Pular para o conteúdo principal

Lúcia e o PF tucano

Uma boa análise da jornalista e cientista política Lucia Hippolito sobre um assunto polêmico: as prévias tucanas. Este blog subscreve o comentário de Lucia e adiciona: Fernando Henrique Cardoso, sempre tão hábil politicamente, está perdendo a mão e a chance de atuar como um magistrado no PSDB. Do jeito que a coisa vai, Serra será candidato e Aécio não trabalhará por ele em Minas. Meio caminho andado para Dilma ou qualquer outro postulante do bloco governista liquidar a fatura e das sequência ao governo Lula por mais 4 anos, pelo menos.

Aécio e o prato feito

O governador Aécio Neves foi chamado para uma conversa com o ex-presidente Fernando Henrique, para ser apresentado a um fato consumado.

O PSDB de São Paulo e parte da cúpula do PSDB nacional estão querendo empurrar pela goela do governador mineiro abaixo a inevitabilidade da candidatura do governador José Serra à presidência da República.

E Aécio já declarou que não é assim que a boa política deve ser feita.

(Em política, os paulistas são meio rombudos mesmo. Pouco habilidosos. Isto em todos os partidos.)

Aécio Neves governa o segundo maior colégio eleitoral do país. É muito bem avaliado, tanto ele quanto seus dois governos em Minas. E tem um carisma danado.

Em Minas Gerais, é impressionante a muralha de apoio a Aécio Neves.

Isto não é razão suficiente para que seja ele o candidato. Apenas ele não pode ser atropelado.

A idéia das prévias no PSDB é excelente. Se ele vencer – não se esqueçam do exemplo Barack Obama – ótimo, sai candidato. Se não vencer, bom também. O partido terá passado por uma prova de democracia interna, e Aécio terá uma saída honrosa. Uma satisfação a dar ao povo de Minas.

O que Aécio não pode é, simplesmente, não disputar.

De outro lado, tudo o que o governador José Serra não precisa é ter Minas Gerais contra ele. É um eleitorado grande demais para Serra se dar ao luxo de dispensar.

Recusar-se a participar das prévias é péssimo para Serra, porque confirma a opinião que persegue o governador até hoje: a de que Serra só entra para ganhar. Uma espécie de menino mimado que é o dono da bola. Se ele não jogar, ninguém joga. E ele leva a bola para casa.

A argumentação de Fernando Henrique é a de que os governadores não podem viajar pelo Brasil pregando as prévias, porque “têm que trabalhar”.

Isto não se sustenta minimamente. É claro que os governadores podem trabalhar muito e podem, também, viajar no final de semana pelo país. Afinal, não estamos mais no tempo da República a vapor.

Essas viagens serviriam, inclusive, para levar a palavra do PSDB como forma de despertar a militância. De mostrar que o partido está vivo. Que tem projeto. Que tem bandeira. Ser um contraponto nacional à campanha que a ministra Dilma vem fazendo junto com o presidente Lula.

O que não se pode é apresentar ao governador de Minas Gerais um prato feito.

Quem garante que o governador José Serra é o candidato preferido dos brasileiros? Pesquisas realizadas com um número muito reduzido de entrevistados, e a mais de um ano das eleições, querem dizer muito pouco. É um risco confiar nelas.

Não se esqueçam de que, um ano antes das eleições de 1989, Leonel Brizola já estava encomendando o terno para a posse... E não chegou ao segundo turno.

Cinco meses antes das eleições de 1994, Fernando Henrique não tinha 10% das pesquisas, Lula estava praticamente eleito. E Fernando Henrique derrotou Lula e foi eleito no primeiro turno.

Eleição é salto triplo sem rede. É muito arriscado contar com resultados tanto tempo antes.

Se o candidato tucano sair do consenso do partido, tem alguma chance. Mas se for imposto na base da birra, o partido pode se preparar, porque vai perder de novo.

E será bem feito!

Comentários

  1. Ótima análise!
    Não é possivel que um ex-presidente da república, que teve 2 mandatos presidencias, ainda não aprendeu o jogo da política. Acha que somente 2 meses de camanha serão necessários para convencer as pessoas que o Serra é o candidato ideal. Como concorrer com uma candidata indicada pelo atual presidente que mantem niveis altissimos de aceitação??? O PSDB precisa começar a se mexer, a fazer barulho e apresentar os seus candidados a sociedade com as suas propostas e deixar que uma prévia decida quem irá concorrer com a Dilma. A menos que eles tenham uma cartinha na manga. Algum escandalo que seja muito pior do que o mensalão para poder abalar o PT. Ou ficar torcendo pra que aconteça um desastre na economia e assim, colocarem a culpa no presidente. Mas isso seria muito sarcástico e ninguém levaria vantagem, muito menos nós, meros eleitores.

    ResponderExcluir
  2. Hehehe, como dizemos aqui nos pampas: briga de bugios.

    ResponderExcluir
  3. Me perdoem, mas a Lúcia, q não é tão jornalista e nem tanto cientista política, vaga no óbvio: ou Serra se acerta com Aécio ou Minas já era em 2010. Mas pedir a Serra e FHC - o Farol de Alexandria - q se sujeitem ao desejo - LEGITIMO - de Aécio é pedir demais. Afinal Aécio é só um político de província.

    ResponderExcluir
  4. FHC QUE TANTO GOSTA DE DAR CONSELHOS AO LULA, NUNCA IRÁ ACEITAR CONSELHOS DE QUEM QUER QUE SEJA. TRATA-SE DE UM ARROGANTE INVEJOSO, QUE AINDA NÃO ENTENDEU O POR QUE DE SEU PARTIDO TER PERDIDO AS DUAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES, NEM TÃO POUCO CONSEGUIU DIGERI-LAS.ESQUECEU-SE AGORA DE POR EM PRÁTICA A DEMOCRACIA QUE TANTO PREGA, DENTRO DO PRÓPRIO PSDB.

    ResponderExcluir
  5. WOW
    LUCIA HIPPOLYTO DESCOBRIU A PÓLVORA

    VARIOS COMENTARIAS POLÌTICOS JÀ FIZERAM ESSE TIPO DE PREVISÃO, INCLUSIVE VC.

    ABS

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...