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Números do Rio de Janeiro

Claro que é muito cedo para falar em eleição para os governos estaduais, mas não deixa de ser interessante a análise de Cesar Maia, ele mesmo diretamente interessado no assunto, sobre o cenário pré-eleitoral do Estado do Rio de Janeiro. Maia escreveu o que vai abaixo em seu ex-blog, a newsletter que o ex-prefeito distribui diariamente para quem se interessa em recebê-la. É um dos raros casos em que o analista é também objeto da análise. Ainda assim, vale a pena ler, dá um bom panorama da sucessão em terras fluminenses. Para assinar o ex-blog de Cesar Maia é preciso se inscrever no site do ex-prefeito.

O QUADRO ELEITORAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO!

1. Os partidos -nacional e regionalmente- e pré-candidatos começam a fazer pesquisas para governador (ERJ) em 2010. Hoje se tem um quadro de partida muito interessante pela incerteza generalizada. Nenhum dos nomes pode garantir que é favorito para ir ao segundo turno. Atenção: não é para ganhar, mas simplesmente passar para o segundo turno.

2. O PSDB, o DEM e o PPS estarão juntos em nível nacional e, no ERJ também o PV, todos em apoio ao Serra, candidato a presidente (supondo ser ele). A experiência de várias eleições mostra que uma forte candidatura a presidente alavanca a candidatura a governador. Em 1990 a eleição de governador foi solta. Em 1994 venceu FHC e no ERJ Marcello Alencar de seu partido. Em 1998 venceu FHC, mas sua base (PFL e PSDB) foi separada e com isso no primeiro turno a vinculação com o PSDB, em um candidato a governador que estava fora da disputa, prejudicou a ambos. Em 2002, Lula e Rosinha. Em 2006, Lula e Cabral.

3. Essa vinculação alavancadora impõe que a coligação no ERJ em torno de Serra não se divida e tenha um só candidato a governador. O presidente nacional do DEM já informou ao governador José Serra que o DEM deixa à vontade a coligação para escolher o candidato a governador e que só oferecerá um nome em última instância, quando e se solicitado pelos demais. Com isso as pesquisas devem trazer um nome só desta coligação (Gabeira, Denise e Maia) e oferecer listas alternativas.

4. A novidade é a queda do governador Cabral entre os eleitores de menor renda. Provavelmente pelo efeito combinado muro/truculência urbana/mortes em comunidades, com ênfase na capital. Garotinho ressurgiu e já é mais forte que Cabral no Interior e seu nome passou a existir na capital, nas áreas mais carentes. Alternando Cesar Maia e Gabeira vemos que a soma dos dois nas pesquisas anteriores se transforma em intenção de voto com um nome só nas atuais. Gabeira vai melhor que Maia na Capital, mas este vai melhor que aquele fora da Capital. No final a soma é a mesma.

5. A dúvida fica quanto à candidatura de Lindbergh, do PT. Hoje ele tem uns 7%, mas se chegar a 10% antes de junho do ano que vem, será provavelmente candidato a governador. Com esses 4 nomes, Cabral terá muita dificuldade de ir para o segundo turno. A publicidade na TV mostra sua ansiedade.

6. Os resultados surpreendem. Para uma expectativa de 20% de abstenção, brancos e nulos, dos 80% restantes, quando se apresentam 3 nomes: Cabral, Garotinho e Gabeira (ou Maia), o jogo está empatado em torno de 26%. Com Lindbergh a troca é inteira com Cabral e ficam Garotinho e Gabeira (Maia) com 26%, Cabral com 19% e Lindbergh com 7%. A coligação PSDB/DEM/PPS e PV avalia que com a puxada de Serra, seu candidato garante o patamar nestes 26% e pode crescer uns 5 a 7 pontos contra Cabral e Garotinho. Ou seja, 31% e Cabral e Garotinho entre 23% e 24%.

7. Esses são números ainda pré-grid de largada, mas que mostram que a eleição no ERJ será sem favorito e que a performance em campanha e a vinculação nacional serão decisivas.

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