Pular para o conteúdo principal

Números ruins, manipulações piores

O PIB do quarto trimestre de 2008, recém divulgado, foi horroroso, ninguém tem dúvida alguma disto. Muito mais trágico do que o PIB, porém, é o comportamento de parte da mídia brasileira ao noticiar os números. Ontem, o UOL manchetou a queda da produção de veículos em fevereiro, que CRESCEU em relação ao mês anterior. Para dar na manchete a queda de 20%, comparou o número com o mesmo período do ano anterior. Hoje, no resultado do PIB, a manchete do UOL se refere à QUEDA de 3,6% em relação ao período imediatamente anterior (o terceiro trimestre). Claro, o UOL não noticiaria em manchete, jamais, nunquinha, que o PIB do quatro trimestre de 2008 CRESCEU 1,3% em relação a igual período de 2007... A regra na redação da Folha é simples: na dúvida, atire no número que prejudicar mais o governo Lula...

Em tempo: apesar da crise e da queda do último trimestre, o PIB brasileiro cresceu 5,1% em 2008. Exatamente o que esperavam os economistas do governo...

Comentários

  1. Luiz, veja o e-mail que mandei para amigos pela manhã.

    Economia brasileira cresce 5,1% em 2008, mas com queda no 4º trimestre
    http://economia.uol.com.br/ultnot/2009/03/10/ult1767u141764.jhtm

    Ora meus caros; se compara alhos com bugalhos.

    A economia cresceu 5,1% numa comparação com o mesmo ano anterior;
    A queda de 3,6% foi frente ao trimestre anterior.

    Na verdade, frente ao mesmo trimestre do ano anterior (que é a base de comparação que mais importa), a economia cresceu 1,3%. Um tombo frente ao terceiro trimestre, quando cresceu 6,8%, mas que ainda assim garantiu um PIB acima de 5%.

    Cada um escolhe a manchete que mais lhe convém. Ontem as vendas da indústria eram comparadas com o mesmo mês do ano anterior; hoje o PIB sobre o trimestre anterior. A imprensa escolhe sempre o número pior para dar uma boa manchete.

    E acrescento que segundo a minha consultoria, a Data-Cafuringa, no primeiro trimestre de 2008 os dados se invertem. O PIB cai frente ao mesmo trimestre de 2008 e sobe na margem, frente ao trimestre anterior. A pergunta é: "Qual será a manchete?"

    PS. Para quem não sabe quem foi Cafuringa, faça uma busca no meu blog

    ResponderExcluir
  2. Luiz, mais uma vez a manipulação dos dados feita pela Folha foi absurda, como se pode ver na capa da edição de hoje. Realmente, a queda no 4º trimestre no Brasil foi uma das mais fortes (eu já temia essa manchete depois de fazer uma comparação com dados publicados no mês passado na própria Folha). Porém, no vale-tudo para derrubar o discurso do governo (vamos ver se agora eles conseguem... aliás, nunca vi tanta torcida contra junta...), eles não contextualizaram essas informações. O que eu quero dizer: quando você pega essa lista de países com os quais o Brasil foi comparado, sabe-se que eles já estão em recessão técnica. Ou seja: esses países já tiveram uma queda anterior, no 3º trimestre, quando o Brasil cresceu 1,7% em relação ao trimestre anterior. Assim, uma comparação mais justa seria comparar o 2º semestre de 2008 de todos os países para saber a real proporção da queda no Brasil. Aliás, outro detalhe que nunca vai ser lembrado nessas horas: Do jeito que a economia apresentava um "crescimento virtuoso", como a própria Folha destacou ao reportar o PIB do 3ºtri/2008, uma parada obviamente ia ser muito sentida, já que o número anterior era muito expressivo. Aliás, o número anterior era realmente muito, muito bom, já que o mesmo PIB trimestral que representou queda de 3,6% em relação ao trimestre anterior é o mesmo que representou avanço de 1,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Só mais uma coisa: é incrível saber que a maioria das críticas (vide participantes dos fóruns da Folha On Line) venha de pessoas que parecem ter bons empregos, bons cargos, serem acionistas etc. Enfim, são pessoas que DEVERIAM ter um conhecimento mais amplo desses assuntos, pesquisando além do que leem na Veja e na Folha, para saber o que realmente acontece, até mesmo para poderem gerenciar melhor suas empresas. Mas não, preferem fazer coro à manipulação, já que, antes da informação errada, está o interesse em derrubar um governante que eles não toleram por puro preconceito. Só mais uma coisa eu digo: esses executivos já se esqueceram do que foi o apagão do FHC, com efeitos devastadores na atividade industrial tão ou mais graves quanto os de agora? E olha que foi genuinamente uma crise de origem interna... Ah, agora aguenta nossa elite pegando no pé do termo "marolinha", tentando mostrar que quem disse uma coisa está voltando atrás etc e etc. Dá até nojo...

    ResponderExcluir
  3. Oi, sou leitora diária do seu blog e gostaria de parabenizá-lo pelos ótimos textos.

