Pular para o conteúdo principal

Uma boa análise sobre o Datafolha

É muito raro acontecer, mas este blog vai reproduzir abaixo a análise do direitoso Reinaldo Azevedo sobre os números do Datafolha divulgados hoje. Ideologias à parte, é uma excelente análise. E uma ducha de água fria nos direitosos mais afoitos... Vale a pena ir até o fim do texto.

DATAFOLHA 1 - COMO ENTENDER A QUEDA NA POPULARIDADE DE LULA. E AS ELEIÇÕES

No post abaixo, estão os números do Datafolha sobre a popularidade de Lula. O mais importante: A taxa de aprovação caiu de 70%, em novembro do ano passado, para 65%.

Petralha, como um ser óbvio, imagina, claro, que vou dizer aqui que a derrocada do Apedeuta começou, que agora é ladeira baixo, daí para o oblívio. Mas eu direi quase o contrário: os números só demonstram como Lula foi eficiente em se descolar da crise. Hesitou um pouco, tentou negar o óbvio, com a sua “marolinha”, e depois se empertigou, deu-se conta do tamanho do desastre da economia mundial e se dedicou a seu esporte predileto: encontrar culpados. Ensaiou uma demonização do empresariado, que começou a demitir, mas logo mirou nos Estados Unidos e nos especuladores. E está sendo bem-sucedido.

Antes que continue numa análise que é política, cumpre observar que, com efeito, a dinâmica da economia brasileira faz com que o tombo do crescimento seja grande, mas, para as camadas mais pobres, o pouso tem sido e continuará lento. A crise faz cair a inflação, o que garante o poder de compra do salário mínimo, que voltou ao topo se medido em cesta básica. É evidente que isso tudo conta na avaliação positiva. E há, sabemos, o, chamemo-lo assim, talento de Lula para a política nas circunstâncias e condições em que ela é feita no Brasil (não esqueçam deste ponto porque vou retomá-lo adiante).

Tudo isso explica a pequena variação negativa no seu prestígio, elevadíssimo ainda assim. A questão nem tanto é saber por que caiu um pouco, mas por que continua tão alto. A resposta, nesse caso, é bem mais simples. Em primeiro lugar, a oposição não tem rosto, e os rostos personalizados da oposição, nas questões que contam, são quase todos variações em torno do mesmo Lula. Fica-se diante de um círculo que se vai auto-alimentando: ninguém bate em Lula porque ele é popular, e, em parte ao menos, ele é popular porque ninguém bate em nele. Jamais um presidente foi tão preservado de seus erros como o petista. O governo surge, inclusive em boa parte da imprensa, como aquele que só acerta.

Convenhamos: também esta não tem sido das mais críticas — parece haver um questionamento mais ou menos silencioso que poderia ser assim expresso: “Se a oposição não se opõe, por que a imprensa vai fazer esse trabalho?” Não é uma indagação infundada. Querem um exemplo? Há dois meses, Lula, Mantega e Dilma diziam que o país iria crescer 4%. Hoje, a expectativa oficial é de 2%, e poucos acreditam nela. Nem oposição nem imprensa cobram do governo o erro de análise. Unida, a nação se dá por satisfeita se não houver recessão. Essa passou a ser a nova medida do acerto. Numa variante do patriotismo, estamos todos contra a crise, é claro. E há um certo sentimento de que a convicção firme pode afastar o perigo. É mais fácil, em certos círculos, acreditar em pensamento positivo do que em Deus...

Isso é ruim?
Esse "patriotismo" nem é, em si, ruim. Mas convenham: é uma situação nova, não? Só Lula pôde experimentá-la. Como era com os outros presidentes — com FHC em particular? Quando foi que o PT, então na oposição, deixou de atribuir ao tucano a inteira responsabilidade pelas crises? Nunca! Elas estouravam lá fora, e logo se dizia que o Brasil padecia porque, por aqui, só havia ou incompetentes ou salafrários. Em cinco meses, vimos evaporar mais de 700 mil empregos. Mas não havia ninguém para encostar Lula na parede.

O PT CONSTRUIU UM LUGAR ÚNICO NA POLÍTICA BRASILEIRA, QUE LHE FOI FACULTADO PELAS LICENÇAS ESPECIAIS QUE LHE CONCEDEM OS ADVERSÁRIOS. Caso se eleja um tucano em 2010, e o país passe a enfrentar dificuldades vindas de fora, alguém aí dúvida de que os petistas botarão a boca no trombone, acusando o presidente de incompetência e/ou desvios éticos? Alguém aí duvida de que, fosse um tucano ou um democrata o presidente, as mais de 700 mil vagas fechadas teriam se transformado em passeatas da CUT, com acusações as mais severas ao mandatário?

