Pular para o conteúdo principal

Serra, o perigo vermelho

Agora não é Nivaldo Cordeiro, mas outro colunista do hilário Mídia Sem Máscara. Ipojuca Pontes trabalhou no governo Collor e é mais um dos defensores da tese de que o governador José Serra (PSDB), da mesma maneira que Fernando Henrique, não passa de um "melancia" (verde por fora, vermelho por dentro). O texto do sujeito é de rolar de rir. A direitona é mesmo muito engraçada, já perdeu a eleição de 2010 por antecipação...

O candidato Serra

Ipojuca Pontes | 04 Maio 2009

O Brasil está numa sinuca de bico. Nele, não existe mais a possibilidade da alternância de idéias na condução do poder. Lula, Roussef, Serra, Ciro Gomes, um pouco menos Aécio Neves, todos pensam do mesmo modo e agem em função da supremacia do “Estado Forte”

Para alguns especialistas em marketing político, o nome define o candidato. Melhor dizendo: segundo tais especialistas, em determinadas eleições, um nome considerado fatídico pode criar na cabeça do eleitor, consciente ou inconscientemente, certo tipo de – vá lá o termo - resistência. Por exemplo, Covas. Com um nome assim, que sempre se pode associar à imagem de caverna, buraco, tumba ou prenúncio de morte, o sujeito dificilmente chegaria à presidência da República.

Outro nome, por assim dizer, sombrio: Serra. Ao ouvir a articulação da palavra “Serra”, pode-se logo imaginar uma lâmina longa, dentada, a serrar os ossos do cidadão. Ou até, quem sabe, a boca de um tubarão, com fileiras de dentes pontiagudos, prontos para abocanhar as cartilagens do infeliz banhista. Se os profissionais do marketing político estiverem certos, José Serra, o candidato à Presidência da República (e atual governador de São Paulo), carrega nome designativo de maus presságios e, por ilação, incapaz de comover o eleitorado (nacional) em suas pretensões presidenciais – pretensões que já foram repudiadas, em 2002, pela vontade do eleitor.

Mas o candidato Serra não carrega grau de animosidade eleitoral apenas no nome: sua cara insulsa, por guardar permanente ricto de desgosto, causa sempre uma sensação de desconforto em quem o observa por mais de dois minutos. De fato, bem examinado, parece não haver naquele semblante resquício notável de alma, calor, vida emotiva ou paixão. De minha parte, por mais boa vontade que mantenha, ao encarar o político José Serra, tenho o pressentimento de que por trás daqueles olhos de palhaço triste efervescem, num só caldo, ressentimento, maquiavelismo e ambição.

Ademais, para além dos maus presságios acima levantados, acresce que o passado político do candidato Serra, pelo menos para a ótica democrata, não inspira a menor confiança: ele foi presidente da famigerada UNE (eterno instrumento da sanha comunista no meio estudantil) e, pior, um dos fundadores da AP – Ação Popular –, a organização radical (depois clandestina) da igreja católica esquerdista (apóstata), toda ela comprometida, desde os tempos de Jango (o presidente latifundiário), em implantar, também pela via armada, a ditadura revolucionária no país.

Por outro lado, como homem público, José Serra se insere naquele padrão de gente que acredita cegamente na eficiência do Estado intervencionista, planejador e assistencial, por definição, promotor da oligarquia político-burocrata especializada em espoliar quem trabalha e pensa em lucro, crescimento e riqueza. Com efeito, difuso cultor da macumba “estruturalista” tocada nos anos 1960 pela Cepal (a folclórica Comissão Econômica para a América Latina, estabelecida no Chile), o político paulista até hoje faz da panacéia do governo empreendedor, regulador e fiscalista a razão imperativa de sua existência pública - e pouco importa que se diga, na atualidade, por estratégia, estar ele alinhado a correntes esquerdistas mais “liberalizantes”.

Neste particular, seu fascínio pelo controle da vida social (típica manifestação do caráter totalitário) extrapola o tolerável: ele tornou São Paulo um laboratório de proibições punitivas, sobretudo para quem procura no ato individual ou coletivo de fumar algum estímulo para ir levando a vidinha. Um controle social relativista, diga-se, pois o político Serra, tal como o seu mentor, Fernando Henrique Cardoso, faz parte do bloco que defende “amplo debate sobre a questão da droga” e admite um “tratamento diferenciado” para quem a consome – o que equivale dizer que, no futuro, para governantes que nem Serra, o Estado corrupto pode muito bem fornecer cocaína ao viciado por conta do Erário.

No tocante ao tema do aborto, queira ou não um crime premeditado, pois elimina conscientemente a vida em gestação, Serra pronuncia-se contra a sua legalização, mas, curiosamente, o encara como “uma questão de saúde pública” – o que, no frigir dos ovos, é o mesmo que se manifestar, em escala relativista, favorável ao aborto. Por sua vez, como candidato politicamente correto, Serra se declara “favorável ao casamento gay”, caso tal proposta seja aprovada pelo Congresso Nacional.

Mas há projeto mais perigoso na agenda do candidato Serra: como homem público avesso “aos militares”, leia-se Exército Nacional, ele pretende, caso chegue à Presidência da República, propor a criação de Ministério da Segurança Pública. Seu entendimento, segundo propala, é de que “a União precisa estar à frente da coordenação das ações de segurança, inclusive com maior presença no controle das fronteiras”.

O que significa isto? Um caso de rancor acumulado? Mais um ministério? E o da Defesa, para que serve? Estaria, neste caso, o engajado Serra, tal como Hugo Chávez e o trêfego Barack Obama, querendo uma polícia especial subordinada aos feitiços ideológicos da “social-democracia”? Na sua agenda de intenções, o candidato Serra não esclarece a questão – o que nos leva a desconfiar dos propósitos totalitários da medida.

De minha parte, penso que políticos como José Serra devem ser responsabilizados pela ausência de oposição real no país, uma ausência criminosa, que, de modo clamoroso, permite o arbitrário Lula exercer o seu governo facinoroso sem o menor temor ou constrangimento. Como justificativa, em geral, associa-se a omissão oposicionista do PSDB à completa identidade ideológica entre este partido e o partido do governo.

De resto, o próprio Lula, consagrando o óbvio, confessou estar articulando encontro amistoso entre José Serra e Dilma Roussef, a candidata (ainda) do governo, para acertar o “modus operandi” da transição do poder em 2010. Antes, o presidente-sindicalista tinha declarado que, Dilma ou Serra, qualquer um que fosse eleito o “deixaria tranqüilo”, pois ambos são “do meu agrado” – o que, partindo de Lula, transparece dose certa de malícia, visto que a cada dia fica mais factível o projeto do terceiro mandato.

O Brasil está numa sinuca de bico. Nele, não existe mais a possibilidade da alternância de idéias na condução do poder. Lula, Roussef, Serra, Ciro Gomes, um pouco menos Aécio Neves, todos pensam do mesmo modo e agem em função da supremacia do “Estado Forte” - ente insaciável que vê no indivíduo (e na sociedade) mera fonte de arrecadação de tributos para o sustento da gigantesca máquina burocrática.

Dir-se-ia que se instalou no país o sistema feudal do pensamento único, a sustentar malandramente os alicerces apodrecidos do Estado provedor, responsável direto pelo abastardamento político e o conseqüente esfacelamento moral do povo brasileiro.

Dentro desta perspectiva, tal como ocorreu com a União Soviética, levar-se-ão décadas até que a exacerbação do pessimismo social, provocado pela inviabilidade do sistema, carregue o Ogro Filantrópico, para todo o sempre, numa tempestade de poeira tóxica.

E, com ela, os seus mentores, cultores e descendentes.

Comentários

  1. Esse cara, é doido? Eu nunca lí tanta besteira junta, para não se dizer nada. Só pode ser um tucano magoado pela falta de perspectiva política ou ausência de nome(e projeto) para concorrer à Presidência. Deu a entender que o melhor nome para governar o país, é o de Deus, desde que esse não pise nos seus calos. O coitado teve um surto existencial e não sabe em qual parede deve bater a cabeça, para ordenar suas idéias. Vade retro, satanas.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...