério Andrade ainda permanece um mistério.
Antes de morrer, Castor de Andrade dividiu seu espólio criminoso entre seus herdeiros. Bangu foi partido ao meio. Fernando Iggnácio, o genro, ficaria com a exploração de máquinas caça-níqueis. O gesto era quase um agradecimento do sogro, já que, quase uma década antes, fora o marido de Carmen Lúcia quem convencera Castor de Andrade a entrar no novo negócio, ignorado pelos grandes bicheiros da época, e trazer os primeiros aparelhos para o Rio. Já Rogério Andrade, sobrinho e braço direito de Castor de Andrade, ficou com os pontos de jogo do bicho. Preparado desde a adolescência para suceder ao capo, Rogério Andrade teve direito à parte da herança considerada mais valiosa pelo tio — mas rapidamente desvalorizada ao longo dos anos 1990 devido aos avanços tecnológicos. No final da década, enquanto o jogo do bicho entrava em crise, as maquininhas estavam na crista da onda.
A insatisfação do sobrinho já havia dividido a família e provocado uma busca de ambos os lados por PMs e policiais civis dispostos a garantir a segurança dos herdeiros. O estopim da guerra, entretanto, aconteceria em 1998, um ano após a morte de Castor. Paulo Roberto Andrade, filho do capo, foi assassinado dentro de seu carro quando esperava um sinal abrir na Barra da Tijuca. Bonachão, Paulinho, como era conhecido, não tinha um papel muito relevante nos negócios da família. O pai não considerava que o filho tivesse tino para os negócios. Como herdou a paixão pela Mocidade Independente, ficou com a escola.
Nos dias seguintes ao crime, especulações sobre uma guerra na família já apareciam nos jornais. Rogério Andrade veio a público dizer que os boatos eram “um absurdo”: “Como é que podemos fazer uma coisa dessas, se a família vive numa harmonia só? Ao contrário do que especulam, estamos correndo atrás para saber quem pode ter feito tal covardia”, disse à imprensa, chorando. Apenas dois meses depois, a Justiça decretaria sua prisão pela morte do primo. O bicheiro seria apontado como mandante do crime pelo assassino confesso de Paulinho, o ex-PM Jadir Simeone Duarte. À Justiça, o pistoleiro disse que Rogério Andrade teria mandado matar o primo porque Paulinho “estava causando vários problemas, pois não estava repassando o dinheiro do bicho para a família, estava enviando o dinheiro para o exterior, não estava pagando o 13º dos funcionários e também havia comprado um helicóptero para uso pessoal”. Para a polícia, no entanto, o assassinato teve como objetivo tirar mais um postulante ao espólio da cena.
Rogério Andrade chegou a ser condenado a 19 anos de prisão pelo crime em 2002, mas o julgamento foi anulado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2008 por falhas técnicas ocorridas no momento em que os jurados foram questionados sobre a autoria do crime. Em 2013, num segundo júri — que não contou com a presença do pistoleiro, morto enquanto cumpria a pena —, ele foi inocentado.
O homicídio de Paulinho desencadeou uma onda de assassinatos e atentados entre os grupos de Rogério Andrade e Fernando Iggnácio. Em novembro de 2005, por exemplo, capangas de Rogério Andrade roubaram um caminhão de lixo e o usaram para arrombar o portão de ferro da empresa de seu desafeto, em Bangu. Dentro da firma, foram jogadas granadas e uma troca de tiros aconteceu, sem feridos. Na véspera, homens de Fernando Iggnácio haviam invadido um açougue no bairro de Anchieta, na Zona Norte, e incendiado cinco máquinas do rival. As quebras de máquinas de ambos os grupos eram rotina em Bangu no início dos anos 2000. Para não chamar a atenção da polícia, Rogério Andrade usava códigos para se referir à prática quando falava ao telefone: em setembro de 2006, ao ordenar que um comparsa contratasse capangas para destruir caça-níqueis no Rio, o bicheiro disse, numa ligação monitorada pela Polícia Federal, que não queria nenhum “brinquedo na área em pé”. Para realizar a missão, Rogério Andrade mandou que o comparsa chamasse “garotos malucos que gostam de brincar na rua”.
