Pular para o conteúdo principal

Serra vs. USP: cresce a chance de dar chabu

Um bom texto sobre a ocupação da reitoria da Universidade de São Paulo foi escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha no site Vi o Mundo e está reproduzido abaixo. A cada hora que passa, aumenta a chance da Polícia Militar iniciar uma operação de desocupação da reitoria. Se isto acontecer, José Serra (PSDB) vai entrar para a história como o único governador a autorizar, em período democrático, uma invasão na USP.

Não é pouca coisa. Serra quer ser presidente do Brasil e precisa decidir se vai concorrer como herdeiro das forças que apoiaram o golpe de 1964 , como bem lembrou o professor Ricardo Musse, ou se preferirá vestir o figurino de candidato pelo menos de centro-direita, deixando a truculência de lado. No ano passado, Geraldo Alckmin apostou em uma retórica udenista para tentar bater Lula, mas não teve a coragem de se apresentar como autêntico representante da direita. Se Serra mandar invadir a USP, terá feito a opção que seu correligionário não bancou.

A seguir, o texto de Azenha sobre a ocupação. Não é exatamente o que pensa este blog, mas vale a pena ler na íntegra:


Amotinados na USP: Geração do pente Flamengo se dá mal com a turma do You Tube

O governador José Serra é do tempo da lapiseira.
A lapiseira era colocada no bolso da camisa.
O governador José Serra é do tempo do pente.
Durante a campanha eleitoral, ele carregava um pente no bolso traseiro da calça.
Não deu para ver se era um pente Flamengo.
O Geraldo Alckmin é da geração do lenço branco.
Ele carrega um lenço para tirar o suor do rosto.
O Lula é da geração do ovo colorido, do torresmo e do rabo-de-galo.
É do tempo em que o bar da esquina marcava as compras na cadernetinha.
Pinga, pinga, pinga, pão, pinga, pinga, pinga, torresmo.
Eles são do tempo-do-onça.
A molecada é da geração do You Tube.
Os meninos de hoje são educados pela primeira geração feminista.
São adolescentes sensíveis.
Eles não ligam para o que sai nos jornais, quase não assistem tevê, se falam e se informam pela internet.
Eles conversam com cinco pessoas ao mesmo tempo no Messenger.
O pessoal do pente não entende a turma do Bob's do posto.
O pessoal do tempo do pente, hoje na terceira idade, só ia ao posto de gasolina abastecer o automóvel.
A molecada marca encontro na lanchonete do posto antes de ir para a balada.
A molecada do You Tube dança forró - antes isso era coisa de paraíba no Rio de Janeiro e de baiano em São Paulo.
(By the way, a economia mudou-se para São Paulo e o Rio de Janeiro está algumas horas atrasado)
A molecada do Messenger usa celular e laptop.
A turma do pente parou no Pac Man e na calculadora HP.
O senador Eduardo Suplicy - sim, com todos os defeitos que a mídia não cansa de ressaltar - é o único político que se antenou para o movimento estudantil.
Deve ser influência do Supla.
Do ponto-de-vista eleitoral a turma do inventor da Sociologia, o francês Fernando Henrique Cardoso, não tem motivo para se preocupar.
Olhem os sites do PT e do PCdoB, hoje.
Não falam da ocupação na USP.
O PCdoB é do tempo, com todo o respeito, do João Amazonas.
Cadê a bela Manuela?
A turma do pente quer botar a PM, com toda a sua competência, para lidar com estudantes dentro de um campus universitário.
É coisa de aloprado.
A turma da HP subestima a inteligência da molecada.
Os estudantes têm faro fino.
O país segue na direção em que eles apontam o bico.
A mídia golpista e - francamente - BURRA, despreza os futuros consumidores de seus "produtos".
Que, aliás, estão embolorados, com data de validade vencida.
A molecada tá antenada em Oaxaca, no Chávez e no vale-tudo do embuste que chamamos de democracia brasileira.
A molecada andou botando pra quebrar em Florianópolis e Salvador, por causa do preço da passagem de ônibus.
Eles são claros e objetivos em sua lista de reinvindicações.
Política se faz... fazendo política.
O pessoal do pente Flamengo quer fazer política com a PM.
Tá na hora do ex-presidente da UNE jogar fora aquela cartilha da Ação Popular.
É Flamengo vs. You Tube na Universidade de São Paulo.
Publicado em 23 de maio de 2007

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...