Pular para o conteúdo principal

Como manipular uma notícia

O que vai abaixo é uma matéria da Folha Online sobre a venda de automóveis em abril. A reportagem ganhou manchete do UOL, com o título "IPI reduzido não segura venda de carros em abril". O tom negativo das chamadas é evidente, mas a notícia revela um dado extremamente positivo, lá pelo meio da matéria: "No ano, já foram vendidos 866.382 automóveis e comerciais leves, resultado 0,14% superior ao registrado entre janeiro e abril do ano passado (865.172)."

Ora, se no primeiro quadrimestre de 2009 já foram vendidos mais carros do que no mesmo período de 2008, quando a economia estava bombando como "nunca antes neste país", então há alguma coisa errada com os títulos da Folha Online e do UOL. A notícia relevante é a de que apesar da crise, a indústria automobilística opera no azul, ao contrário do que ocorre nos paises mais afetados pela crise (EUA, especialmente), onde a produção e as vendas despencaram mais de 30%, em média. Para o pessoal da Folha, porém, o que interessa mesmo é vender uma crise muito mais grave do que a real (que já não é brinquedo). O que está por trás desta postura é simples: vontade de ver a popularidade do presidente Lula lá embaixo. O problema é que o povão não julga os fatos pelo que lê no jornal, como restou provado na eleição de 2006, mas pelo que de fato está acontecendo nas ruas. E se a turma está comprando carro como em 2008, tão mal as coisas não estão...

Venda de automóveis cai em abril mesmo com IPI estendido; veja ranking

KAREN CAMACHO
da Folha Online

A prorrogação dos descontos de IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) pelo governo não foi suficiente para manter as altas nas vendas de automóveis e comerciais leves em abril, segundo dados antecipados pela Folha Online. O desempenho ficou abaixo de março deste ano e de abril de 2008. No resultado por marca, a Fiat liderou o mercado.

Foram vendidos 224.411 automóveis e comerciais leves no mês de abril (sem contar caminhões, ônibus e motos), queda de 13,9% sobre março deste ano (260.924) e de 9,48% sobre abril de 2008 (247.926).

No ano, já foram vendidos 866.382 automóveis e comerciais leves, resultado 0,14% superior ao registrado entre janeiro e abril do ano passado (865.172).

Ranking

A Fiat foi a montadora com maior participação de mercado em abril (25,9%), considerando apenas automóveis e comerciais leves, à frente da Volkswagen (23,5%), General Motors (18,1%) e Ford (10,7%).

O carro mais vendido no período foi o Gol (VW), com 22.603 unidades. Em segundo aparece o Palio (Fiat), com 16.299 unidades, e, depois, o Uno (Fiat), com 13.766 veículos vendidos.

As medidas tomadas pelo governo --liberação de linha de crédito e redução do IPI -- tiveram efeito maior entre janeiro e março, mas o governo esticou os descontos até junho.

Veja ranking dos automóveis mais vendidos em abril:

1. Gol (VW) -- 22.603
2. Palio (Fiat) -- 16.299
3. Uno (Fiat) -- 13.766
4. Fox/CrossFox (VW) -- 11.554
5. Celta (GM) -- 9.762
6. Siena (Fiat) -- 9.255
7. Voyage (VW) -- 6.904
8. Corsa classic (GM) -- 6.713
9. Ka (Ford) -- 6.435
10. Fiesta (Ford) -- 6.092

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe