Pular para o conteúdo principal

Um novo Ebola?

Ok, pode ser que a gripe suína seja mesmo muito grave, mas o alarde da mídia em torno da doença parece um pouco exagerada. Faz lembrar o tal do Ebola, o vírus que dizimaria meia África e deixar um rastro de desgraça pelo mundo afora. Na época (edição de 9 de agosto de 2000), a revista Veja (sempre ela) publicou a seguinte matéria:

Truque assassino
Descoberto mecanismo de infecção do vírus Ebola, que mata nove entre dez contaminados

O Ebola é um pesadelo. Capaz de liquidar suas vítimas em poucos dias, é o mais violento de todos os vírus. De cada dez pessoas contaminadas, nove morrem. Isso ocorre porque o microrganismo ataca veias e artérias de todo o corpo, provocando hemorragia generalizada. Certos órgãos, como o fígado e os rins, simplesmente se desfazem e o sangue jorra em tal profusão que sai pelos olhos e poros. Na semana passada, cientistas americanos anunciaram o primeiro passo para combater esse assassino cruel: a descoberta da proteína usada pelo Ebola para destruir as células, causando o rompimento dos vasos sanguíneos. Entender o mecanismo de infecção torna possível o desenvolvimento de recursos para controlá-lo. "Remédios exigem maior prazo de pesquisa, mas uma vacina pode ser desenvolvida com rapidez", disse a VEJA Gary Nabel, coordenador da pesquisa no Instituto Nacional de Saúde, responsável pelos estudos com o vírus, nos Estados Unidos.

A primeira epidemia de Ebola da qual se tem notícia matou 500 pessoas em 1976, no Zaire (atual Congo). Dezenove anos mais tarde, um novo surto, com 245 mortes, chocou o mundo com cenas dantescas. Temeu-se que o microrganismo se alastrasse de maneira incontrolável, causando uma catástrofe de proporções planetárias. O clima de pânico internacional foi transposto para o cinema no filme Epidemia, com Dustin Hoffman, em 1995. A preocupação justifica-se. O Ebola é um vírus rápido, com um período de incubação de duas a três semanas, que se espalha num piscar de olhos. Um simples espirro é capaz de lançar milhares de micróbios no ar. Pode ser transmitido por contato sexual, pelo sangue e por secreções de pessoas contaminadas. Mas, da mesma forma abrupta que apareceu, a epidemia se foi. Uma particularidade do Ebola é a capacidade de devastar vilas inteiras e depois sumir sem ninguém saber ao certo como nem por quê. Isso explica, em parte, que o microrganismo continue raro, restrito a algumas regiões da África. Impressiona que já se saiba tanto sobre a fisiologia de um vírus e tão pouco sobre seu comportamento. "Ainda precisamos descobrir onde ele existe na natureza e qual bicho serve de transmissor para o ser humano", diz Nabel. A descoberta de seu mecanismo de ação pode ajudar os pesquisadores a entender doenças parecidas, como a dengue hemorrágica e as infecções por hantavírus que ocorrem no Brasil.


Bem, a África continua por lá e os africanos também. Mundo afora, parece que não foi muita gente que morreu contaminado pelo "pesadelo" da Veja. Notícia ruim vende mais, muito mais, e os veículos de comunicação, especialmente os impressos, andam precisando reforçar o caixa. Portanto, ninguém se espante muito com as manchetes assustadoras sobre a gripe suína. Este blog continua achando que deve ser coisa de palmeirense... Aguardemos a capa de Veja deste domingo!

Comentários

  1. PAREM AS MAQUINAS

    vamos aguardar o próximo artigo da expecialista em saúde pública Eliane Catanhede, afim de acalmar nossas angústias sobre essa pandemia que assola o mundo ocidental cristão e que vai entrar no brasil e arrasar nossa população, tudo isso por culpa do Lula.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And