Em mais uma colaboração para o blog, o professor Wagner Iglecias - nada a ver com Hariovaldo Almeida Prado – analisa a luta interna no PSDB em torno da vaga de presidenciável do partido em 2010. Vale a pena ler o texto, lúcido como sempre.
Em tempos de crise econômica, tão real por um lado e tão propalada em prosa e papel por outro, a política tende a ser menos lembrada pela população. Recessão, desemprego, inflação e até mesmo alta do dólar, queda da Bolsa e taxa de juros passam a ser temas de mais interesse do cidadão comum do que as disputas políticas de Brasília e mesmo a ainda distante eleição presidencial.
Apesar disto, óbvio, a cena política do país continua frenética. Que o digam as recentes eleições para o comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. E também as articulações para as principais candidaturas à sucessão do presidente Lula. Se pelo lado do governo tudo vai dando pinta de que a super-ministra Dilma Roussef tem grandes chances de emplacar como candidata situacionista, pelo lado da oposição a situação não parece tão definida.
Apesar da impressão de fato consumado em torno do nome do governador José Serra, difundida e amplificada por setores da cúpula do PSDB e por forças políticas e sociais de São Paulo, ao que tudo indica o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, sente-se na parada e é, de fato, um candidato potencialmente forte à presidência da República. Tudo bem que Serra tem um vasto currículo como político e administrador público, mas Aécio também o tem. Quem, dentro e fora do tucanato, pode deixar de reconhecer qualidades no mineiro? Aécio governa pela segunda vez o estado que tem o segundo maior colégio eleitoral do país. Conta com altos níveis de aprovação entre seus conterrâneos, foi considerado um bom presidente da Câmara dos Deputados, é jovem e tem trânsito com diversas correntes da política nacional. Aparentemente é um homem com diálogo mais fácil que Serra.
O que Aécio quer é relativamente fácil saber. Difícil é adivinhar o que ele aceitaria, de parte da cúpula do PSDB, para desistir de sua idéia e esperar nova oportunidade para pleitear o Palácio do Planalto. Muito se fala que a realização das prévias tucanas, que muitos dizem que hoje trariam resultado desfavorável a ele, seria um bom começo. Outros pensam numa chapa puro-sangue tucana, com Serra na cabeça e Aécio como vice. Sabe-se lá. As prévias, nunca antes realizadas pelo PSDB, poderiam vir a constituir-se numa caixinha de surpresas. Uma chapa Serra/Aécio complicaria a aliança com o DEM, velho aliado tucano, que teria de ser desalojado de seu tradicional posto de vice-presidência.
Atrapalharia mais ainda a intenção de atrair o PMDB para o apoio ao candidato tucano. Os dados estão lançados. Talvez mais dificil que prever o que vai acontecer com a candidatura tucana à sucessão de Lula só mesmo prever a situação econômica do país e do mundo em 2010 e suas conseqüências sobre a eleição presidencial. Quem sabe, ao velho e bom estilo tucano, um bom acordo entre os cardeais do partido esteja a caminho. Mas enquanto ele não vem, a oposição está em disputa.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Em tempos de crise econômica, tão real por um lado e tão propalada em prosa e papel por outro, a política tende a ser menos lembrada pela população. Recessão, desemprego, inflação e até mesmo alta do dólar, queda da Bolsa e taxa de juros passam a ser temas de mais interesse do cidadão comum do que as disputas políticas de Brasília e mesmo a ainda distante eleição presidencial.
Apesar disto, óbvio, a cena política do país continua frenética. Que o digam as recentes eleições para o comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. E também as articulações para as principais candidaturas à sucessão do presidente Lula. Se pelo lado do governo tudo vai dando pinta de que a super-ministra Dilma Roussef tem grandes chances de emplacar como candidata situacionista, pelo lado da oposição a situação não parece tão definida.
Apesar da impressão de fato consumado em torno do nome do governador José Serra, difundida e amplificada por setores da cúpula do PSDB e por forças políticas e sociais de São Paulo, ao que tudo indica o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, sente-se na parada e é, de fato, um candidato potencialmente forte à presidência da República. Tudo bem que Serra tem um vasto currículo como político e administrador público, mas Aécio também o tem. Quem, dentro e fora do tucanato, pode deixar de reconhecer qualidades no mineiro? Aécio governa pela segunda vez o estado que tem o segundo maior colégio eleitoral do país. Conta com altos níveis de aprovação entre seus conterrâneos, foi considerado um bom presidente da Câmara dos Deputados, é jovem e tem trânsito com diversas correntes da política nacional. Aparentemente é um homem com diálogo mais fácil que Serra.
O que Aécio quer é relativamente fácil saber. Difícil é adivinhar o que ele aceitaria, de parte da cúpula do PSDB, para desistir de sua idéia e esperar nova oportunidade para pleitear o Palácio do Planalto. Muito se fala que a realização das prévias tucanas, que muitos dizem que hoje trariam resultado desfavorável a ele, seria um bom começo. Outros pensam numa chapa puro-sangue tucana, com Serra na cabeça e Aécio como vice. Sabe-se lá. As prévias, nunca antes realizadas pelo PSDB, poderiam vir a constituir-se numa caixinha de surpresas. Uma chapa Serra/Aécio complicaria a aliança com o DEM, velho aliado tucano, que teria de ser desalojado de seu tradicional posto de vice-presidência.
Atrapalharia mais ainda a intenção de atrair o PMDB para o apoio ao candidato tucano. Os dados estão lançados. Talvez mais dificil que prever o que vai acontecer com a candidatura tucana à sucessão de Lula só mesmo prever a situação econômica do país e do mundo em 2010 e suas conseqüências sobre a eleição presidencial. Quem sabe, ao velho e bom estilo tucano, um bom acordo entre os cardeais do partido esteja a caminho. Mas enquanto ele não vem, a oposição está em disputa.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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