Ninguém duvida. E não! Eu não acho esse um bom modo de fazer política. Essa é uma das minhas muitas contraposições ao partido — que, atenção!, nesse particular, continua rigorosamente o mesmo. “Sorte deles”, alguém diria. “Se são competentes no trato da coisa política, fazer o quê?” Não é bem assim. O uso, por exemplo, da máquina sindical para endossar governos aliados e atingir governos adversários é puro lixo ético.

Silêncio e 2010
Volto ao ponto. Que, dado o contexto, Serra e Aécio evitem enfrentar o governo — ou enfrentar Lula —, compreende-se. Que os oposicionistas no Congresso, o PSDB em particular, façam o mesmo, aí já me parece um caso de inapetência. O governo é senhor absoluto da agenda — e a crise, no que respeita à política propriamente, tem sido até positiva para o Planalto: o clima é de “não podemos nos dividir”.

Então 2010 já está no papo, e Lula faz seu sucessor, já que nem a nova desordem mundial parece abalar o seu prestígio? Bem, aí a coisa já é um tanto diferente. O tal “talento” de Lula, de que falo no segundo parágrafo, é um ativo político gigantesco, mas também traz contratempos. Ele é um fenômeno irrepetível. Transferirá, sim, parte do seu prestígio para o candidato (ou candidata) do governo, mas não tem um sucessor político natural. E não há como construí-lo artificialmente. Os petistas gostariam que a luta de 2010 se desse entre “o (a) escolhido (a) por Lula” e o anti-Lula, mas não creio que seja possível consolidar esse confronto, especialmente se o candidato das oposições for José Serra. Sua biografia política, vejam só, está mais ajustada à metafísica do social, tornada tão influente, do que a da própria Dilma Rousseff.

Mas que se note: o fato de o prestígio de Lula não implicar eleição fácil da candidatura que ele ungir não dispensa a oposição de fazer oposição. Se continuar de bico calado, os eleitores ficam sem distinguir cítara de flauta, como diria o Apóstolo Paulo.

Comentários

  1. Desculpe, cara, eu não consigo ler isso.

    ResponderExcluir
  2. Toda esta analise para defender Serra contra Aecio. Reinaldo e' "agente" do Serra. Serra se alinhou a veja e a veja fara tudo para Serra ser o candidato natural do partido.
    Reinaldo chega ate ser benevolente com Lula pois o inimigo agora e' outro seu nome e' Aecio Neves.

    ResponderExcluir
  3. Vc concorda só porque ele falou que a notícia é boa pro Lula. Quem disse que esse é o auge da crise? Vamos ver como vai estar o desemprego daqui há 6 meses.

    ResponderExcluir
  4. Mais um caso da midia de direita pautando a oposiçao (de direita) sem rumo.
    O PT é favorecido pela midia!?
    E, sim, a popularidade do Lula nao cai porque a vida da populaçao melhorou e continua melhorando nesta crise, mesmo com as demissoes do final de 2008, mesmo que a gente nao cresça 4%.
    Mas o sujeito tem razao: a oposiçao nao tem proposta e só consegue torcer pelo pior para ter chances em 2010.

    ResponderExcluir
  5. Pô. Esse cara é um imbecil

    ResponderExcluir
  6. Desculpa, só li o primeiro parágrafo. Não consigo ler o eduardo guimarães, vou ler um merda deste?
    abraço. Sugiro que resuma em duas linhas.

    js

    ResponderExcluir
  7. O Reinaldão reclama, muita gente reclama, mas quem realmente começou essa história de se querer culpar a situação externa pelas crises vividas aqui dentro foram PSDB, PFL e FHC em pessoa. Para tentar minimizar os bons resultados de nossa política econômica recente e, principalmente, salvaguardar o fiasco de FHC, repetiam "ad nauseam" que Lula ia bem por causa do bom momento internacional e que o seu antecessor só se dera mal porque não teve a mesma sorte. Ora, se isso era verdade, por que alguém responsabilizaria Lula por o país sofrer (muito pouco em minha opinião) por uma crise externa muito, mas muito maior do que qualquer outra da era FHC?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe