Eleição no Brasil, via de regra, é focada no Poder Executivo. O eleitor decide-se, seja mais cedo, seja mais tarde, pelo candidato a prefeito, governador ou presidente de sua preferência. Avalia sua história de vida, sua personalidade e suas propostas de governo. E, sobretudo, as compara com as dos demais postulantes. Já a decisão de voto para os cargos legislativos fica na maioria das vezes, ao que parece, em segundo plano.
Para piorar, no atual momento da História política brasileira a imagem dos políticos em geral, e do Poder Legislativo em particular, não é das melhores. Após mais de um ano de denúncias de corrupção envolvendo de mensaleiros a sanguessugas, acrescidas dos processos de absolvição de diversos acusados por parte dos próprios congressistas, é de se esperar uma quantidade não desprezível de votos nulos ou brancos para o Congresso Nacional, e especialmente para a Câmara dos Deputados. E ai surge a pergunta: num cenário assim tão ruim, quem tem maiores chances de eleger-se deputado federal?
Se se parte da hipótese de que a quantidade de votos válidos para o Legislativo deverá ser menor do que em outros pleitos, diminui por conseqüência o número de votos necessários para que um candidato seja eleito. Desta forma, aumentam as chances de êxito daqueles candidatos que representam regiões geográficas restritas ou setores sociais específicos. Assim, é bastante provável que prefeitos e ex-prefeitos de cidades com colégio eleitoral de médio e grande porte se elejam para a Câmara dos Deputados. O mesmo deve valer para candidatos que buscam representar setores da economia ou segmentos circunscritos da sociedade.
Acrescente-se a isso o endurecimento da legislação eleitoral deste ano, que prevê fortes restrições à propaganda política, e se vê que aqueles candidatos suprapartidários, que conseguem amealhar votos em todas as regiões e em todos os segmentos sociais, deverão ter mais dificuldades para alcançar o patamar mínimo de votos para chegar à Câmara. Obviamente alguns medalhões, presentes nos principais partidos, seguirão como campeões das urnas e grandes puxadores de votos, carregando consigo alguns companheiros de legenda. Mas é bastante provável que as urnas de 2006 nos apresentem um cenário mais distritalizado na representação legislativa, no qual regiões geográficas e setores sociais específicos poderão contribuir mais do que outras variáveis para a formação de bancadas marcadas pelo paroquialismo. Se for isto o que sair das urnas, poderemos ter uma Câmara dos Deputados com jeitão de Câmara dos Vereadores. A conferir.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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