O ex-deputado federal Plínio Arruda Sampaio é uma das mais lúcidas e experientes vozes da esquerda radical brasileira. Candidato ao governo de São Paulo pelo PSOL no ano passado, Plínio atualmente divide seu tempo entre as tarefas para a consolidação de seu partido e o semanário Correio da Cidadania, que dirige desde 1995. Com a autoridade de quem já viu e viveu muita coisa na política nacional, Plínio ficou indignado com a cobertura dos jornais de São Paulo das manifestações do Dia do Trabalho na capital paulista e decidiu enviar uma carta ao Diretor de Redação da Folha de S. Paulo, Otavio Frias Filho, e ao presidente do Conselho de Administração de O Estado de S. Paulo, Roberto C. Mesquita.
A argumentação de Plínio é cristalina e contra os fatos por ele apresentados, não há argumentos: a manifestação contra o governo organizada pelo Conlutas foi simplesmente ignorada pelos jornalões, embora tenha reunido 20 mil pessoas e se constituído no único fato político relevante no Dia do Trabalho deste ano. A menos que se considere fato político a demonstração de preconceito contra os homossexuais do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, já comentada aqui. Um ato de operários contra o governo Lula é pauta relevante e mereceria o devido destaque, até para mostrar ao público que talvez a única oposição real hoje no país esteja mesmo nos extremos – à esquerda e à direita –, uma vez que o PSDB parece capitular mais a cada dia que passa.
Folha e Estadão não são propriamente jornais simpáticos ao presidente Lula, de forma que não deixa de ser curioso que tenham ignorado esta manifestação contra o governo do ex-operário. Talvez os jornalões estejam por demais entretidos nas articulações para derrubar o veto de Lula à Emenda 3 do projeto que criou a Super Receita para permitir destaque às manifestações da esquerda radical...
A seguir, a íntegra da carta de Plínio a Frias Filho e Mesquita:
No dia 1° de maio, na cidade de São Paulo, houve quatro celebrações do Dia do Trabalho: a da Força Sindical, que reuniu um milhão e oitocentas mil pessoas; a da CUT, que reuniu trezentas mil; a da CGT, que não se sabe quantas pessoas reuniu, porque sumiu do noticiário; e a das centrais sindicais e movimentos populares de oposição ao governo - Intersindical; Conlutas; MST; Pastoral Operária; MTST e vários outros -, que reuniu vinte mil pessoas.
A primeira, segundo a Folha de São Paulo, com um orçamento de três milhões de reais, sorteou cinco apartamentos e dez automóveis entre os presentes; a segunda, ao custo de dois milhões e quinhentos mil reais, brindou o público com um show do Zeca Pagodinho e vários renomados artistas; a terceira custou setecentos mil reais e não se sabe o que ofereceu; e a quarta constou unicamente de discursos sobre a situação da classe trabalhadora. Reuniu vinte mil pessoas.
Os dois jornais de maior circulação na cidade - a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo - noticiaram somente as duas primeiras. Negaram, portanto, aos seus leitores, a informação de que, sem qualquer dos artifícios usados pelas duas centrais governistas para atrair público, as centrais e os movimentos populares de oposição encheram de gente a Praça da Sé.
Venho protestar contra essa omissão, pois a informação constitui requisito essencial da democracia.
Atenciosas saudações,
Plínio Arruda Sampaio
A argumentação de Plínio é cristalina e contra os fatos por ele apresentados, não há argumentos: a manifestação contra o governo organizada pelo Conlutas foi simplesmente ignorada pelos jornalões, embora tenha reunido 20 mil pessoas e se constituído no único fato político relevante no Dia do Trabalho deste ano. A menos que se considere fato político a demonstração de preconceito contra os homossexuais do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, já comentada aqui. Um ato de operários contra o governo Lula é pauta relevante e mereceria o devido destaque, até para mostrar ao público que talvez a única oposição real hoje no país esteja mesmo nos extremos – à esquerda e à direita –, uma vez que o PSDB parece capitular mais a cada dia que passa.
Folha e Estadão não são propriamente jornais simpáticos ao presidente Lula, de forma que não deixa de ser curioso que tenham ignorado esta manifestação contra o governo do ex-operário. Talvez os jornalões estejam por demais entretidos nas articulações para derrubar o veto de Lula à Emenda 3 do projeto que criou a Super Receita para permitir destaque às manifestações da esquerda radical...
A seguir, a íntegra da carta de Plínio a Frias Filho e Mesquita:
No dia 1° de maio, na cidade de São Paulo, houve quatro celebrações do Dia do Trabalho: a da Força Sindical, que reuniu um milhão e oitocentas mil pessoas; a da CUT, que reuniu trezentas mil; a da CGT, que não se sabe quantas pessoas reuniu, porque sumiu do noticiário; e a das centrais sindicais e movimentos populares de oposição ao governo - Intersindical; Conlutas; MST; Pastoral Operária; MTST e vários outros -, que reuniu vinte mil pessoas.
A primeira, segundo a Folha de São Paulo, com um orçamento de três milhões de reais, sorteou cinco apartamentos e dez automóveis entre os presentes; a segunda, ao custo de dois milhões e quinhentos mil reais, brindou o público com um show do Zeca Pagodinho e vários renomados artistas; a terceira custou setecentos mil reais e não se sabe o que ofereceu; e a quarta constou unicamente de discursos sobre a situação da classe trabalhadora. Reuniu vinte mil pessoas.
Os dois jornais de maior circulação na cidade - a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo - noticiaram somente as duas primeiras. Negaram, portanto, aos seus leitores, a informação de que, sem qualquer dos artifícios usados pelas duas centrais governistas para atrair público, as centrais e os movimentos populares de oposição encheram de gente a Praça da Sé.
Venho protestar contra essa omissão, pois a informação constitui requisito essencial da democracia.
Atenciosas saudações,
Plínio Arruda Sampaio
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