Pular para o conteúdo principal

Bolsa família é do Lula e ninguém tasca

Segue abaixo uma boa análise sobre os efeitos eleitorais no Bolsa Família, publicada originalmente na Agência Estado.

Analistas: Colar no Bolsa-Família terá efeito 'zero' para PSDB

De olho nas eleições 2010, os tucanos vão adotar a estratégia de defender a principal marca social de Lula

Andréia Sadi

SÃO PAULO - O presidente Lula é o principal obstáculo do PSDB na estratégia de defender o Bolsa-Família como bandeira eleitoral em 2010. O partido quer reivindicar a criação do programa, mas a ideia tem efeito "zero" em termos de voto já que, para a população, o único pai do programa é o presidente petista. " Não adianta vir com essa história de que verdadeiro pai do Bolsa-Família são eles(PSDB), isso não tem efeito nenhum para a população, é zero. Elas atribuem credito ao Lula, ao governo que estava ali no momento em que a vida delas melhoraram. Pegar bandeira emprestada não funciona", analisa o cientista político da UnB Leonardo Barreto.

Na semana passada, líderes tucanos fizeram um seminário na Paraíba onde o foco foi iniciar uma mobilização para desfazer a imagem de que o partido é contra políticas de transferência de renda, a principal marca social do atual governo. Um dos discursos é de que o Bolsa-Escola, idealizado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, "foi a mãe do Bolsa-Família". "O que você tinha no FHC era um conjunto de projetos e que Lula centralizou todos esses planos em um único marketing, numa única política. O criador é o Lula, foi o governo dele que fez. A filosofia da transferência de renda pode até ter nascido com FHC, mas quem centralizou foi o Lula", rebate o cientista político.

Para José Alvares Moisés, da USP, o PSDB, como oposição, não soube demonstrar claramente, não soube fazer a batalha para indicar que isso era uma política que tinha sido feito por um governo anterior e defende que o partido estabeleça limites para o programa, mesmo com fins eleitorais. "Precisa mostrar seu alcance e seu limite.

Oposição tem de ter coragem de dizer que 'sim, vamos manter o Bolsa-Família' até que alcancemos um tal nível de desenvolvimento. Ninguém vai perder votos por colocar metas, não é pecado. Governo Lula acabou de colocar metas, no caso da poupança. Adotar isso como política permanente, não mostrar o seu limite e sua insuficiência, é uma irresponsabilidade, seja do PT ou do PSDB", explicou.

Porta de saída
Uma das principais críticas do programa é a de que ele não oferece "porta de saída" para os seus beneficiários. E, para o analista da USP, a falta de oportunidades cria uma clientela que depende do programa. "É visível por toda nossa experiência e tradição que isso rende votos. Pode ser a base de um novo clientelismo, você cria uma clientela que passa a depender do BF, que se alimenta melhor, renda melhor mas como não tem oportunidade, nem estimulado a entrar no mercado de trabalho não é cobrado acaba se acomodando a essa situação e recebe e em troca de receber dá voto. É clientelismo clássico. Como escapar disso? Se você admitir publicamente que o programa é provisório", defende.

Falta de apoio

O Bolsa-Família, quando do seu lançamento,em 2003, estava longe de ser uma unanimidade. Dos 27 governadores, apenas quatro além de 2 interinos, compareceram à solenidade. Nem mesmo os então governadores petistas de Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, e de Roraima, Flamarion Portela, compareceram ao evento.

Entre os principais críticos do programa, embora em tom moderado, estavam os tucanos, como Aécio Neves, José Serra e Tasso Jereissati, então presidente do PSDB. No entanto, a mais de um ano da eleição presidencial de 2010, o discurso amenizou e os ataques de "falsa caridade, assistencialismo" deram espaço à intenção do partido de defender o Bolsa-Família e propor, inclusive, a sua ampliação.

Comentários

  1. Laércio Costa Nunes21 de maio de 2009 às 21:33

    Para variar, a agência Estado "esqueceu" de dizer que o "analista da USP" foi assessor do Ministério da Cultura no governo FHC.

    ResponderExcluir
  2. O idealizador da transferência de renda em nível partidário foi Eduardo Suplicy na década de 80, tendo o PT transformado em programa de governo na década de 90. Implementado em várias prefeituras e governo do DF de Cristóvam Buarque, neste estado se denominou bolsa-escola e correspondia a um salário mínimo por família com filhos estudando. FHC fez uma péssima cópia, colocando 15 por estudante, e mesmo assim não atendendo nem perto do universo que havia. É importante sempre lembrarmos essa história, para que o PSDB não a burle mais uma vez.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...