Pular para o conteúdo principal

Uma semana dura para
o PT e o futuro do lulismo

Dizem que na política agosto é mais do que mês do desgosto. É o período em que mudanças críticas acontecem. Juscelino Kubitschek morreu em um acidente de carro até hoje misterioso - tem gente que jura que foi assassinato - no dia 22. Getúlio Vargas se matou no dia 24. Jânio Quadros renunciou dia 25. Fernando Collor viu seu processo de impeachment ser aberto no dia 28. Costa e Silva deixou a presidência no último dia do mês.

Neste ano de 2009, muita coisa está acontecendo em agosto. Já tem gente decretando a morte do PT, por exemplo, após a votação no Conselho de Ética do Senado do arquivamento dos processos contra José Sarney (PMDB-AP). O episódio de fato balançou o partido do presidente Lula - em consequência dele, o senador Flávio Arns deve deixar a legenda e Aloizio Mercadante, se mantiver a palavra, sai da liderança da bancada no Senado – neste caso particular, talvez seja uma boa notícia para o PT, tamanha a inabilidade política do líder. Tudo somado, não foi pouca coisa. Porém, não é a morte do PT.

A saída de Marina Silva do partido também representa um golpe duro no petismo, mas já era esperada. Sua candidatura à presidência deverá provocar um certo rebuliço, mas é preciso ir com calma para perceber a real força eleitoral de Marina.

A questão que sobra é simples: afinal, o Partido dos Trabalhadores vai se tornar um "PL", "Partido do Lula" ou conseguirá se manter orgânico à margem do grande líder, que hoje já é um personagem bem maior e politicamente mais amplo, digamos assim, do que o PT? É muito difícil responder a esta questão hoje, será preciso esperar um pouco para entender como é que o próprio Lula está imaginando a sucessão de seu patrimônio político. Dilma Rousseff não será a herdeira, mesmo que vença as eleições, porque Lula é novo e certamente tentará voltar em 2014.

A questão é mais complicada, trata-se de um invejável capital político que só ele, Luiz Inácio Lula da Silva, possui e é capaz de delegar a outrém quando decidir se afastar da política ou estiver em idade para tal. O varguismo e o janismo, por exemplo, permaneceram vivos por muito tempo após a morte dos líderes - mais no primeiro caso, menos no segundo. Nenhum dos dois jamais foi tão popular como Lula. O que vai acontecer com o lulismo a partir do dia em que o presidente deixar o Palácio do Planalto é uma história a ser conferida e diz muito do futuro do Brasil. Até porque, qualquer que seja o presidente da República a partir de 1° de janeiro de 2011, Lula será a grande referência da política brasileira e com ele inevitavelmente seu sucessor será comparado.

Vale a pena lembrar, para encerrar esta reflexão, a excelente percepção do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) sobre o cenário futuro. Disse Ciro: "[Lula] defende o Sarney e aguenta. Defende o Renan e aguenta. Confraterniza com Collor e aguenta. Quero saber se eu aguento, se o Serra aguenta, se a Dilma aguenta. Ninguém mais aguenta."

Será realmente uma tarefa complicada assumir a presidência da República após Lula.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...