Pular para o conteúdo principal

Jorge Rodini: o nome do jogo é...

Em mais um comentário para o Entrelinhas, Jorge Rodini, diretor do instituto de pesquisas Engrácia Garcia, analisa um certo jogo que vem sendo disputado com afinco em Brasília. Abaixo, a crônica do aprendiz de jogador.

Há tempos tenho vontade de jogar num cassino. O problema é que, não havendo cassinos legais no Brasil, não sobrando dinheiro para me aventurar no exterior e não gostando de jogar baralho a dinheiro, não me resta outra alternativa senão esperar.

Pode ser que o Governo implante o jogo legal em alguma área maravilhosa do Nordeste. Ou no Sul. No Rio, que coisa linda. Ou , melhor ainda, em São Paulo, muito mais perto para mim.

Quero jogar apenas algumas vezes. Sentir o risco de ganhar ou perder da roleta. Pensar em fórmulas matemáticas e liquidar o cassino, mesmo que uma vez solitária. E, depois de ganhar, parar. Porque senão vou perder o que ganhei e o que ainda nem faturei com meu trabalho.

Mas vou viajar com o dinheiro do meu esforço. Com passagens aéreas emitidas a partir de dinheiro proveniente da minha conta. Bancar as despesas de viagem com a sobra da minha renda. Afinal sou um brasileiro normal, que vive do seu trabalho e paga os impostos, direta ou indiretamente, ao governo para que este realize, idealmente, ações sociais , educacionais, de saúde e de infraestrutura.

Pois é! Sou idealista também, esqueci de dizer. Como a maioria dos brasileiros, que sonham em consumir, estudar , educar seus filhos e ter uma vida pacata e segura.

Alguns não pensam como nós, simples mortais. Jogam há muito tempo. O nome do jogo é trivial. Brincam em grupos. Saem do Planalto para ir se divertir próximo aos Lençóis. Voltam ao Estado querido e dizimado. Mas retornam às custas do dinheiro da Viúva. E do nosso... imposto suado, às vezes parcelado.

Passagens aéreas grupais. Nomes conhecidos, lugares disputados no maior vigor. O nome do jogo é Política.

Agora com a ascensão do Todo Poderoso, apareceram as máculas. Os disparates. Os inúmeros diretores. As contas de celulares para parentes. O nome do jogo passou a ser Rixa.

Não quero pertencer a Câmara Alta. Nem poderia, como a maioria do pagadores de impostos não pode. Só queria jogar meu solitário jogo uma vez. O nome deste nosso jogo é Trabalho.

Como brasileiro, sinto muito pelo que se transformou a nossa representação. Alguns destes representantes não poderiam denegrir seus estados, decepcionar seus eleitores. Mas o nome do jogo é Engodo.

Espero que todos estes jogadores em referência percam. E muito! Que nunca mais recuperem seus votos, sua credibilidade, sua decência. E que devolvam estes valores para o erário. Mas aí é ter fé demais. Talvez continuem jogando indefinidamente. Para sempre.

O nome do jogo é? Bingo, acertamos: Pif-Paf!

Comentários

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...