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Yeda está nas mãos do DEM

A entrevista abaixo é estarrecedora, saiu no Zero Hora e revela o descalabro que tomou conta do Rio Grande do Sul. Se a governadora Yeda Crusius (PSDB) tiver o mínimo de bom senso, abandona a ideia de concorrer à reeleição. Vai ser difícil para a tucana acabar o mandato, reeleger-se parece algo totalmente fora de propósito. Mas o mais curioso é que o mandato de Yeda parece estar nas mãos do DEM. Se o vice-governador democrata quiser, detona o governo tucano com dois ou três telefonemas para a imprensa... A seguir, a entrevista de Feijó.

“Tenho outros e-mails que são comprometedores”, diz Feijó
Vice-governador confirmou que repassou R$ 25 mil de uma concessionária a Bordini
Marciele Brum | marciele.brum@zerohora.com.br

Depois de passar o final de semana recolhido em Punta del Este, o vice-governador Paulo Feijó (DEM) retornou a Porto Alegre e confirmou ontem que repassou R$ 25 mil da concessionária de veículos Simpala dentro de uma mochila da sua academia a Rubens Bordini, o tesoureiro da campanha da governadora Yeda Crusius em 2006. O dinheiro não consta na prestação de contas da campanha.

O vice nega que tenha repassado e-mails à revista Veja, que na edição desta semana divulgou a troca de mensagens entre Feijó e Bordini acertando o repasse da doação de R$ 25 mil.

A seguir, a entrevista de Feijó a Zero Hora concedida ontem à noite por telefone:

Zero Hora – O senhor repassou em 2006 R$ 25 mil da Simpala para Rubens Bordini?

Paulo Feijó – Tenho esse e-mail onde aparece o Bordini respondendo “muito obrigado” pelos brindes. A Veja só colocou um pedaço do e-mail. Naquela semana, eu tinha inaugurado a minha academia. E dei para todo mundo que ia na academia como brinde um boné, uma mochila, uma garrafinha térmica. Daí, apareceram os R$ 25 mil. Não sabia que era em dinheiro. Eu mandei lá buscar. O que eu fiz? Melhorei o embrulho. Eu ia mandar o dinheiro para o Bordini mas não sabia por quantas mãos ia passar antes de chegar nele. Então botei dentro da mochila. Tenho o e-mail dele me respondendo “obrigado pelos brindes. Ainda bem que a embalagem estava mal e tu teve que melhorar”. O Marco Antonio Kraemer (gerente de relações institucionais da GM) não tem nada a ver com isso. Como meu amigo no meio empresarial, ele me disse: “Olha, uma revenda nossa quer contribuir com a campanha. É a Simpala”. Ele fez contato com a Simpala e marcou horário: pode procurar o fulano com telefone tal que ele vai contribuir. Mandei uma pessoa lá que esperava receber um cheque e recebeu o dinheiro. O que eu fiz? Não ia mandar um maço de dinheiro para o Bordini. Botei dentro de uma camiseta, dentro de uma mochila e disse: “Isso é brinde da academia, entrega para Bordini”. Bordini tinha de emitir um recibo eleitoral, entregar à Simpala e declarar na campanha.

ZH – O senhor repassou e-mails pessoais à revista Veja?

Feijó – Não entreguei.

ZH – Quem passou os e-mails?

Feijó – Qualquer pessoa que queira prejudicar o governo, a imagem da governadora e criar mais intriga. Ou alguém que queira demonstrar as realidades da campanha. Eu costumava mandar e-mails com cópia oculta. Qual era o meu elo? Falar com empresários. Se houvesse interesse (em fazer doações), comunicava ao Bordini. A operacionalidade de buscar e emitir recibo era do Bordini e não minha.

ZH – O senhor tem um arquivo de e-mails da campanha de 2006. O senhor liberou o acesso?

Feijó – Dei acesso a todas as pessoas que recebiam como cópia oculta. Não dei acesso ao que tenho guardado hoje.

ZH – Por que esses e-mails vieram a público neste momento?

Feijó – Quem está fomentando isso é quem deve responder.

ZH – O senhor denunciou irregularidades à Justiça Eleitoral?

