Pular para o conteúdo principal

Ainda sobre a candidatura de Marina Silva

Leitores pedem para o blog analisar, a sério, a eventual candidatura de Marina Silva à presidência da República. Vamos lá: primeiro, é preciso reconhecer que a senadora petista tem carisma, é uma excelente oradora, treinada no parlamento, e foi ótima ministra de Estado. Portanto, está qualificada a concorrer. Candidaturas, porém, precisam ser entendidas dentro de um contexto político determinado. Se Marina concorresse pelo PT, com apoio do presidente Lula e da máquina do governo, seria uma candidata muito forte, talvez tanto quanto Dilma Rousseff. Com algumas vantagens e outras tantas desvantagens: a ex-ministra fala melhor e não tem a imagem de arrogância da atual pré-candidata petista, por outro lado Marina Silva provavelmente não teria o apoio das chamadas "classes produtivas", isto é, os empresários. Boa parte deles ainda vê como um problemão a postura conservacionista da antecessora de Carlos Minc na pasta do Meio Ambiente.

Tudo isto posto, uma eventual candidatura de Marina pelo PV pode se configurar um tiro no pé da senadora. Sim, porque não dá para levar muito a sério um partido ambíguo, para dizer o mínimo, como os verdes brasileiros. É bom lembrar que Zequinha Sarney, filho do presidente do Senado, é um dos próceres do PV, tendo servido como ministro do Meio Ambiente de Fernando Henrique Cardoso. É evidente que Marina, mesmo em um partido pequeno, sem estrutura e dinheiro para entrar na parada de verdade, poderia fazer bonito e conquistar, com seu jeito doce e firme, uma boa parcela do eleitorado. Dificilmente, porém, disputaria o segundo turno. Ao contrário, poderia tirar votos da ministra Dilma e até facilitar a eleição do tucano José Serra (ou Aécio Neves) no primeiro escrutínio.

Na atual conjuntura, este blog acha que a melhor saída para Marina Silva seria anunciar que é, sim, pré-candidata à presidência da Reública, mas pelo PT. E disputar as prévias com Dilma Rousseff. Claro que o apoio do presidente Lula e das alas majoritárias no partido devem garantir a candidatura de Dilma, mas neste caso Marina se cacifa, coloca seu time em campo e emerge como uma eventual candidata nas próximas eleições, se Lula realmente não quiser voltar ao poder.

A plataforma de Marina Silva - defesa do meio ambiente - é uma questão que cada vez mais estará na pauta política brasileira (e do mundo em geral). A probabilidade da senadora acreana crescer com a sua história de defesa da amazônia e do meio ambiente em geral é enorme. Marina tem tempo, pode usá-lo a seu favor para construir uma candidatura e um projeto de poder alternativo. Ou pode se transformar, apesar das devidas proporções, em uma nova Soninha, a ex-vereadora petista que largou o partido, disputou a prefeitura paulistana e acabou subprefeita na gestão Gilberto Kassab, como prêmio de consolação por ter tirado importantes votinhos de Marta Suplicy.

Comentários

  1. Sem muito a acrescentar, evoco a sabedoria do povo:

    "Quem tem pressa come cru."

    []s

    ResponderExcluir
  2. Luis,
    a verdade é que esses que hoje incensam Marina, literalmente a abandonaram no ministério. Marina ganhou muitas batalhas no ministério, mas mesmo nas vitórias não era elogiada por boa parte dos ambientalistas.
    Preferiam, ao contrário, superestimar as derrotas, normais num governo. Esses esquecem que ela foi a grande responsável pela saída do ministro Roberto Rodrigues da Agricultura que. hoje vemos, era muito melhor que o atual.
    Basta buscar no Google o que o Greenpeace diz do ministério em sua gestão.
    Além do Zequinha Sarney, filho do presidente do Senado e envolvido em algumas das acusações feitas hoje, temos o Fernando Gabeira. Segundo afirmam, a última luta perdida por Marina, a gota d'água, teria sido a tramitação da MP 458. Santa ingenuidade. O maior responsável pelo acordo construído na Câmara (que eu aprovo pessoalmente) foi exatamente o Gabeira; O acordo que ela tanto denunciou no Senado.
    Isso foi dito na imprensa e pode ser comprovado na entrevista que ele deu ao lado da sen Kátia Abreu.
    Medida provisória sobre licenciamento provoca polêmica entre ambientalistas e ruralistas
    http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1056227-7823-MEDIDA+PROVISORIA+SOBRE+LICENCIAMENTO+PROVOCA+POLEMICA+ENTRE+AMBIENTALISTAS+E+RURALISTAS,00.html
    Mas você vai ver que não há nenhuma divergência ali.

    ResponderExcluir
  3. Vamos falar sério!!!
    Seria ótimo para o processo de construção duma democracia de fato a alternativa Marina Silva desde que fosse por um partido sério. Insistir em colocar seu nome para apreciação dos petistas filiados, ou então pelo PSOL que, com todos os problemas que lhe são inerentes, inclusive no discurso, não tenho duvidas, representa muito mais que a legenda de aluguel PV. O PV sempre teve como aliados preferenciais os tucanos e os demos. Faz parte da administração Kassab na capital paulista e da administração Serra no estado de SP. Aliás, o PV paulista nunca foi mais que um apêndice do covismo. Já em MG o PV é aliado incondicional de Aécinho, ocupando alguns cargos como o coronel Sebastião Navarro, cria da ditadura militar, na presidência da COHA-MG.
    Sou de Poços de Caldas e aqui o PV é escancaradamente uma legenda de aluguel cujo maior feito foi abrigar o citado coronel quando este se desentendeu com a executiva nacional do DEMO. Pra se ter idéia do quanto o PV e Navarro são oportunistas, o ex-prefeito, ex-dep. estadual e federal, se filiou ao PV, mas a presidente do DEMO poços-caldense continuar a ser sua filha e braço direito Tereza Navarro. Este coronel, quando da última passagem pela prefeitura (2005-2008), tentou privatizar parte das águas minerais do município e comprou criminosamente uma área de reserva ambiental para alojar o futuro paço municipal. Ótimas referencias pra um Partido Verde, não?
    É nesse partido que Marina vai se filiar para ser candidata? Não parece haver algo de errado nisso? Ou será que o PV só está tirando uma casquinha com a ex-ministra?
    www.dissolvendo-no-ar.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Vamos seguir a linha dos debates tão honrosos havidos no Senado: Temos o PV do Sarkis e da coligação Gabeira-DEM; Temos o PSB de Eduardo Campos, que quando não está apoiando o governo Lula, está em recesso; temos o PDT do Cristovam e; o PSOL, da Heloísa e do Protógenes, que cuidam bem das próprias biografias e agora estão mudando o nome do partido para Neo-UDN.
    Enfim, ela é um quadro, e o quadro de partidos está ruim. Terá de escolher o partido menos ruim agora, para que possa concorrer e para que então tenhamos alternativa à Dilma e ao Serra.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe