Está muito bom o artigo abaixo, publicado no excelente Terra Magazine, de Bob Fernandes. O professor Julio Gomes de Almeida, mostra como as políticas públicas do governo Lula estão ajudando o país a superar a crise econômica. É, parece que desta vez os tucanos não vão poder dizer que os méritos do bom momento da economia nacional devem ser atribuídos ao ex-presidente FHC, aquele que quebrou o país três vezes e até hoje acredita em ter implantado os "bons fundamentos" da economia nacional...
O segredo do crescimento do comércio
Julio Gomes de Almeida
De São Paulo
As políticas públicas de investimento e de rendas são muito combatidas no Brasil, mas a crise econômica mostrou como podem ser importantes e não somente como instrumento de desenvolvimento da infraestrutura e da redução das desigualdades sociais, mas também como mecanismo anticíclico.
Os dados do varejo nacional para o primeiro semestre mostram que poucos setores da economia contribuíram tanto para sustentação do nível de emprego e renda na economia brasileira como o comércio. O volume de vendas aumentou 4,4%. Em parte, esse desempenho resultou de ações das empresas do setor para manter o crédito à clientela no período em que os bancos paralisaram a concessão de novos financiamentos e aumentaram enormemente o custo do crédito para as famílias e para o consumidor, especialmente entre os meses de outubro de 2008 e fevereiro desse ano.
Também foi consequência de seguidas promoções e rebaixas de preços promovidos pelo setor para incentivar suas vendas. A dura negociação de preços das empresas do varejo empurrou para a indústria uma parte significativa do ônus das reduções de preços, fator responsável por um encolhimento das margens industriais entre o último trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009. Em certos segmentos, foram relevantes também as reduções e isenções de impostos que o governo promoveu como nos casos de automóveis, produtos da chamada linha branca e materiais de construção.
Mas o fator de fundo que protegeu o nível de atividade do setor foi a preservação da renda e do emprego a partir precisamente de políticas governamentais como os programas de investimento do PAC, a complementação de renda da população mais pobre a partir do "Bolsa Família", o aumento do salário mínimo, o seguro desemprego, dentre outros. Em todos esses casos, diante da crise internacional o governo brasileiro reafirmou os gastos e investimentos anteriormente programados, como, por exemplo, no caso dos investimentos do PAC e do aumento do salário-mínimo previsto para fevereiro de 2009.
Mas de forma geral o governo foi além e ampliou o horizonte desses programas, além de instituir outras iniciativas, dentre elas o programa "Minha casa, minha vida", para a construção de habitação popular. No caso dos investimentos do PAC, aumentou as inversões programadas para a Petrobrás a partir da exploração das reservas de petróleo do pré-sal, anunciou programas novos como o trem de alta velocidade e vem confirmando investimentos de infra-estrutura para a realização da Copa do Mundo de futebol em 2014. No "Bolsa Família", reajustou seus valores recentemente (em 10%) e ampliou o prazo do seguro-desemprego.
Em si a reafirmação dos programas públicos e sua ampliação têm relevância direta porque ajudam a manter o gasto doméstico em um momento em que as inversões privadas, as vendas para o exterior e as compras a crédito por parte dos consumidores brasileiros declinaram fortemente. Mas há ainda um fator que atua ao nível das expectativas. As ações tomadas pelo governo amenizaram o efeito psicológico da crise sobre o ânimo de todos os agentes econômicos, especialmente do consumidor, o que ajudou a reduzir o seu receio de desemprego e preservou suas decisões de gasto em consumo, especialmente o gasto com base na sua renda. Também contribuiu para que no âmbito das expectativas empresariais de curto prazo os empresários contivessem suas decisões de dispensas de mão de obra, o que ajudou a segurar a onda de demissões que se apresentou na virada de 2008 para 2009.
Esses fatores tiveram influência relevante nas vendas do varejo. De um modo geral, se pode afirmar que os setores que mais sofreram as dificuldades causadas pelo agravamento da situação internacional desde o último trimestre do ano passado foram aqueles mais dependentes de crédito. Já os setores mais associados à renda real da população tiveram um desempenho mais regular e positivo.
É digno de registro o setor de produtos alimentícios e bebidas, o segmento de maior peso na composição do varejo brasileiro. Sua evolução foi de 6,8% no primeiro semestre com relação ao mesmo período de 2008, performance esta que reflete a preservação da renda real da população. Crescimentos ainda maiores foram registrados em artigos farmacêuticos e de perfumaria, com aumento de 11,8%; outros artigos de uso pessoal e doméstico, +9,5% e livros, jornais, revistas e papelaria, +8,6%, todos esses segmentos do comércio em que o poder de compra da população tem um papel determinante.
Já o setor dependente do crédito por excelência, como móveis e eletrodomésticos enfrentou queda de 2,3% a despeito da redução de impostos que incentivaram as vendas de geladeiras, fogões e máquinas de lavar. Em material de construção, as vendas reais caíram 10%. O segmento de automóveis teve aumento de 5,3%, mas é amplamente reconhecida no setor a relevância absoluta para esse resultado do incentivo tributário que o governo concede desde o fim do ano passado na aquisição de veículos.
É importante observar que o setor varejista não só teve um bom desempenho no conjunto do primeiro semestre do ano, como está mostrando uma aceleração em seu crescimento. Em maio na comparação com abril registrou aumento de 0,4%, mas a evolução já foi maior em junho, 1,7%. Isso significa dizer que o setor inicia o segundo semestre com uma tendência de aceleração em seu movimento. É uma boa perspectiva, que faz com que as projeções de seu crescimento para o ano possam ficar na faixa de uma evolução como 6%. Bem abaixo do crescimento de 10% em 2008, mas um magnífico resultado se são levadas em conta as dificuldades de um ano de crise.
Júlio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
O segredo do crescimento do comércio
Julio Gomes de Almeida
De São Paulo
As políticas públicas de investimento e de rendas são muito combatidas no Brasil, mas a crise econômica mostrou como podem ser importantes e não somente como instrumento de desenvolvimento da infraestrutura e da redução das desigualdades sociais, mas também como mecanismo anticíclico.
Os dados do varejo nacional para o primeiro semestre mostram que poucos setores da economia contribuíram tanto para sustentação do nível de emprego e renda na economia brasileira como o comércio. O volume de vendas aumentou 4,4%. Em parte, esse desempenho resultou de ações das empresas do setor para manter o crédito à clientela no período em que os bancos paralisaram a concessão de novos financiamentos e aumentaram enormemente o custo do crédito para as famílias e para o consumidor, especialmente entre os meses de outubro de 2008 e fevereiro desse ano.
Também foi consequência de seguidas promoções e rebaixas de preços promovidos pelo setor para incentivar suas vendas. A dura negociação de preços das empresas do varejo empurrou para a indústria uma parte significativa do ônus das reduções de preços, fator responsável por um encolhimento das margens industriais entre o último trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009. Em certos segmentos, foram relevantes também as reduções e isenções de impostos que o governo promoveu como nos casos de automóveis, produtos da chamada linha branca e materiais de construção.
Mas o fator de fundo que protegeu o nível de atividade do setor foi a preservação da renda e do emprego a partir precisamente de políticas governamentais como os programas de investimento do PAC, a complementação de renda da população mais pobre a partir do "Bolsa Família", o aumento do salário mínimo, o seguro desemprego, dentre outros. Em todos esses casos, diante da crise internacional o governo brasileiro reafirmou os gastos e investimentos anteriormente programados, como, por exemplo, no caso dos investimentos do PAC e do aumento do salário-mínimo previsto para fevereiro de 2009.
Mas de forma geral o governo foi além e ampliou o horizonte desses programas, além de instituir outras iniciativas, dentre elas o programa "Minha casa, minha vida", para a construção de habitação popular. No caso dos investimentos do PAC, aumentou as inversões programadas para a Petrobrás a partir da exploração das reservas de petróleo do pré-sal, anunciou programas novos como o trem de alta velocidade e vem confirmando investimentos de infra-estrutura para a realização da Copa do Mundo de futebol em 2014. No "Bolsa Família", reajustou seus valores recentemente (em 10%) e ampliou o prazo do seguro-desemprego.
Em si a reafirmação dos programas públicos e sua ampliação têm relevância direta porque ajudam a manter o gasto doméstico em um momento em que as inversões privadas, as vendas para o exterior e as compras a crédito por parte dos consumidores brasileiros declinaram fortemente. Mas há ainda um fator que atua ao nível das expectativas. As ações tomadas pelo governo amenizaram o efeito psicológico da crise sobre o ânimo de todos os agentes econômicos, especialmente do consumidor, o que ajudou a reduzir o seu receio de desemprego e preservou suas decisões de gasto em consumo, especialmente o gasto com base na sua renda. Também contribuiu para que no âmbito das expectativas empresariais de curto prazo os empresários contivessem suas decisões de dispensas de mão de obra, o que ajudou a segurar a onda de demissões que se apresentou na virada de 2008 para 2009.
Esses fatores tiveram influência relevante nas vendas do varejo. De um modo geral, se pode afirmar que os setores que mais sofreram as dificuldades causadas pelo agravamento da situação internacional desde o último trimestre do ano passado foram aqueles mais dependentes de crédito. Já os setores mais associados à renda real da população tiveram um desempenho mais regular e positivo.
É digno de registro o setor de produtos alimentícios e bebidas, o segmento de maior peso na composição do varejo brasileiro. Sua evolução foi de 6,8% no primeiro semestre com relação ao mesmo período de 2008, performance esta que reflete a preservação da renda real da população. Crescimentos ainda maiores foram registrados em artigos farmacêuticos e de perfumaria, com aumento de 11,8%; outros artigos de uso pessoal e doméstico, +9,5% e livros, jornais, revistas e papelaria, +8,6%, todos esses segmentos do comércio em que o poder de compra da população tem um papel determinante.
Já o setor dependente do crédito por excelência, como móveis e eletrodomésticos enfrentou queda de 2,3% a despeito da redução de impostos que incentivaram as vendas de geladeiras, fogões e máquinas de lavar. Em material de construção, as vendas reais caíram 10%. O segmento de automóveis teve aumento de 5,3%, mas é amplamente reconhecida no setor a relevância absoluta para esse resultado do incentivo tributário que o governo concede desde o fim do ano passado na aquisição de veículos.
É importante observar que o setor varejista não só teve um bom desempenho no conjunto do primeiro semestre do ano, como está mostrando uma aceleração em seu crescimento. Em maio na comparação com abril registrou aumento de 0,4%, mas a evolução já foi maior em junho, 1,7%. Isso significa dizer que o setor inicia o segundo semestre com uma tendência de aceleração em seu movimento. É uma boa perspectiva, que faz com que as projeções de seu crescimento para o ano possam ficar na faixa de uma evolução como 6%. Bem abaixo do crescimento de 10% em 2008, mas um magnífico resultado se são levadas em conta as dificuldades de um ano de crise.
Júlio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Luiz, cadê a cobertura ao vivo do blog do debate Mercadante x Lina! A mulher tá na parede!
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