Pular para o conteúdo principal

Tanure desiste da Gazeta Mercantil

O comunicado abaixo saiu na primeira página da edição da Gazeta Mercantil que está nas bancas nesta segunda-feira. Na prática, o significado do comunicado é simples: Nelson Tanure, dono da editora JB S.A., está devolvendo a GZM ao antigo dono, Luiz Fernando Levy. O jornal poderá ser descontinuado se Levy não aceitar a devolução. Em entrevista ao jornal gaúcho , na sexta-feira, 22/05, o ex-dono da Gazeta afirmou que não gostaria de retomar o comando do jornal: “'Infelizmente está acontecendo, mas é bem complicado. O Tanure quer devolver, mas é uma coisa unilateral, por enquanto. No fundo a gente não desliga da Gazeta, mas pra mim é definitivo: a hipótese da minha participação não existe. É uma decisão pessoal, familiar. Não vou ter ações de uma empresa de comunicação!' Prossegue Levy: 'Algum tipo de solução vai ter que ter. Nada comigo. Evidentemente há esse espírito de renascer, eu estou disposto a contribuir. Mas tem que ver o que vai ser, não pode ser pior do que já foi. Minha participação? Pode ser num conselho editorial, num projeto sério. Mas sem envolvimento financeiro'”, disse o empresário ao jornal Já.

Claro, é só mais um capítulo de um imbróglio que já vem se arrastando há muitos anos e que não deve terminar com a recisão do contrato, anunciada no comunicado. O que pode acontecer no dia 1° de junho é a descontinuidade da edição da Gazeta, o que seria um golpe fortíssimo nas chances do jornal de se reerguer no futuro. A semana começa quente, muito quente, no setor de mídia brasileiro. A seguir, a íntegra do texto que está na primeira página da Gazeta.

COMUNICADO
A EDITORA JB S.A. comunica ao público em geral e aos assinantes e leitores do jornal
GAZETA MERCANTIL que a partir de 1º de junho próximo não mais responderá pela publicação daquele jornal por haver exercido direito contratual de rescindir o Contrato de Licenciamento de Uso de Marcas e Usufruto Oneroso (“CONTRATO”) celebrado por escritura pública de 16/12/2003, conforme Notificação, Interpelação e Protesto Extrajudiciais dirigidos (a) à Gazeta Mercantil S.A. (“GZM”), proprietária das marcas nominais objeto dos registros 817.972.242, 817.972.250 e 817.972.269 (Classes 11, 38 e 41) do Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI, e (b) às demais pessoas jurídicas e físicas integrantes do grupo econômico Gazeta Mercantil, partes no CONTRATO.

Na execução do CONTRATO a EDITORA JB S.A. observou os princípios da probidade e boa-fé que nortearam sua celebração, tendo cumprido suas obrigações contratuais com o grupo econômico Gazeta Mercantil, inclusive a de efetuar adiantamentos de recursos financeiros por conta dos royalties contratuais, de modo a propiciar à GZM
renda para solução de suas obrigações pecuniárias anteriores à celebração do CONTRATO, em sua maioria de natureza trabalhista -- adiantamentos que, por excederem aos royalties devidos, tornaram a EDITORA JB S.A. credora da GZM. Tais princípios, entretanto, deixaram de ser observados pela licenciadora na execução do CONTRATO, causando prejuízo à EDITORA JB S.A. e à normal exploração econômica das marcas objeto do CONTRATO, o que fundamentou a decisão de rescisão contratual.

A EDITORA JB S.A. já manifestou à GZM que está à disposição para colaborar no que estiver ao seu alcance para que o grupo econômico Gazeta Mercantil dê continuidade, sem interrupção, na publicação do jornal GAZETA MERCANTIL a partir de 1º de junho, reafirmando de público essa sua disposição de colaboração – que entende ser do interesse daquele grupo econômico, de seus funcionários, dos assinantes, dos leitores e do público em geral.

Ao fazer o presente comunicado sobre a rescisão do CONTRATO, com a retomada pela GZM
da posse direta das marcas nominais, a EDITORA JB S.A
(a) consigna sua convicção de ter,
como licenciada, contribuído para o fortalecimento e a modernização do jornal GAZETA MERCANTIL,
(b) agradece a confi ança, o apoio e a colaboração dos assinantes, leitores, funcionários,
anunciantes, fornecedores e agências de publicidade durante o período em que exerceu o direito de uso da marca Gazeta Mercantil para a publicação daquele jornal e
(c)
espera que a GZM e os demais integrantes do seu grupo econômico dêem continuidade à publicação do renomado jornal, preservando a marca e em benefício da mídia nacional.

Rio de Janeiro, 25 de maio de 2009

EDITORA JB S.A.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe