Pular para o conteúdo principal

Derrotado, Serra recua e muda decretos

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), decidiu adotar a tática dos norte-americanos no final da guerra do Vietnam, que proclamaram a vitória e deixaram o país às pressas, para não serem definitivamente humilhados. Serra editou um decreto declaratório que reformula o teor dos dois polêmicos decretos que ferem a autonomia das universidades estaduais paulistas. O secretário José Aristodemo Pinotti, do Ensino Superior, já saiu por aí dizendo que não se trata de um recuo, pois o novo texto reafirma o que o governo quis dizer desde o início, mas não foi bem compreendido. Como diriam os americanos: bullshit. Serra foi, sim, derrotado pela pressão dos professores, estudantes e funcionários da USP, Unesp e Unicamp. Ao que parece, o tucano já percebeu a besteira que fez e decidiu recuar. Ainda é um recuo tímido – o correto seria revogar os dois decretos e acabar com a secretaria de Ensino Superior –, mas abre margem de negociação com a comunidade acadêmica. Ainda não é certo que professores, estudantes e funcionários venham a aceitar a mão estendida do governador, mas o fato é que, tal e qual os norte-americanos do Vietnam, Serra está louco para acabar com o impasse e posar de vitorioso. O que vai ficar desta batalha toda, porém, só o tempo vai dizer.

Este blog tem um palpite: Serra começou a perder a eleição de 2010 no dia 1° de janeiro de 2007, quando desafiou e jogou de volta no colo de Lula essa influente categoria dos professores universitários que, decepcionada com as denúncias de corrupção, dossiês e outros quetais, tendia a apoiar o neo-desenvolvimentismo supostamente representado por José Serra. Resta saber se ele tinha mesmo a intenção de desafiar a comunidade acadêmica ou simplesmente não percebeu a gravidade da besteira que seus subordinados estavam aprontando. Nos dois casos, o erro é do governador.

A seguir, a matéria da Agência Estado desta manhã que informa a publicação do decreto declaratório.


Serra publica decreto reiterando autonomia de universidades
Governador quer ´eliminar interpretações equivocadas´ sobre universidades

Ana Carolina Moreno

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), publicou nesta quinta-feira, 31, no Diário Oficial, o primeiro decreto declaratório de sua gestão. O documento quer "eliminar" as "interpretações reiteradamente equivocadas" sobre os quatro decretos que motivaram a ocupação do prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), e modificar a redação de outro.

Segundo a Secretaria Estadual de Ensino Superior, o decreto declaratório não modifica os anteriores, mas sim registra oficialmente o que Serra havia confirmado apenas verbalmente, de que os decretos não valem para as universidades estaduais. Dos cinco documentos na mira dos estudantes, dois não são mencionados no texto publicado nesta quinta no Diário Oficial: o decreto n.º 51.460, de 1º de janeiro, que criou a Secretaria de Ensino Superior, e o n.º 51.636, de 9 de março, que torna a inserção de dados no no Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios (Sieagem) obrigatória “em tempo real” a partir de 2007. Nos anos anteriores, ela era mensal.
O governador esclarece que o decreto n.º 51.471, de 2 de janeiro, que veda "a admissão e a contratação de pessoal no âmbito da administração pública direta ou indireta", "não se aplica às universidades". Já o decreto n.º 51.473, da mesma data, não consta na lista de documentos criticados, mas também deixa de ser aplicado às universidades públicas estaduais
Os decretos questionados também resultaram na greve de estudantes, funcionários e professores da USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp), que, segundo os manifestantes, ameaçam a autonomia das universidades estaduais.
A declaração de Serra acontece no dia em que as categorias das três instituições planejam um ato na Assembléia Legislativa e uma possível audiência pública com o governador. Os estudantes da ocupação da reitoria da USP estão estudando o novo decreto para divulgar sua posição oficial.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe