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Wagner Iglecias: o trem de
2010 passa na estação Gerais?

Em mais uma colaboração para o blog, o professor Wagner Iglecias escreve sobre as chances do governador mineiro Aécio Neves em 2010. Pelo PMDB ou PSDB, Aécio será um nome fortíssimo na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se decidir mesmo concorrer.
Leia a seguir a íntegra da análise de Iglecias.


A política é feita, entre outras coisas, de ditados e frases feitas, e um deles diz que tal atividade é como nuvem no céu, mal se olha e elas já mudaram de lugar e de formato. De fato é bastante difícil se prever alguma coisa neste campo com boa margem de segurança. Mas especular sobre tendências, ainda mais quando as especulações são recorrentes, continua sendo um dos esportes preferidos de muitos analistas políticos.

A eleição presidencial de 2010 está ainda muito distante, mas ao que tudo indica muito já se especula sobre ela. É verdade que no meio do caminho ocorrerão as eleições municipais, nas quais governo e oposição medirão forças para manter ou retomar o comando das principais cidades do país, no que provavelmente virá a ser uma prévia do embate de 2010.

E também é verdade que no campo governista, ao menos por enquanto, há um hiato de nomes para suceder o presidente Lula. Assim como também é verdade que no campo da oposição, embora ela se mostre hoje aparentemente sem um projeto alternativo de governo, há dois ou três nomes de peso sobre os quais muito se comenta.

A crise política de 2005 e 2006 ceifou as pretensões de boa parte dos líderes políticos que poderiam vir a suceder, pelo lado petista, o presidente Lula. Hoje em dia a imprensa fala em nomes para 2010 que estavam fora de cogitação antes da eclosão da crise, como Dilma Roussef, Jacques Wagner ou Marta Suplicy. Fala-se ainda em Ciro Gomes, por enquanto um tanto afastado dos holofotes desde que deixou o ministério e retornou à Câmara dos Deputados.

No campo oposicionista, por sua vez,apresentam-se os já conhecidos nomes de José Serra e Aécio Neves. Políticos experimentados e governadores, respetivamente, do primeiro e do segundo estados mais populosos do país, é natural que ambos despontem como prováveis candidatos com os quais a oposição tentará retornar ao Planalto.

Muita gente aposta que a legenda tucana em 2010 tenderia a ser de Serra, e a Aécio, caso venha a querer tentar a sucessão de Lula, caberia migrar para outro partido. Talvez fosse mais confortável para o governador mineiro buscar o mandato de senador, para o qual teria grandes chances de ser eleito, afinal sua popularidade em Minas é alta e duas cadeiras por estado estarão em jogo naquele ano. Mas há aqueles que acreditam que Aécio quererá mesmo a eleição presidencial, e que seu destino seria o PMDB, partido pelo qual seu avô Tancredo se elegeu presidente da república em 1985. Será? É dificil, a quem quer que seja, unificar uma federação de forças políticas regionais como o PMDB. Nem Ulysses Guimarães conseguiu isso quando lançou-se candidato pelo partido em 1989. No entanto, na eventualidade de não ter a legenda tucana Aécio poderia encontrar no PMDB um partido que há anos se ressente de não ter candidato próprio à presidência da República. Como diz o ditado popular, poderia ser o encontro da fome com a vontade comer.

Independentemente das muitas águas que correrão por debaixo das pontes e da decisão que Aécio venha a tomar, cabe frisar que ele não seria um candidato desprezível numa disputa presidencial em 2010, qualquer que fosse o partido pelo qual viesse a concorrer. Muito pelo contrário.

Muitos seriam os apelos disponíveis para uma estratégia eleitoral com boas chances de sucesso. Aécio é jovem, e apesar de jovem poderá apresentar-se ao país com a experiência de ter sido governador por duas vezes do segundo maior colégio eleitoral do Brasil, bem como de ter tido uma passagem como presidente da Câmara dos Deputados avaliada como boa até por seus adversários. Diz-se dele que tem bom trânsito e boa intelocução com as principais correntes políticas e regionais do país. É neto de um mito da política brasileira e é Minas Gerais como JK. E Minas, como se sabe, tem uma certa mística na História política brasileira. Lembre-se ainda a já antiga ligação afetiva de Aécio com o Rio de Janeiro. Somando tudo, é muita coisa. Ou seja, argumento de marketing para uma campanha com grande potencial competitivo não faltariam ao mineiro. Para além disso, depois de dezesseis anos de FHC e Lula talvez em 2010 o eleitorado entenda que esteja na hora de despaulistizar um pouco o governo federal.

Mas sabe-se lá o que vai ser daqui até lá. As nuvens da política mudam o tempo todo, como nos ensina o velho ditado. Ou, como diz a velha canção de Flavio Venturini, "beleza bonita de ver nada existe como o azul, sem manchas do céu do Planalto Central, e o horizonte imenso aberto sugerindo mil direções".

Wagner Iglecias é sociólogo e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

Comentários

  1. Segundo o ex-governador Hélio Gueiros: ‘Veja quis me chantagear’ O ex-governador do Pará, Hélio Gueiros, em sua coluna no jornal “Diário do Pará”, edição de quarta-feira, relatou como “Veja” tentou lhe extorquir quando foi governador do Estado. Já Frei Betto questiona: Que diabo é a nossa Fé? O grande jornalista Altamiro Borges fala sobre as razões de fundo da visita do Papa ao Brasil. Fábio Reynol: “Sua Santidade e CEO da Igreja Católica Germânico-romana, Bento 16, acaba de desativar o Limbo, a enorme ante-sala do céu para onde eram destinadas todas as crianças que batiam as botinhas antes de ser batizadas”. Leia muito mais no blog que faz um jornalismo Independente, livre e democrático e que acaba de ser escolhido o 2º melhor blog da internet pelo TOPBLOG: “Desabafo País” : http://desabafopais.blogspot.com

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