Pular para o conteúdo principal

Plágio na Veja

No portal Comunique-se, mais uma lambança da revista Veja:

Veja copia partes de matéria do Wall Street Journal sem citar fonte

Da Redação

A reportagem de capa da edição de 22/04 da revista Veja traz uma matéria coordenada muito parecida com um artigo, publicado quase um mês antes, pelo jornal americano The Wall Street Journal (WSJ). Tanto a estrutura como trechos do texto são idênticos. Questionada pelo Comunique-se, a repórter Gabriela Carelli negou a ocorrência de plágio.

“A gente falou com os pesquisadores, a gente fez a nossa própria apuração. A notícia é a mesma, a pesquisa é a mesma. Podem ter ficado parecidas. Foram três meses fazendo a matéria, ouvi 50 mil fontes, o box foi fechado de última hora. Não houve a intenção de fazer mal a ninguém”, explica.

A matéria em questão foi publicada num box com o título de “Genes no combate ao crime”. Ela trata da utilização de traços genéticos na elucidação de crimes, mesmo tema do artigo “Descrevendo um ladrão: genes traçam aparência de suspeitos”, publicado pelo WSJ em 27/03.

As similaridades foram percebidas pelo leitor Edgar Zanella Alvarenga, que publicou num blog uma troca de e-mails com a Veja. Nas mensagens, a revista dá a mesma explicação que foi dada ao Comunique-se, de que as informações estão disponíveis no site da universidade.

Dentre os trechos “parecidos”, existe uma declaração que, no texto da Veja, aparentemente teria sido dada pela pesquisadora da Universidade da Pensilvânia Pamela Sankar.

“‘Há uma perigosa tendência a fazer correlações entre etnia, crime e predisposição genética’, alerta Pamela Sankar”, diz a matéria da Veja.

Fonte nega ter sido procurada
Questionada pelo Comunique-se, a pesquisadora negou ter sido procurada pela Veja. Ela afirma que as informações publicadas pela revista foram baseadas em entrevista dada a um repórter do WSJ. No jornal americano existe a seguinte passagem: “Algumas pessoas podem fazer correlações entre raça, crime e disposição genética”.

Além da não citação da fonte, a reportagem da Veja traz um erro. No jornal americano essa declaração foi atribuída ao pesquisador da Universidade de Tilburg, na Holanda, Bert-Jaap Koops.

A repórter da Veja reconhece não ter procurado a pesquisadora e, como justificativa, diz que tal procedimento é usual na revista.

“Fulano fala tal coisa, eu não tô dizendo que ele disse a mim. Quando fala pra gente, a gente coloca: disse à Veja. Às vezes a gente pode pegar, isso não é um plágio”, explica.

Apijor: "moralmente condenável"
Para o diretor da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual dos Jornalistas Profissionais (Apijor) Frederico Ghedini, a determinação do que é ou não plágio no jornalismo é subjetiva. Diferente de outras manifestações, como a música, onde a cópia é definida pelo número de compassos iguais em sequência, o texto jornalístico depende da intenção de quem copia.

“No texto não tem esse tamanho. Mas mesmo que você não classifique, dá para saber quando é feito com a intenção de enganar o leitor, de se fazer passar pelo que você não é. Agora, mesmo que não configure crime de direito autoral, é moralmente condenável utilizar qualquer citação sem informar a fonte”, explica.

Seguem algumas passagens parecidas das duas matérias (os textos do WSJ estão em inglês para evitar possíveis desvios de tradução):

WSJ: “In 2004, police caught a Louisiana serial killer who eyewitnesses had suggested was white, but whose crime-scene DNA suggested -- correctly -- that he was black”.

Veja: “Pelos relatos de testemunhas, ele seria branco. No entanto, as amostras de DNA coletadas pelos investigadores diziam – corretamente – que era negro”.

***

WSJ: “They have found six genes that seem to influence such traits. (…) Prof. Shriver hopes to create a modern-day version of the police artist sketch”.

Veja: “Os pesquisadores encontraram seis genes relacionados às feições que podem ajudar a elaborar os retratos falados de criminosos”.

***

WSJ: “In 2007, a DNA test based on 34 genetic biomarkers developed by Christopher Phillips, a forensic geneticist at the University of Santiago de Compostelo in Spain, indicated that one of the suspects associated with the Madrid bombings was of North African origin. His body was mostly destroyed in an explosion. Using other clues, police later confirmed he had been an Algerian, thereby validating the test results”.

Veja: “Há dois anos, a polícia espanhola usou a mesma tecnologia para encontrar o suspeito dos atentados terroristas que destruíram uma estação de trem em Madri, em 2004. O teste genético feito nas amostras de DNA indicou que um dos participantes seria natural do norte da África. Outras provas validaram o resultado: ele era argelino”.

Comentários

  1. Toda vez que eu penso que a credibilidade da Veja é zero, ela se supera...

    E tem mais: esse é o tipo de jornalista com diploma que os corporativistas tanto defendem. Tomem vergonha na cara.

    ResponderExcluir
  2. Eu adoro a veja, acho que o pessoal de lá acertou em cheio um nicho de mercado. Pense comigo: você tem uma vida corrida, trabalha, tem um monte de problemas. Ai você ainda tem que ler revista, jornais, etc para ter uma opnião? que coisa trabalhosa, tediante, sem dizer coisa do século passado. Muito melhor você comprar veja que já vem com uma opnião de "ultra-direita cheirando nafitalina" pronta, não é uma maravilha? Só que agora a concorrência está mais acirrada, o jornalões também estão atrás dessa fatia, então o que ela faz?? inova, claro!! Você compra a revista veja, ganha a opnião e "de grátis" sem nenhum custo adicional, você tem matérias de vários jornais.
    Gênios!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe