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Para começar a discussão sobre o debate

O debate realizado ontem com os presidenciáveis contou com a presença, nos estúdios da TV Bandeirantes, do signatário deste blog, que dividirá com os seus poucos mas atentos leitores os bastidores do evento. Vamos, porém, começar pelo final: se não está claro quem venceu o embate, uma coisa é certa: Geraldo Alckmin (PSDB) foi o grande perdedor da noite. É o que pensam alguns tucanos e simpatizantes do ex-governador. Confira abaixo o que escreveu, por exemplo, o jornalista Reinaldo Azevedo, um incansável defensor da candidatura de Alckmin que acompanhou o debate em tempo real em seu blog.

Alckmin: ou muda ou adeus

Chegamos ao fim do debate e da picada. Como analista, estou frio como gelo. Como eleitor, irritado. O primeiro vai falar, mas vigiado pelo segundo. Só dois candidatos tinham importância na noite: Geraldo Alckmin (PSDB) e Heloísa Helena (PSOL). O resto era coadjuvante. Falando, muitas vezes, bobagens em proporções pantragruélicas, ela deu, no entanto, um banho no seu adversário. Quando preciso, sem jamais se descuidar de bater em Lula, muito mais do que ele, juntou PSDB e PT no mesmo saco de gatos pardos. Não sei qual foi o Ibope do debate. Mas algo parecido em horário quase nobre, na TV Globo, pode liquidar Alckmin para sempre: Lula disputa o segundo turno com Heloísa Helena, e eu vou tocar flauta de bambu em Machu Picchu.
Qual foi o melhor momento de Alckmin? O último bloco, justamente aquele em que falou sozinho, repetindo suas prioridades, como um autômato. Aliás, espero que Luiz González, o marqueteiro do PSDB, consiga ensinar o candidato a falar “com” os outros, o que não se viu nesta noite. A tática de usar perguntas e respostas para expor medidas que adotou quando governante ou para anunciar metas, ignorando o que foi perguntado, é irritante para quem entende o que está em curso e inútil para quem não entende. Sem Lula, o palco é tomado por Heloisa Helena, com sua mistura de socialismo doidivanas, misticismo cristão e discurso iracundo. Mas uma ira que sabe ser doce e dar um sorrisinho: “Ai, acabou o meu tempo...”, toda catita, com seu ar de freirinha. Eu bem que recomendei não ir. Foi? Agora vai ter de enfrentar os outros embates. E a coisa tende a se repetir.
A única esperança de Alckmin é o início do horário eleitoral gratuito. Ele é bom de TV. Bom quando fala sozinho. Passa uma imagem de decência e de credibilidade. Tem um governo virtuoso em São Paulo, com números vistosos. Mesmo a questão da segurança pública pode ser respondida a contento. Jamais deveria ter-se metido a debater quando a sua opositora, por força das circunstâncias, seria Heloísa Helena. Alckmin deveria ter escolhido o seu adversário: Lula. E, se é Lula, o petista não estando presente, ele também não deveria ter ido. Foi por excesso de soberba: sua e da equipe. A máxima “ele é bom de TV” funciona no horário eleitoral, não no debate direto.
Ou que, então, tivesse a coragem de comprar briga. Mais de uma vez, Heloisa Helena avançou na jugular do PSDB com bobagens ou demonstrou, por meio do raciocínio mágico, como vai baixar a taxa de juros. Alckmin, claro, não pegou no pé dela porque se supõe que possa ajudar a levar a disputa para o segundo turno. Ok. Ela poderia fazê-lo sem que precisasse haver ali o efeito comparação, danoso pra ele. Outra coisa para Gonzáles: Alckmin deu a impressão de ter 7.895 prioridades, o que significa não ter nenhuma. No terceiro substantivo ou verbo encadeando medidas, o eleitor já está coçando o dedão, pensando em fazer sexo, comer bolacha, fazer xixi, na lista do supermercado do dia seguinte.
Já passamos da meia-noite. Hoje, terça-feira, começa o horário eleitoral gratuito na TV. Começa o tempo da desvantagem de Heloísa Helena e da vantagem — ao menos potencial — de Alckmin. É a hora do tudo ou nada. As duas próximas semanas serão decisivas. Se, dentro de 15 dias, alguma pesquisa ainda indicar a vitória de Lula no primeiro turno, a vaca tucano-pefelista já terá ido pra o brejo. Vou votar em Alckmin e considero vital para o Brasil derrotar Lula. Por isso mesmo, espero que aqueles que pensam como eu e têm influência na campanha estejam convictos de que seu desempenho foi sofrível. Com essa temperatura, ele não vai longe.
Nessas horas, é muito comum um cordão de puxa-sacos, pensando em salvar a própria pele, bater no ombro do chefe dizendo que "foi tudo bem". Não foi.

Meu candidato tem desempenho pífio

Sim, vou votar em Alckmin, todo mundo sabe. Mas ele está despreparado para o debate. Eu havia aqui recomendado que não fosse porque seu embate teria de ser com Lula. Não faz sentido tomar olé de Heloisa Helena. E ainda com a ajuda do jornalismo. Como o programa estava chatíssimo, Franklin Nartins, ex-globo, sentiu cheiro de sangue se fizesse uma pergunta dura a Alckmin com comentário da candidata do PSOL. Dado tudo o que acontece com a segurança em São Paulo, Franklin quis saber onde Alckmin errou. Ele deu uma boa resposta, verdadeira, mostrando o quanto investiu em São Paulo e a queda dos índices de violência. E Heloísa Helena mandou brasa: acusou o conluio PSDB-PT que conspiraria contra a segurança, sugerindo que a população é refém de uma luta política. José Paulo de Andrade fez a Loló uma questão sobre reforma agrária e a violência no campo. Ela falou bobagens generalistas a mais não poder. Começou dizendo que falava em nome de quem tinha vergonha na cara e amor no coração. Sim, o dinheiro dos juros servirá também para isso. Alckmin, desatento, não se dando conta de que o embate era com quem era, falou: “No meu governo, invadiu, vai ter de desinvadir”. Tá certo. Só que isso você pode dizer se quem vier depois for Bivar ou Cristovam Buarque. Mas era Loló. O que ela disse? “No meu governo, vou combater a invasão de banqueiros”. E, mais uma vez, juntou PSDB e PT: “Vou fazer uma auditoria no governo FHC e no governo Lula”. Joelmir Betting quis saber de Alckmin se ele faria uma reforma trabalhista para combater o desemprego. O tucano poderia ter deitado e rolado, inclusive explorando os altos índices de desemprego no Brasil e o fato óbvio de que crescem os empregos de mais baixos salários e decrescem os que pagam mais. Não fez isso. Falou em reformas genéricas e não lembrou o óbvio: Lula prometeu 10 milhões de empregos. Vai entregar 4 milhões. Seu desempenho é pífio.

Dá-lhe Loló. Mais um. Até Eymael foi engraçado. E Alckmin?

Está chato. Se ficar mais chato do que isso, eu desisto. Há alguma chance de que melhore no quarto bloco, com a pergunta dos jornalistas. Alckmin está cometendo um erro fatal — e é bom seus marqueteiros saberem disso. Está usando as oportunidades de perguntas como se fossem horário eleitoral gratuito. Em vez de responder o que foi perguntado, desanda a falar sobre o conjunto da obra feita e do que pretende fazer. Duvido que isso não seja antipático a quem não vota nele. Quem já está convencido não dá pelota. Mas debate é feito para conquistar quem não foi conquistado ou para mudar preferências. Heloísa Helena o indagou sobre a desvinculação de receita para a área de saúde, ele começou a falar de reforma tributária e lembrou que cortou ICMS da farinha, do pão e do biscoito... Assim não vai longe, com Lula ou sem Lula. No fim do bloco, o tal Bivar, que até fala coisa com coisa, indagou Loló sobre o tamanho do Estado. Mel da sopa. O Estado não é grande, mas é ineficiente por causa da corrupção, dos desmandos, dos juros, dos banqueiros etc. E deu pau no Lula, o ausente, de novo. Até Eymael conseguiu ser engraçado: disse que o petista não foi ao debate porque não deveria saber de sua existência. Já que nunca sabe de nada. Sim, a candidata do PSOL levou este também.

Alckmin vai bem, mas Loló ganha mais um

No segundo bloco, com candidato perguntando a candidato, o tucano Geraldo Alckmin até que se recuperou, pegou mais pesado com Lula, lembrando a sua ausência e fez uma pergunta a Heloísa Helena sobre educação. Ela deu uma resposta em que, para variar, cutucou o petista: “O setor terá R$ 90 bilhões, mas não para gastar com sanguessugas e mensaleiros”. Eymael quis saber de Alckmin onde foi que ele errou por causa do PCC. O ex-governador deu uma boa resposta, exibiu dados corretos, verdadeiros, sobre a queda da violência no Estado e cobrou, de novo, a ausência de Lula. Observou que, no ano passado, foram concedidos 63 portes de armas legais no Estado inteiro — de 41 milhões de habitantes —, mas que a Polícia apreende uma arma no Estado a cada 14 minutos, que chega via contrabando. A quem cabe coibir isso? Ao governo federal. O desempenho do tucano foi bom. Mas Loló dividiu o estrelato com ele e ganhou por pontos ao fazer uma dobradinha com Cristovam Buarque num colóquio sobre educação. O ex-ministro petista e atual candidato do PDT reconheceu os esforços "notáveis" da senadora nessa área. Ela continua a ser a estrela de um debate chatíssimo. Loló estão tão solta, que até falou com a produção do programa, fazendo metalinguagem ao vivo. Lula sabe bem do que escapou.

Loló fatura o primeiro bloco

Heloísa Helena faturou o primeiro bloco, ora, ora... A pergunta era péssima. Qualquer bobagem na linha: “Todo mundo promete a mesma coisa, saúde, educação, combate à corrupção”. Mas por onde começar? Dois minutos para cada um. O tal Bivar usou apenas um. Não tinha mais o que dizer: reforma tributária e imposto único resolvem. Alckmin foi amplo demais. Era para escolher um setor para começar a trabalhar, ele escolheu todos. Aplaudiu o espírito democrático de quem estava ali para debater. Referia-se à cadeira vazia de Lula. Mas ninguém deve ter percebido. Cristovam Buarque disse que tudo começa com a Educação; Eymael também quer reforma tributária. E, bem, chegou a vez de Heloísa Helena. Quase um minuto dos dois que tinha foi dedicado a descascar Lula, que não estava lá. Acusou o seu desrespeito, a sua arrogância, a sua falta de apreço pela democracia. E depois foi tão generalista quanto Alckmin, mas com duas pegadas: se ela ganhar, os banqueiros e os corruptos ficarão infelizes. Demagogia? Pode ser. Como ninguém ali resolveria os problemas do mundo, cumpria pegar no breu. Ela pegou. O primeiro bloco foi dela.

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