Quando José Serra (PSDB) venceu a eleição para o governo de São Paulo já no primeiro turno, no ano passado, muita gente apostou que ele faria um governo de caráter progressista, até para ocupar o espaço que o PT vem abrindo à esquerda do espectro político. O próprio Serra dizia que estava posicionado "à esquerda" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e não foram poucos os que acreditaram na palavra do então candidato.
De fato, nas universidades, por exemplo, já havia uma massa de professores e estudantes desiludidos com o governo petista que, até pelo passado de lutas de Serra, via no tucano uma possibilidade real não de uma guinada radical à esquerda, porque aí já seria outra desilusão, mas de um governo um pouco mais atrevido, menos pragmático e menos subserviente ao mercado financeiro do que o de Lula.
Quase seis meses após a posse de Serra no Bandeirantes, porém, o que se vê é um filme estranho, com roteiro quase incompreensível. Claro que é muito cedo para julgar, mas o que tem acontecido até agora é desanimador. Nos principais setores do serviço público, São Paulo está em estado de greve: na Educação, o governo tucano está às turras com a Apeoesp; no ensino superior, a reitoria da principal Universidade do país, a USP, está ocupada por estudantes que protestam, dizem até que com o aval da própria reitora, contra a política implantada pelo novo governo; na Saúde, há uma greve armada que deve começar nos próximos dias; e nos Transportes, para não falar da tragédida da rua Capri, são os metroviários que promoverão protestos e também ameaçam com paralisação – votam nesta terça o indicativo de greve.
Além dos problemas com os servidores, Serra está sentado em um barril de pólvora chamado PSDB paulista. Nos bastidores tucanos, há quem afirme, naturalmente em off, que o governador trata muito melhor os "inimigos petistas" do que os amigos de seu antecessor Geraldo Alckmin, também tucano. De fato, Serra iniciou seu governo fazendo um verdadeiro "choque de gestão" e escanteando os colaboradores do ex-governador, alguns dos quais de maneira, digamos assim, um tanto rude para o padrão tucano de relações pessoais. Evidentemente, isto não é boa política para quem almeja seguir em frente e chegar à presidência da República. Afinal, se Alckmin não for para a briga da candidatura, será um eleitor poderoso na disputa entre os pré-candidatos.
Mas se os problemas com os alquimistas já eram até de certa forma esperados, tendo em vista a maneira também bruta pela qual Alckmin tirou Serra da eleição presidencial do ano passado, o que ninguém podia esperar era, em tão pouco tempo, as disputas internas no PSDB "serrista". Há briga em todos os cantos e Serra até agora não mostrou muita vontade em arbitrar as disputas. Um exemplo simples é o do Instituto Doutor Arnaldo, novo nome do Instituto da Mulher, que deverá ser inaugurado em julho. Em tese, o instituto faz parte do complexo do Hospital das Clínicas, mas o secretário do Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti, quer transferir o instituto para a Unicamp, a fim de controlar ele mesmo o orçamento de R$ 100 milhões ao ano, que de outra forma ficaria a cargo da secretaria da Saúde. Este é um dos casos que já se tornou público, mas há muitos outros, como a própria disputa em torno do controle do orçamento das universidades paulistas, tipicamente uma briga de tucanos. Na secretaria da Cultura, o confronto é entre serristas e fernando-henriquistas, tendo os últimos trabalhado com sucesso para manter o maestro John Neschling no comando da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).
Se o governo estivesse caminhando bem, no entanto, todas essas polêmicas ficariam para o segundo plano. Mas não está. Goste-se ou não, o governo Lula, para efeito de comparação, tem um norte: aposta na fórmula da política econômica ortodoxa para manter a estabilidade, na eficácia dos programas sociais para os mais pobres, e na dinâmica de uma economia em crescimento por causa da bonança do cenário externo. Podem apostar: Lula fará um segundo mandato parecido com o primeiro, talvez com um pouco mais de arrojo nos incentivos à economia real (juros mais baixos, desoneração tributária, crédito à produção etc). Já o governador Serra simplesmente não imprimiu norte algum à sua gestão em São Paulo, pelo menos não até o momento. Não existe uma "marca" do governo Serra, coisa que até Geraldo Alckmin conseguiu fazer com certa celeridade.
Afinal, qual é o plano de Serra para São Paulo? Até agora, ninguém sabe. O governador diz que o Metrô e o Rodoanel são suas prioridades absolutas, mas essas são obras já em andamento e que ele inclusive não vai inaugurar. Que iniciativas estão sendo tomadas nos campos da Educação, Saúde, Agricultura, fomento ao Desenvolvimento? Ninguém sabe. É cedo? Sim, é cedo, mas algumas coisas já deveriam estar acontecendo e não estão, provavelmente em parte pelas disputas internas do governo, mas também pela inação do governador.
Há pouco tempo, tudo levava a crer que José Serra iria montar no cavalo selado que ia passando pelo caminho para levá-lo à presidência da República. Hoje, as coisas não parecem mais tão simples assim. O PSDB dividido e com problemas em sua maior vitrine eleitoral pode ser uma mão na roda para o lulismo continuar no Poder, com Lula ou sem ele.
De fato, nas universidades, por exemplo, já havia uma massa de professores e estudantes desiludidos com o governo petista que, até pelo passado de lutas de Serra, via no tucano uma possibilidade real não de uma guinada radical à esquerda, porque aí já seria outra desilusão, mas de um governo um pouco mais atrevido, menos pragmático e menos subserviente ao mercado financeiro do que o de Lula.
Quase seis meses após a posse de Serra no Bandeirantes, porém, o que se vê é um filme estranho, com roteiro quase incompreensível. Claro que é muito cedo para julgar, mas o que tem acontecido até agora é desanimador. Nos principais setores do serviço público, São Paulo está em estado de greve: na Educação, o governo tucano está às turras com a Apeoesp; no ensino superior, a reitoria da principal Universidade do país, a USP, está ocupada por estudantes que protestam, dizem até que com o aval da própria reitora, contra a política implantada pelo novo governo; na Saúde, há uma greve armada que deve começar nos próximos dias; e nos Transportes, para não falar da tragédida da rua Capri, são os metroviários que promoverão protestos e também ameaçam com paralisação – votam nesta terça o indicativo de greve.
Além dos problemas com os servidores, Serra está sentado em um barril de pólvora chamado PSDB paulista. Nos bastidores tucanos, há quem afirme, naturalmente em off, que o governador trata muito melhor os "inimigos petistas" do que os amigos de seu antecessor Geraldo Alckmin, também tucano. De fato, Serra iniciou seu governo fazendo um verdadeiro "choque de gestão" e escanteando os colaboradores do ex-governador, alguns dos quais de maneira, digamos assim, um tanto rude para o padrão tucano de relações pessoais. Evidentemente, isto não é boa política para quem almeja seguir em frente e chegar à presidência da República. Afinal, se Alckmin não for para a briga da candidatura, será um eleitor poderoso na disputa entre os pré-candidatos.
Mas se os problemas com os alquimistas já eram até de certa forma esperados, tendo em vista a maneira também bruta pela qual Alckmin tirou Serra da eleição presidencial do ano passado, o que ninguém podia esperar era, em tão pouco tempo, as disputas internas no PSDB "serrista". Há briga em todos os cantos e Serra até agora não mostrou muita vontade em arbitrar as disputas. Um exemplo simples é o do Instituto Doutor Arnaldo, novo nome do Instituto da Mulher, que deverá ser inaugurado em julho. Em tese, o instituto faz parte do complexo do Hospital das Clínicas, mas o secretário do Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti, quer transferir o instituto para a Unicamp, a fim de controlar ele mesmo o orçamento de R$ 100 milhões ao ano, que de outra forma ficaria a cargo da secretaria da Saúde. Este é um dos casos que já se tornou público, mas há muitos outros, como a própria disputa em torno do controle do orçamento das universidades paulistas, tipicamente uma briga de tucanos. Na secretaria da Cultura, o confronto é entre serristas e fernando-henriquistas, tendo os últimos trabalhado com sucesso para manter o maestro John Neschling no comando da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).
Se o governo estivesse caminhando bem, no entanto, todas essas polêmicas ficariam para o segundo plano. Mas não está. Goste-se ou não, o governo Lula, para efeito de comparação, tem um norte: aposta na fórmula da política econômica ortodoxa para manter a estabilidade, na eficácia dos programas sociais para os mais pobres, e na dinâmica de uma economia em crescimento por causa da bonança do cenário externo. Podem apostar: Lula fará um segundo mandato parecido com o primeiro, talvez com um pouco mais de arrojo nos incentivos à economia real (juros mais baixos, desoneração tributária, crédito à produção etc). Já o governador Serra simplesmente não imprimiu norte algum à sua gestão em São Paulo, pelo menos não até o momento. Não existe uma "marca" do governo Serra, coisa que até Geraldo Alckmin conseguiu fazer com certa celeridade.
Afinal, qual é o plano de Serra para São Paulo? Até agora, ninguém sabe. O governador diz que o Metrô e o Rodoanel são suas prioridades absolutas, mas essas são obras já em andamento e que ele inclusive não vai inaugurar. Que iniciativas estão sendo tomadas nos campos da Educação, Saúde, Agricultura, fomento ao Desenvolvimento? Ninguém sabe. É cedo? Sim, é cedo, mas algumas coisas já deveriam estar acontecendo e não estão, provavelmente em parte pelas disputas internas do governo, mas também pela inação do governador.
Há pouco tempo, tudo levava a crer que José Serra iria montar no cavalo selado que ia passando pelo caminho para levá-lo à presidência da República. Hoje, as coisas não parecem mais tão simples assim. O PSDB dividido e com problemas em sua maior vitrine eleitoral pode ser uma mão na roda para o lulismo continuar no Poder, com Lula ou sem ele.
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