Feijó – Não, porque não participei do segundo turno da eleição e do fechamento de contas. Esse não era o papel do PFL (hoje DEM) na época. Existia um acordo firmado entre o presidente do PFL, Onyx Lorenzoni, e a presidente do PSDB, Yeda Crusius, muito anterior à campanha. Esse acordo definia que o PFL não teria responsabilidade sobre nenhuma conta de campanha. Não precisávamos nem ajudar a captar dinheiro. Os únicos que prestavam as contas à Justiça era o PSDB, o Bercílio Silva (na época presidente em exercício do PSDB) e o Bordini. Talvez a Yeda. Fomos alijados do processo no primeiro dia após o primeiro turno. Nunca mais me chamaram. Pediram que me afastasse.

ZH – O que o senhor acertava por e-mail?

Feijó – Eu era presidente da Federasul. Tenho uma rede de contatos empresariais. Foi por essa razão que fizeram eu deixar a candidatura ao Senado para ser vice. Era para ter uma aceitação maior (de Yeda Crusius) no meio empresarial. E para fazer contatos. Tenho e-mails da Ipiranga, da Gerdau, da Copesul e de inúmeras empresas, pequenas, médias e grandes, que não são comprometedores. Agora, tenho outros e-mails que são comprometedores. Se quisesse tornar isso público, já tinha feito há muito tempo.

ZH – O que há de comprometedor nesses outros e-mails?

Feijó – É o mesmo tipo de e-mail que foi divulgado (pela revista Veja).

ZH – Quantos e-mails comprometedores o senhor têm?

Feijó – Não analisei a minha pasta. Não vou abrir centenas, milhares de e-mails e ler um por um, coisas de 2006.

ZH – Por que o senhor foi excluído após o primeiro turno?

Feijó – Pela minha maneira de administrar as coisas, de querer saber a origem dos recursos e onde eram gastos, como faço em qualquer empresa.

ZH – Faltava transparência na campanha?

Feijó – Totalmente. Na época, nunca foi apresentado a mim e a Onyx nada sobre o tipo de despesas.

ZH – O senhor pretende tornar público o material guardado?

Feijó – Não por meio de veículo de comunicação. Se for convidado ou convocado para ir em juízo ou a uma CPI, responderei tudo o que me perguntarem. O que não me perguntarem não vou responder.

ZH – O senhor tem relação com o lobista Lair Ferst?

Feijó – Nunca tive e não tenho. Conheci o Lair na campanha e no comitê do PSDB. Ele estava todo o dia lá. Às vezes, na noite, encontro ele num restaurante quando estou com a minha família. Já encontrei ele em uma festa. Não conversei com ele.

ZH – Lair teve acesso aos seus e-mails?

Feijó – Acesso ele poderia ter. Ele e qualquer um que pudesse entrar na sala onde estavam os computadores na campanha. Todos tinham acesso a qualquer informação. É muito fácil sentar numa máquina e copiar arquivos para um pen drive. Não precisa de senha. Se o outlook (software de correio eletrônico) está aberto, tu copias tudo. Sabia-se quanto entrava (de dinheiro), mas nunca tinha acesso a saídas. Perguntava para o Bordini o que seria pago na semana. Mas ele dizia que não podia informar.

ZH – O senhor quer derrubar a governadora Yeda Crusius?

Feijó – Absolutamente. Eu ajudei a elegê-la e não tenho interesse nem vontade disso. Entendo que o Rio Grande do Sul perde muito com tudo o que está ocorrendo.

ZH – O senhor teve acesso às fitas que foram divulgadas pelo PSOL?

Feijó – A parte delas.

ZH – Como teve acesso?

Feijó – Um amigo me enviou.

ZH – Qual é o conteúdo?

Feijó – Não quis receber nem ouvir. Não é do meu interesse.

ZH – Quem é o seu amigo?

Feijó – Uma pessoa que é ligada ao Lair. Não é amigo íntimo. Ele disse que tinha algo para me entregar. Sobre o que se trata? Gravações. Eu disse: não me interessa. Antes da Operação Rodin, também vieram me entregar gravações e provas. Aprendi uma coisa com o Ildo Gasparetto (superintendente da PF), que disse que, quando se torna público, prejudica a investigação porque as pessoas envolvidas deixam de falar no celular, no e-mail e queimam arquivos. Não sou caixa de recebimento desse tipo de informação.

ZH – O senhor é a favor de CPI para investigar o governo?

Feijó – Totalmente a favor. Como parte do Executivo, entendo que temos de ter a maior transparência. É só me convidar para ir que vou na CPI. Se não for política, agregaria.

ZH – O senhor acredita quemais e-mails virão à tona?

Feijó – Não posso responder isso. As pessoas que estão fazendo isso estão com muita consciência do que elas querem. E estão conseguindo.

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