Na guerra entre os rivais, policiais não eram só pagos para proteção. A Operação Gladiador, da PF, que culminaria com a condenação de ambos, revelou que Rogério Andrade prometia prêmios a policiais civis pela captura do rival. Depois de Fernando Iggnácio ser preso em sua casa em 2006, um policial civil contou a um colega, numa ligação monitorada, que a conta bancária do agente que fez a prisão “engordou uns trezentinhos” — ou seja, R$ 300 mil. Depois, ele ainda disse que outro agente ganhou ainda mais: “Engordou um pontinho filho, um pontinho. Três zerinhos (R$ 1 milhão). Só naquilo ali, cara. No alemão, no inimigo” — uma referência a Fernando Iggnácio. Em 2006, um levantamento da Secretaria de Segurança identificou mais de 80 policiais que prestavam serviços para os dois rivais.
Em setembro de 2008, a disputa teve como cenário o pátio da Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, Bangu 8. Os dois rivais estavam presos no local e trocaram socos durante o banho de sol perante uma plateia incrédula de presos, que incluía o deputado cassado Álvaro Lins e o ex-banqueiro Salvatore Cacciola. Por causa da briga, os dois foram transferidos para celas solitárias no presídio de segurança máxima de Bangu 1, sem direito a visitas. Eles seriam soltos pouco depois, beneficiados por habeas corpus.
Dois anos mais tarde, a guerra chegaria a seu episódio mais dramático. Em abril de 2010, uma bomba explodiu no carro em que Rogério Andrade trafegava pela Avenida das Américas. O explosivo foi plantado embaixo do banco do motorista, com o objetivo de matar o bicheiro. Mas era seu filho, Diogo Andrade, de 17 anos, que dirigia na ocasião. Rogério Andrade sofreu uma fratura na face e sobreviveu. Diogo morreu na hora. Outro crime com modus operandi parecido havia vitimado um segurança de Rogério Andrade apenas seis meses antes: o sargento reformado Ronnie Lessa — que hoje está preso pelo homicídio da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes — também sofreu uma explosão por bomba em seu carro quando saía de um batalhão da PM em Rocha Miranda, na Zona Norte. Os ferimentos causados pelo explosivo culminaram na amputação da perna esquerda de Lessa. Até hoje, as investigações não chegaram aos responsáveis pelos dois atentados.
A execução de Fernando Iggnácio no heliporto foi o último passo de um longo jogo de xadrez em que Rogério Andrade tirou do tabuleiro, uma a uma, as peças do adversário antes de dar o xeque-mate. Provas colhidas pelo MP mostram que, nos últimos quatro anos, os homens de confiança do genro de Castor de Andrade foram, um a um, sendo executados por grupos de sicários ligados a seu desafeto. As investigações dos crimes expõem um modus operandi em comum entre os matadores contratados: cada homicídio era precedido de meses de preparação, em que os matadores faziam um monitoramento metódico de cada passo das vítimas e adquiriam o material a ser usado na empreitada — armamento mais adequado, roupas e carros clonados.
Um dos grupos que tramaram, em meados de 2017, o assassinato de Fernando Iggnácio foi a quadrilha de pistoleiros mais temida do Rio, o Escritório do Crime — criado pelo ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto em operação policial na Bahia no ano passado. Dados extraídos, com autorização da Justiça, de contas de e-mails de um dos integrantes da quadrilha revelam que os sicários tinham o plano de alugar um apartamento no prédio onde Fernando Iggnácio morava para monitorar sua movimentação e preparar uma tocaia.
Os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) também descobriram a arma que seria usada na empreitada: uma metralhadora ponto 50, um dos armamentos com maior poder de destruição que existem. Foi feita uma pesquisa sobre ela na internet, em abril de 2018, pelo homem que herdou a chefia do grupo após a morte de Adriano: Leonardo Gouvêa da Silva, o Mad, preso em junho do ano passado.
