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Dines: a doença de Dilma e a mídia

Comentário do mestre Alberto Dines para o programa de rádio do Observatório da Imprensa.

DILMA ROUSSEFF
O Globo errou a mão

Políticos eventualmente tiram partido até de notícias ruins, mas a quase-candidata à presidência Dilma Rousseff teria preferido ir para as manchetes em situação diferente.

O tratamento para neutralizar o linfoma extraído há três semanas – e confirmado oficialmente no sábado (25/4) – tem todas as condições de ser bem-sucedido, mas como a própria ministra declarou, este é mais um grave desafio que deverá enfrentar. Sozinha.

É também um novo desafio a ser enfrentado por nossa mídia, que ainda não encontrou maneira de equilibrar seu inalienável compromisso de ser veraz e manter a sociedade informada com o imperioso dever de tratar com humanidade e delicadeza aqueles que enfrentam situações pessoais dolorosas.

A manchete de primeira página de domingo (26) do Globo falava em tratamento prolongado de um câncer e abalo em sua candidatura. Tanto as palavras câncer como tratamento longo não poderiam ser omitidas ou disfarçadas, representam a verdade científica porque não se trata de suspeita, é diagnóstico confirmado. Mas a afirmação de que a candidatura sofreu um abalo tem algo de apelativo, é sobretudo pouco solidária. Pressupõe dificuldades, dor, sofrimento. Riscos.

Políticos também merecem compreensão mesmo quando não merecem a simpatia e o voto. Nem heroína nem objeto político, a ministra Dilma Rousseff precisa ser tratada como ser humano.

Comentários

  1. O que?? Então a rede Goebbels, a Folha de Serra e o panfleto fascista da abril têm "seu inalienável compromisso de ser veraz e manter a sociedade informada"??
    Ô, Alberto Dines, conta outra, que essa não colou.

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