O competente ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, concorda com este blog na questão da entrevista com Dilma Rousseff, publicada na semana passada com grande destaque e na qual a ministra negou ter participado de um suposto plano para sequestrar o então ministro Delfim Netto durange a ditadura militar. Pior do que a reportagem sobre o plano foi a relutância do jornal em reconhecer o erro, conforme o leitor poderá perceber abaixo, no artigo publicado neste domingo pelo ombudsman.
Para ficar ao abrigo de desmentidos
Publicação da íntegra de entrevista pode dirimir dúvidas em casos em que a fonte contesta o que o repórter escreveu, como o do texto sobre Dilma
NO DOMINGO passado, escrevi na avaliação diária das edições deste jornal sobre a reprodução na Primeira Página da ficha policial da ministra Dilma Rousseff na ditadura: "Colocar como ilustração da entrevista de um colega seu [de Dilma] de luta armada a ficha policial dela com foto me parece uma forçada de barra. O certo, a meu ver, seria colocar ali a foto de Antonio Espinosa."
Essa "forçada de barra" (similar à de quarta, quando o diretor da ANP [Agência Nacional do Petróleo] Victor Martins, acusado de irregularidades, foi identificado em título de chamada e reportagem como "irmão de Franklin" [Martins, ministro da Comunicação]) certamente contribuiu para leitores acharem que o jornal havia dito que Dilma planejara o sequestro do então ministro Delfim Netto em 1969.
A reportagem receberia críticas mais graves no decorrer da semana. Antonio Roberto Espinosa, ex-dirigente do grupo VAR-Palmares, no qual a ministra militava, e principal fonte para o texto publicado, contestou parte de seu conteúdo.
A meu juízo, suas alegações mais sérias são: ele nega ter dito que a ministra tinha conhecimento do plano de sequestrar Delfim (faz uma distinção entre "informação política", que ela pode ter tido, e "informação factual", que ela não tinha) e que a operação estava com data e local definidos.
Com atraso de dois dias, que eu julguei evitável com alguma dose de flexibilidade, a Folha publicou a contestação de Espinosa e a rebateu. A Redação diz que todas as declarações que comprovam o que havia saído no domingo estão gravadas.
Recomendei ao jornal que publicasse a transcrição da gravação para dirimir dúvidas. Ela me respondeu o seguinte: "Não faz sentido reproduzir novamente as declarações de Espinosa. Elas já estavam na reportagem de domingo. (...) Consideramos suficiente a publicação da carta do entrevistado e a nota da Redação."
Eu mantenho a recomendação. A edição eletrônica do jornal (Folha Online) não tem limite de espaço como a edição impressa. Pode tanto publicar a transcrição da entrevista na íntegra quanto reproduzi-la em áudio.
Afinal, um dos motivos por que entrevistas (e esta, pela sua importância, deveria ter sido feita pessoalmente, não por telefone) são gravadas é para comprovar o que o jornal publica. Como diz o "Manual da Redação": "O jornalista que usa gravador fica ao abrigo de desmentidos".
Que cada leitor a leia ou escute e chegue às suas conclusões. E essas conclusões certamente serão díspares entre si porque cada pessoa sempre entende o que quer de qualquer discurso.
Recebi 58 mensagens de leitores sobre esta reportagem. Cinco a consideraram, conforme uma delas, "propaganda descarada que os senhores proporcionaram a Dilma". As outras 53 acharam que ela tentava prejudicar as aspirações presidenciais da ministra.
De qualquer modo, o jornal fica devendo ao leitor reportagens similares sobre as atividades durante o regime militar dos outros principais pretendentes à Presidência da República em 2010.
Para ficar ao abrigo de desmentidos
Publicação da íntegra de entrevista pode dirimir dúvidas em casos em que a fonte contesta o que o repórter escreveu, como o do texto sobre Dilma
NO DOMINGO passado, escrevi na avaliação diária das edições deste jornal sobre a reprodução na Primeira Página da ficha policial da ministra Dilma Rousseff na ditadura: "Colocar como ilustração da entrevista de um colega seu [de Dilma] de luta armada a ficha policial dela com foto me parece uma forçada de barra. O certo, a meu ver, seria colocar ali a foto de Antonio Espinosa."
Essa "forçada de barra" (similar à de quarta, quando o diretor da ANP [Agência Nacional do Petróleo] Victor Martins, acusado de irregularidades, foi identificado em título de chamada e reportagem como "irmão de Franklin" [Martins, ministro da Comunicação]) certamente contribuiu para leitores acharem que o jornal havia dito que Dilma planejara o sequestro do então ministro Delfim Netto em 1969.
A reportagem receberia críticas mais graves no decorrer da semana. Antonio Roberto Espinosa, ex-dirigente do grupo VAR-Palmares, no qual a ministra militava, e principal fonte para o texto publicado, contestou parte de seu conteúdo.
A meu juízo, suas alegações mais sérias são: ele nega ter dito que a ministra tinha conhecimento do plano de sequestrar Delfim (faz uma distinção entre "informação política", que ela pode ter tido, e "informação factual", que ela não tinha) e que a operação estava com data e local definidos.
Com atraso de dois dias, que eu julguei evitável com alguma dose de flexibilidade, a Folha publicou a contestação de Espinosa e a rebateu. A Redação diz que todas as declarações que comprovam o que havia saído no domingo estão gravadas.
Recomendei ao jornal que publicasse a transcrição da gravação para dirimir dúvidas. Ela me respondeu o seguinte: "Não faz sentido reproduzir novamente as declarações de Espinosa. Elas já estavam na reportagem de domingo. (...) Consideramos suficiente a publicação da carta do entrevistado e a nota da Redação."
Eu mantenho a recomendação. A edição eletrônica do jornal (Folha Online) não tem limite de espaço como a edição impressa. Pode tanto publicar a transcrição da entrevista na íntegra quanto reproduzi-la em áudio.
Afinal, um dos motivos por que entrevistas (e esta, pela sua importância, deveria ter sido feita pessoalmente, não por telefone) são gravadas é para comprovar o que o jornal publica. Como diz o "Manual da Redação": "O jornalista que usa gravador fica ao abrigo de desmentidos".
Que cada leitor a leia ou escute e chegue às suas conclusões. E essas conclusões certamente serão díspares entre si porque cada pessoa sempre entende o que quer de qualquer discurso.
Recebi 58 mensagens de leitores sobre esta reportagem. Cinco a consideraram, conforme uma delas, "propaganda descarada que os senhores proporcionaram a Dilma". As outras 53 acharam que ela tentava prejudicar as aspirações presidenciais da ministra.
De qualquer modo, o jornal fica devendo ao leitor reportagens similares sobre as atividades durante o regime militar dos outros principais pretendentes à Presidência da República em 2010.
A folha anda apanhando mais do que a Suzana Vieira. Daqui a pouco o ombudsman vai ter que pedir demissão e fundar um jornal próprio.
ResponderExcluirA arrogância da grande imprensa paulista é impressionante. Erram, erram e erram. Mas nunca reconhece o erro. Folha, Estadão, Veja. Mais decadentes, impossível. Antidemocratas e a serviço de uma pequena elite, também decadente. A mídia digital, tendo a frente alguns tantos jornalistas-blogueiros independentes, como é o caso do "Entrelinhas", Nassif, PHA, conquistam cada vez mais espaço. Dias ainda melhores virão.
ResponderExcluirA grande mídia não erra - faz de propósito. Quando o direito de resposta chegar o mal está feito. Agora, que a Dilma tivesse participado de tal ação não é aos meus olhos nenhum impeditivo pra votar nela: chamar de terroristas pessoas que tentavaam ações desesperadas para tentar resgatar membros da esquerda de um estado torturador e assassino não é coisa que manche a trajetória de ninguém.
ResponderExcluirAgora, concordo: já que a entrevista tá gravada, então que eles botem a prova do "crime" no ar. Vai lá: mata a cobra e mostra o pau.
Essa grande mídia é uma grande mer...