    Mas, não sou economista, no entanto me parece que eu deveria cutucar um pouquinho.

    Para que sigamos um raciocínio eu peço que você admita, mesmo que só temporariamente, a hipótese de que a comparação com o mesmo mês do ano anterior seja válida (vou explicar porque acho que seria em outro post).

    Não li a matéria da Folha (não consumo porcaria - minha dieta é rígida, por isso visito este blog toda manhã)

    (continua)

    ResponderExcluir
  4. (continuação 1)

    Então admitindo que a Folha provavelmente (acredito que é válidíssima a hipótese) queira usar o fato para atingir o governo Lula, me parece uma resposta de girico do leitor de engolir: pois se estamos em meio a uma crise mundial, é incoerente culpar-se o Lula e sua equipe.

    Uma pergunta que eu faria neste caso da hipótese da Folha estar querendo usar isto contra Lula é: qual a importância desta estatística frente à outras? O consumo de ventiladores com certeza cresceu - devido ao calorão (eu mesma quase não consigo comprar o meu, pois desapareceram das prateleiras). Aumentou ou diminuiu o consumo de outras utilidades? Aparelhos de TV, fornos, geladeiras, móveis, carne, feijão, tomate...
    Qual a importância da queda de consumo de carros para o restante da economia? Ademais, isso não seria talvez mais um indicador de que há necessidade de gastos no transporte público pelos governos estaduais e municipais? O que pensar, então do novo "esfôrço" do governo Serra?

    ResponderExcluir
  5. Agora, quanto à comparação com o mesmo mês do ano anterior, ela parece fazer sentido: entre o fim e começo de cada ano todos fazemos gastos - IPVA, IPTU, compras de natal, viajem pra ver a família, etc. Inclusive, considerando que boa parte da economia está na informalidade, é de se esperar que a renda neste período anterior ao carnaval caia, pois pra essa gente não há 13o, e como o perfil dos gastos muda (as pessoas gastam dinheiro com coisas que não fazem parte do perfil normal dos gastos do ano) as pessoas que tem renda advinda de compras e contratação de serviços nas áreas ligadas ao tal "gastos normais do ano" têm sua renda reduzida. Fazem parte deste perfil do camelô ao professor particular, e muitos comerciantes, por exemplo.

    De qualquer modo, o que eu quero sugerir é que me parece vádida a comparação com o mesmo mês do ano anterior, pois se espera que o perfil dos gastos seja mais ou menos o mesmo.

    ResponderExcluir
  6. Mais uma manipulação que acabei de ler: no Estadão, aparece que o resultado de 2008 foi o 3º melhor de Lula. Foi mesmo, assim como também foi o 3º melhor desde antes do governo FHC, que nunca alcançou esse patamar de crescimento... Por que será que eles ocultam isso???

    ResponderExcluir
  7. Agora, seria necessário ver se a crise já atingiu os ganhos, para se ter um quadro melhor do que a diminuição nas compras de carros representa. Mas admitindo a hipótese de que os ganhos da população não foram tão afetados (como parece que foram nos EU, por exemplo). Acho que pode estar acontecendo somente que a população está apreensiva e está esperando ver no que dá (pois carro novo não é ítem de primeira necessidade. Pode também ser que as ofertas de financiamento não sejam assim tão amigas.

    Em outras palavras, é preciso ser um cabêça de ôstra classe média, desses que engole todos as gritas da Folha contra o presidente Lula (que na versãodeles é culpado de tudo, até do calor e falta de chuva) para aceitar o argumento de que "o presidente Lula é o culpado por você não conseguir comprar seu carro novo". O povão mesmo, deve estar é emputecido com essa história do Serra de que se ele estiver no busão às quatro da manhã irá economizar o bastante para dar entrada em seu carro próprio - usado - em uns 100 anos.

    ResponderExcluir
  8. eu se fosse editor, manchetaria a Queda, e punha o ganho na linha fina..

    mercadologicamente falando é mais interessante, e assim não haveria manipulação.

    ResponderExcluir
  9. O Brasil cresceu 5,1% em 2008! Essa notícia merecia ao menos o mesmo destaque da importantíssima informação do recuo de mais de 3% do 4º trimestre. Estranho: quando o crescimento brasileiro era "maior somente do que o do Haiti", a imprensa gostava de fazer comparações, publicar gráficos, sempre mostrando o Brasil na rabeira. Por que não faz isso agora que o nosso crescimento anual foi superior a de meio mundo, incluindo EUA, Alemanha e Reino Unido? E qual será a reação quando sair o resultado do primeiro trimestre de 2009? É bem provável que o resultado seja positivo, pois terá base de comparação com um trimestre ruim; Porém, na comparação anual talvez não seja tão bom, pois enfrentará uma base bacaninha. E aí, qual será o dado que a mídia procurará valorizar? Esquisita também a justificativa para o bom resultado anual: os jornais dizem que foi fruto do ótimo desempenho da economia nos três primeiros trimestres. Ora, se o dizem agora, por que não o admitiam à época?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...