Pular para o conteúdo principal

Juros: o debate vai mudar

Se o "calcanhar de Aquiles" da gestão Lula para muita gente sempre foi a política monetária, comandada pelo ex-deputado tucano Henrique Meirelles, a partir de agora este debate vai mudar. Com a taxa Selic em 11,25% e apontando para baixo, é altamente provável que a partir da próxima reunião do Copom, no final de abril, o juro real brasileiro fique na faixa dos 5%. A taxa nominal será a mais baixa da história (a Selic foi criada em 1996) e apenas em tempos de hiperinflação o juro real ficou abaixo dos 5% porque a inflação era tão alta e crescia tão rapidamente que os juros acabam negativos.

É bastante provável que o Banco Central prossiga, depois de abril, a política de diminuição da taxa básica, o que levaria o país a ter um juro real inferior a 5% em 2010. O discurso do "juro mais alto do mundo" brandido hoje pela oposição não fará mais sentido. Ao contrário, o governo Lula terá sido o que mais reduziu a Selic na história do país – isto pode até acabar virando mote da campanha de Dilma Rousseff.

É bom a oposição começar a pensar no assunto, porque essa história de dizer que o tucano Meirelles joga mal não apenas revela a hipocrisia em criticar "um dos seus" (privadamente, tucanos e democratas adoram elogiar Meirelles, que recebe pau mesmo é dos integrantes de partidos de esquerda), como também vai acabar se revelando uma péssima estratégia.

Este blog avalia que Meirelles poderia, sim, ter começado a abaixar a taxa de juros mais cedo, mas não vê nas ações do BC nenhuma grande barbeiragem. O país caminha para um juro básico civilizado que deve proporcionar maior fomento ao crédito e à produção. No fundo, Fernando Henrique Cardoso tem certa razão quando diz que a oposição precisa encontrar um discurso, hoje não tem nenhum. No campo conservador, mais gente vem fazendo esta advertência: do jeito que a coisa vai, será muito difícil derrotar a candidata de Lula.

Comentários

  1. O outro ponto vulnerável do governo Lula - e bota vulnerável nisso - atende pelo nome de Daniel Dantas.
    Só que esse é o ponto fraco de TODOS os partidos, da extrema direita à extrema esquerda. Todos têm telhado de cristal, inclusive o PiG, o Partido da Imprensa Golpista, termo criado por PHA.
    Assim, não há como os demotucanalhas atingirem Lula nesse ponto sem atingirem - fortemente - a si próprios.
    É como uma arma poderosa que dá dois tiros, um para frente e outro para trás. Atinge o alvo e o atirador.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...