Pular para o conteúdo principal

Serra e Aécio: factóide ou fato?

Está na boca do povo, depois de reportagem de Kennedy Alencar, da Folha de S. Paulo, que o PSDB vai para 2010 com chapa pura: o governador José Serra, de São Paulo, na cabeça, e seu colega mineiro Aécio Neves de vice. É uma chapa respeitável, fortíssima, e se confirmada deverá forçar o PT a criar um fato político forte para enfrentar a dupla.

O autor destas Entrelinhas desconfia que se de fato Serra e Aécio disputarem juntos a eleição, Lula terá que botar mais um cavalo na parada, a fim de evitar a vitória tucana no primeiro turno. Ciro Gomes (PSB) é a alternativa mais óbvia, porém há outros nomes hoje fora do baralho que poderiam entrar na mesa. Também seria necessário, neste caso, um esforço determinado para manter o PMDB na base de apoio de Dilma, neste caso o nome de Michel Temer como vice da candidata petista seria uma boa jogada, pois ele é talvez o mais hábil negociador que o partido dispõe e com o recall que a presidência da Câmara certamente lhe proporcionará, seria uma mão na roda na campanha eleitoral.

Uma hipótese que vem sendo levantada nos bastidores petistas é a de Lula ser o vice de Dilma. Não dá para levar muito a sério, este blog duvida que o presidente aceitasse o papel subalterno. Mais crível ainda é o terceiro mandato, e neste caso resta saber se Serra de fato parte para a guerra ou fica no Palácio dos Bandeirantes mais quatro anos. De qualquer forma, há sempre a possibilidade de uma jogada política nova e a vaga de vice de Dilma está aí para este tipo de manobra. Ninguém imaginava que José Alencar acabasse sendo o vice de Lula em 2002 (e muito menos que ele se posicionasse "à esquerda" do presidente durante os dois mandatos...), e é perfeitamente possível que o PT arme uma estrondosa jogada de marketing político para compor a chapa. Um nome como Pedro Simon, por exemplo, traria o componente "ético" que hoje o malandro Jarbas Vansconcelos se arvora no PMDB (e seria um golpe de morte nos sonhos do PSDB de compor com o PMDB gaúcho e rifar a "garota-problema" Yeda Crusius).

Tudo somado, é preciso primeiro esperar a confirmação da chapa Serra-Aécio e também a reação do DEM a este arranjos. Ultimamente, os dois partidos não têm falado a mesma língua, mas é óbvio que até 2010 muita conversa vai acontecer e é perfeitamente possível, até provável, que tucanos e demos estejam unidos, pois não há no DEM ninguém com densidade eleitoral para disputar a presidência. Confirmada a chapa tucana e o arranjo com os democratas, a bola volta para o PT, que vai precisar ser criativo e talvez pragmático o suficiente para jogar com mais de uma alternativa para a eleição presidencial. O jogo está só começando...

Comentários

  1. Nunca vi uma oposição sem criatividade como essa. Nesses quase 8 anos, apenas críticas, nenhum projeto, nenhuma alternativa.
    O Ciro diz querer correr sozinho. O DEM morreu com seu painho, graças a deus. Não acredito que o Temer aceite ficar abaixo da Dilma.
    A união de Serra e Aécio seria a única inteligente decisão do PSDB.
    Agora, uma coisa que eu não entendo mesmo é o medo que todos têm do Serra. Tudo bem ser a cara do Sr Burns, mas ele não começou como Ministro da Saúde e tinha um jeito de Dráuzio Varela?
    Por que todo mundo tem medo do Serra?

    ResponderExcluir
  2. Não acredito nessa notícia. Principalmente porque partiu da FSP, engajada na candidatura Serra com unhas e dentes.
    Creio que seja um balão de ensaio.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And