Mesmo que não tenha sido capaz de matar Fernando Iggnácio, o Escritório do Crime ajudou a fechar o cerco promovido por Rogério Andrade contra seu rival. Segundo o MP, a quadrilha de matadores tirou do tabuleiro o chefe da segurança de Fernando Iggnácio, o sargento reformado da PM Anderson Cláudio da Silva, o Andinho, executado a tiros em abril de 2018 no Recreio dos Bandeirantes. Um relatório de inteligência do órgão afirma que Mad, o atual chefe do grupo, “trabalharia diretamente para o contraventor Rogério Andrade e sua função seria a de executar seus desafetos”. O documento aponta outros dois homicídios cometidos no ano de 2016 como obra do bando a mando do bicheiro. Nenhum deles foi esclarecido até hoje.
Os advogados de Rogério Andrade, Ary Bergher e Rodrigo Martins, fazem duras críticas à investigação que culminou na decretação da prisão de seu cliente pelo homicídio de Fernando Iggnácio. Segundo os defensores, o primeiro relatório final do inquérito remetido ao MP em março não mencionava Rogério Andrade — apesar das menções ao “patrão” coletadas ao longo da investigação. Em nota, Bergher e Martins afirmam que, depois de a DH enviar o resultado da investigação, “a Promotoria de Justiça apresentou manifestação recusando parcialmente as conclusões do delegado e, sem qualquer explicação plausível, praticamente ordenou a inclusão de Rogério Andrade como indiciado”. A partir daí, de acordo com a defesa, um novo relatório foi elaborado, e o nome de Rogério Andrade foi adicionado.
No início dos anos 2000, enquanto disputava o controle do jogo ilegal com Fernando Iggnácio em Bangu, Rogério Andrade resolveu expandir seus domínios para outras áreas da cidade. Com a morte de Emil Pinheiro, em 2001, o sobrinho de Castor de Andrade passou a explorar bingos e caça-níqueis no bairro antes dominado pelo antigo capo, a Barra da Tijuca. Destino de uma boa parte dos novos-ricos da cidade, a região era disputada pelos contraventores, mas a sede de Rogério Andrade prevaleceu. Durante a investigação do assassinato de Marielle Franco, o MP descobriu um sócio do bicheiro na exploração do bairro: Ronnie Lessa, ex-segurança de Rogério Andrade e acusado de executar a vereadora. Enquanto era investigado, Lessa foi flagrado convencendo — com sucesso — policiais civis da delegacia do bairro a devolverem máquinas caça-níqueis apreendidas num bingo clandestino que ele manteria em sociedade com Rogério Andrade.
Uma década mais tarde, o contraventor ampliaria ainda mais os territórios sob seu controle com seguidos assassinatos. Rogério Andrade anexou a seu império bairros como Jacarepaguá, Quintino Bocaiúva e Cascadura. Só faltava Bangu, que estava sob controle de Fernando Iggnácio até seu assassinato.
Em 2014, depois de ser beneficiado por um habeas corpus num processo em que foi condenado por formação de quadrilha, corrupção ativa e contrabando, Rogério Andrade assumiu o controle da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Logo mandou que um desenho de um castor fosse inserido no escudo da agremiação ao lado da tradicional estrela. O novo adereço decora a quadra da escola, em Padre Miguel, e já foi visto em vários pontos de seus desfiles de lá para cá. Graças a seguidas injeções financeiras do “patrono”, a Mocidade voltou a disputar títulos do Carnaval carioca e chegou a se sagrar campeã em 2017.
Ao contrário do tio, Castor de Andrade, que costumava responder ironicamente quando lhe perguntavam sobre sua atividade laboral em entrevistas, Rogério Andrade não se sente confortável quando lhe indagam sobre sua ligação com o jogo do bicho e a máfia dos caça-níqueis. Costuma se apresentar como “empresário”. “Eu tenho várias empresas: estaleiro, fazendas de café, imobiliária, mexo com festas. Vivo uma vida empresarial”, disse, numa entrevista que deu em 2015. À Justiça, Rogério Andrade tenta passar a imagem de bom cristão. Num dos processos a que respondeu, uma testemunha de defesa disse sobre o bicheiro: “Pessoa muito religiosa, um companheiro das missas de domingo e que tem prazer em praticar atos solidários, um indivíduo muito ligado à família”.
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