Pular para o conteúdo principal

Só Plínio esquentou o debate paulista na Band

O signatário deste blog esteve ontem no debate realizado pela TV Bandeirantes entre os candidatos ao governo de São Paulo. Foi um programa sem grandes emoções, marcado pela ausência do tucano José Serra, líder nas pesquisas, que foge de debates como o vampiro foge da cruz. Os poucos momentos de confronto foram proporcionados pelo candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, que deixou o senador petista Aloizio Mercadante encostado nas cordas ao comparar os investimentos dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. O pastor Carlos Apolinário, do PDT, também se destacou ao usar quase todas as suas respostas para cobrar a presença de Serra e bater forte nos 12 anos de gestão tucana em São Paulo.

Se as performances de Plínio e Apolinário foram as que mais chamaram atenção do público, é preciso também atentar para a estratégia de cada um dos candidatos e tentar perceber se os objetivos foram cumpridos. Muitas vezes, o candidato parece ter ido bem para olhos leigos, mas não cumpriu o papel que seu staff de campanha havia combinado.

Assim, pode-se dizer que o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) foi para a TV Bandeirantes como o objetivo de mostrar que é, entre todos os competidores, o mais experiente, o único que tem realizações de governo, enfim, o melhor preparado para assumir o cargo que um dia já foi seu. Em alguns momentos, Quércia pode ter parecido repetitivo ao falar de Educação, Segurança e Emprego, mas a repetição é forçada, proposital, pois são esses os eixos da campanha peemedebista, que pretende criar um "círculo virtuoso" no Estado (melhor educação possibilita ao jovem que conquiste uma boa vaga de trabalho; e o menor desemprego melhora os problemas da violência).

Já o candidato Aloizio Mercadante pedeceu ontem de uma estratégia clara no debate. Não forçou o embate com o ausente José Serra, caiu na armadilha de provocar o ex-petista Plínio Sampaio e também não "grudou" a sua imagem à de Lula. No fundo, tudo que o senador fez foi desfilar números à exaustão, certamente com o intuito de provar que é quem melhor domina a "ciência" de governar. O problema todo é que o eleitor já deu mostras de que não está tão interessado nesses qualificativos "técnicos" – do contrário o presidente Lula não estaria à frente de Geraldo Alckmin.

Quanto a Plínio e Apolinário, certamente os dois também cumpriram seus objetivos: Plínio polarizou com Mercadante e saiu do programa como o único a se diferenciar verdadeiramente das teses neoliberais. Sua performance também fugiu do feijão com arroz dos demais e o o candidato do PSOL conseguiu atrair atenção para si, outro objetivo importante para quem tem tão pouco tempo na propaganda eleitoral gratuita. Já Apolinário foi ao debate para se apresentar como o "anti-Serra". Com sua retórica inflamada de pastor, também conseguiu passar esta imagem. Resta saber se conseguiu com tal estratégia ganhar algum voto para si ou apenas irritou o eleitor de Serra.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...