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Veja e não coma...

Abaixo, mais um artigo do autor do blog para o Observatório da Imprensa. Sobre a revista Veja, esta maravilha do jornalismo brasileiro.


    LEITURAS DE VEJA
    42 páginas para perder peso, tempo e inteligência
    Por Luiz Antonio Magalhães em 26/5/2009
    A revista Veja desta semana (edição 2114, data de 27/05) dedica a sua capa a uma reportagem de incríveis 42 páginas editoriais (considerando os anúncios, são 57 páginas) intitulada "Emagrecer pode ser uma delícia". Sim, deve ser uma delícia, até porque a concorrente Época também deu capa, na semana anterior (edição 574, de 16/5), para matéria bastante parecida – "Comer para viver melhor".
    No caso de Veja, porém, trata-se de um arrazoado que ganhou um status diferenciado, qual seja o de "Especial Mulher". É claro que os homens são mais gulosos e relapsos, mas não parece ter sido este o critério da Redação para a identificação da pauta com o gênero feminino. Ao longo das 57 páginas do tal "Especial Mulher", os anúncios são todos dirigidos ao público feminino, à exceção de um, do automóvel Outlander, da Mitsubishi. Os anunciantes "compareceram" e a pauta saiu do forno. Redação e Departamento Comercial, irmanados, produziram um belo material de utilidade pública para a mulher moderna que compra ou assina a Veja.
    Letras miúdas
    Nada será como antes. Agora é possível saber que dá para "comer bem sem culpa" ou então anotar a receita de um "franguinho básico com jeito húngaro". A revista informa também que restaurante por quilo pode ser um senhor ajudante para controlar a balança, desde que obedecida uma certa "regra de três" nos pratos. E apresenta também histórias muito humanas de gente como Luciana Gimenez (vive no regime) e seu marido Marcelo de Carvalho (não vive sem picanha), Deborah Secco (tomou anfetaminas para perder peso) e de uma durona nutricionista escocesa que examina até as fezes de seus, digamos, clientes para averiguar se eles não saíram da linha.
    De fato, Veja conseguiu presentear suas leitoras com um projeto muito especial, especialíssimo. No ponto alto da edição, aparecem duas geladeiras abertas, uma com substâncias (não dá para chamar de outra coisa) que perfazem 7 mil calorias, e a outra, de gente normal, contendo 70 mil calorias. Entre as duas geladeiras, um anúncio esperto da linha de produtos Becel (leite, iogurte e margarina que reduzem "a absorção do colesterol dia após dia*"). Nas letrinhas miúdas e publicadas na vertical, a explicação do misterioso asterisco da propaganda: "* seu consumo deve estar associado a uma dieta equilibrada e a hábitos de vida saudáveis").
    Tudo somado, resta dizer que é realmente bonito quando o trabalho da Redação complementa com tanta felicidade precisão a competência da turma do Departamento Comercial. Só não é jornalismo.

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