Pular para o conteúdo principal

Fenaj: mais um papelão

O autor destas Entrelinhas discorda de praticamente tudo que o jornalista Reinaldo Azevedo, colunista de Veja, escreve. Algumas vezes, porém, Reinaldo acerta na veia. É o caso das análises que fez sobre a fraqueza da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à presidência. O texto abaixo, reproduzido de seu blog, é especialmente feliz. A Fenaj há muito tempo se transformou em um verdadeiro estorvo, tendo inclusive prejudicado o governo do presidente Lula no episódio do natimorto Conselho Federal de Jornalismo.

A direção da Fenaj de fato revela a sua total falta de caráter com a nota sobre a morte do jornalista Luiz Carlos Barbon – ao invés de demonstrar indignação com o assassinato, acusa a vítima de exercício ilegal da profissão. A covardia dos sindicalistas é evidente: Barbon não está aqui para se defender das acusações que lhe foram feitas. O oportunismo da Fenaj é também óbvio, mas realmente causa espanto a desfaçatez dos diretores da entidade em usar uma morte para lembrar a questão da "regulamentação" da profissão de jornalista. Reinaldo apenas resvalou no fato, mas o que move a Fenaj nesta nota asquerosa é a sua luta pela obrigatoriedade do diploma e decorrente delimitação de um "lugar" exclusivo para os formados no mercado de trabalho. Um corporativismo tacanho e ultrapassado, que certamente dará seu último suspiro muito em breve.

Felizmente, pois, essa gente acovardada que hoje se encontra encastelada na Fenaj está perdendo a guerra em torno da obrigatoriedade do diploma, seja no Judiciário, no debate público da sociedade brasileira e também no mundo real – a internet em breve enterrará de vez qualquer possibilidade de limitação da atividade jornalística em função do canudo que a Fenaj tanto preza e para o qual terão de arrumar um uso alternativo. Que façam bom proveito.

Abaixo, a íntegra do texto de Reinaldo, contendo, inclusive, a nota da Fenaj.

O esgoto moral dos jornalistas sindicaleiros

A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo resolveram emitir uma nota conjunta sobre o assassinato de Luiz Carlos Barbom. Há muito tempo eu não lia nada tão asqueroso. Não que me surpreenda. Vindo de quem vem, espero sempre o pior. Ocorre que “eles”, com efeito, perderam qualquer noção de vergonha ou de limites. Leiam o texto, que segue em vermelho, volto depois. Ah, sim: a nota segue com todos os índices do analfabetismo que caracterizam essa gente.

A morte de qualquer cidadão nas circunstâncias ocorridas na cidade de Porto Ferreira, interior de São Paulo, onde Luiz Carlos Barbom Filho, de 37 anos, foi assassinado a tiros, obviamente, gera indignação, repulsa de toda a sociedade. Inicialmente, é preciso exigir o esclarecimento, bem como a punição dos responsáveis e hipotecar toda a solidariedade aos familiares e amigos da vítima.

Luiz Carlos Barbom Filho, apesar de se auto-intitular, não era jornalista de fato e de direito. O jornal de sua propriedade, Realidade, foi fechado pois nunca esteve regularizado e Barbom Filho não possuía o registro de jornalista, tendo sido, inclusive, processado por exercício ilegal da profissão.

No entanto, esses fatos não justificam nenhum ato de violência contra sua pessoa e tampouco desabonam as denúncias que eventualmente tenha tornado públicas contra desmandos de autoridades ou grupos.

Esse episódio exige uma reflexão profunda sobre o atual estágio de fragilidade social à qual está exposta a profissão de jornalista e grande parte da população.

Não é possível que crimes e ilegalidades só sejam alvo de ação efetiva do poder público, após se tornarem fenômenos midiáticos. A população não pode ter suas demandas atendidas pelo Estado somente após terem se tornado manchetes dos veículos de comunicação. É preciso existir canais abertos para que o povo exerça a cidadania, denuncie os desmandos dos poderosos, exija o cumprimento da Lei, enfim, faça valer seu direito à cidadania.

Para a realização plena dessas condições básicas de liberdade, os jornalistas têm um papel fundamental a cumprir. Isso é obvio, mas é doentio pensar que todo cidadão, para poder exercer esses direitos, deva se arvorar à condição de jornalista.

Estamos diante de uma prova de “déficit de cidadania” no País, que precisa ser solucionado, sob pena de jamais ser uma democracia de fato e de direito!

São Paulo e Brasília, 07 de maio de 2007.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Federação Nacional dos Jornalistas

Voltei

Os jornalistas da Fenaj e do sindicato, se jornalistas, vivem de quê? De escrever. Mas eles não conhecem as regras mínimas da pontuação. Eles não conhecem regência — “arvorar-se a” alguma coisa é analfabetismo universitário. Eles não conhecem nada da língua portuguesa. Se fossem cirurgiões, arrancariam o apêndice do paciente para lhe extrair as amígdalas. Se fossem engenheiros, as casas cairiam sobre as nossas cabeças. Entendo: na juventude, foram remelentos. Não tiveram tempo de estudar, de ler, porque estavam muito ocupados invadindo prédios públicos e fazendo justiça com as próprias mãos peludas...

Leiam o que vai acima. Prestem especial atenção ao que vai em negrito. Se Luiz Carlos Barbom Filho fosse um jornalista reconhecido pelas duas entidades, a realidade seria outra? Mais: a nota é um manifesto em favor da ilegalidade. O diploma de jornalista não é mais obrigatório. Essa batalha, os analfabetos já perderam. Doentia é a nota da Fenaj e do sindicato: fica a um passo de culpar a vítima pela própria morte.

Não é por acaso que as duas entidades tenham constituído a linha de frente na defesa do Conselho Federal de Jornalismo, aquele órgão de censura. A Fenaj, é bom lembrar, foi a autora da proposta. Arrumou até um deputado laranja para assiná-la. Se bem se lembram, no período de implantação do órgão, ela se oferecia para o sacrifício. A iniciativa naufragou, e agora teremos a TV Pública de Franklin Martins.

Alguns reclamam da minha dureza quando chamo esses caras de “esquerdopatas”. Ora, como classificá-los? Fico cá imaginando: reuniram-se os representantes das duas entidades para escrever a nota, produziram essa miséria, leram, releram e acharam que estava bem assim. Eles se ofereciam para ser nossos censores. Querem que escrevamos como eles. Querem ser nossos modelos, nossos guias, nossos mestres, nossos conselheiros éticos.

Eu tenho um nojo profundo desses “coleguinhas”. Falo deles porque são burocratas que vivem com o dinheiro do imposto sindical, que lhes é garantido em razão de uma legislação ainda fascistóide. Não são jornalistas. Todos têm diploma, mas a maioria nunca pôs os pés numa redação e vive da assessoria que fazem para estatais e órgãos públicos, as famosas boquinhas arranjadas pelos “companheiros”.

A nota sobre a morte de Luiz Carlos Barbom Filho é um esgoto moral.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe