Pular para o conteúdo principal

A concepção tucana de televisão pública

A nota abaixo também saiu na revista Veja desta semana e revela o pensamento do tucanato paulista sobre um assunto que interessa bastante o público da TV Cultura. Pelo que se pode ler no resumo da carta enviada aos conselheiros da emissora por José Henrique Reis Lobo, secretário de Relações Institucionais do governo de São Paulo e presidente do PSDB paulistano, a idéia tucana do que deve ser uma televisão pública é, para dizer o mínimo, pouco convencional. Lobo reclama da baixa audiência da Cultura, acha que o dinheiro do contribuinte está sendo jogado no lixo e pede a "profissionalização" da emissora.

Ora, televisão pública tem este caráter justamente para oferecer alternativas às emissoras comerciais. É evidente que audiência será menor, justamente pelo caráter alternativo da programação. Cobrar ibope alto de televisão pública é mais do que uma contradição, é um despautério. Só imaginar o que seria da BBC inglesa nas mãos dessa gente já dá calafrios. No fundo, porém, a cartinha do Lobo tucano é bastante útil para entender como opera a cabeça da elite do PSDB – o personagem em questão não é nenhum soldado raso do partido. Depois os tucanos ainda reclamam quando são qualificados de "privatistas" ou coisa do gênero.

Tem de ter audiência

O conselho da TV Cultura, de São Paulo, tomou um tranco na semana passada. Um dos conselheiros, José Henrique Reis Lobo, enviou uma carta aos seus 46 colegas cobrando preocupação com a audiência da emissora, "próxima a zero". "Não há nada de maior nonsense do que falar para auditório vazio ou editar um jornal para um público que não existe", lembrou. Segundo Lobo, como ninguém assiste à Cultura, não se justifica que a emissora consuma anualmente 200 milhões de reais dos cofres públicos. No texto, Lobo faz ainda um apelo para a profissionalização da emissora.

Comentários

  1. Há duas formas de aumentar a audiência da TV Cultura: uma é melhorar drasticamente o ensino no estado de São Paulo, formando jovens com uma visão mais abrangente da realidade. Estes jovens, com certeza, se desinteressarão de certos programas ditos "populares" nas emissoras comerciais e, de maneira natural, se interessarão pela programação das TVs públicas.

    A outra maneira de ampliar a audiência da TV Cultura é colocar nela uma programação de baixo nível, equiparável às TVs comerciais. O povão do estado de São Paulo, boa parte do qual está com a mente embotada pelo ensino de 15ª categoria que existe no estado, naturalmente se interessaria se a Cultura adotasse uma programação rasteira, com programas de auditório que apelem para os sentimentos baixos, o preconceito racial, sexual e social, com piadas de mau gosto, filmes violentos e Big Brothers da vida.

    Qual das duas estratégias o governo do Estado vai adotar?

    ResponderExcluir
  2. Caros Roberto e Luiz,

    Ah, estão esquecendo do segundo modo de se economizar 200 milhões dos cofres públicos (e liberá-los para outras coisa mais importantes). Se for impossível vendê-la, fechem-na.

    Afinal, qual o vínculo entre governo e cultura? Para que precisaríamos de jovens com visão crítica, e ainda por cima de uma TV que ecoasse essa monstruosidade que é o estímulo a liberdade (e a variedade) de opnião? Como prosperar em uma democracia com um povo crítico e atuante? Estão malucos??

    ResponderExcluir
  3. E uma pena. Sempre gostei da Tv Cultura.
    Assisto a NPR (National Public Radio) e vejo que e possivel ter programas de alta qualidade. Desde que haja verba garantida e o governo (nao importa qual) nao interfira.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe