Pular para o conteúdo principal

Jorge Rodini: o Buda da corrupção

Em mais uma colaboração para o Entrelinhas, Jorge Rodini, diretor do instituto de pesquisas Engrácia Garcia, comenta a Operação Navalha e lamenta mais este escândalo de corrupção no Brasil. Leia a íntegra a seguir:

O Brasil assiste, perplexo, a mais um show de horrores. Depois dos mandos e desmandos dos magistrados, agora a farra é patrocinada por governadores, ex-governadores, secretários estaduais, empresários lobistas e uma grande construtora (de pontes inacabadas e estradas virtuais).

Sidarta Gautama é o Buda. O dono da construtora, ex-sócio da famigerada OAS, homenageou Buda nominando sua nova empresa. Já denominado de "Marcos Valério do Nordeste", este empresário povoou a região de estradas imaginárias, pontes de pó e obras fantasmas, pagando grandes propinas às personagens já mencionadas.

Para o brasileiro comum, mais uma decepção. Para a ministra Dilma Rousseff, um indício de que as obras do PAC vão ser beneficiadas pelo exemplo de que o "crime não compensa". Para mim, é só mais uma constatação. Em estados como o Maranhão, a Polícia Federal e o Ministério Público deveriam investigar, ainda mais a fundo, os últimos muitos anos de mandatos de políticos que ainda se servem até hoje de cargos públicos eletivos. Tem muita areia e terra fofa debaixo destas pontes, estradas e obras.

Mais uma vez, os brasileiros esperam por Justiça... Aos culpados, todo o rigor; aos que se consideram acusados injustamente, muita atenção com as más companhias.

Nós, brasileiros e brasileiras, esperamos atingir o Nirvana, assim como Buda. A ausência de mais dor e sofrimento seriam suficientes para sermos felizes. No entanto, a continuar como está, todos nós cairemos na vala comum.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...