O Banco Central da Folha de São Paulo já traçou o cenário para 2010 e 2011 (sim, 2011) e, com os números na ponta da língua, revela hoje, em matéria que mereceu chamada de capa e vai reproduzida abaixo, que a Selic subirá em pleno ano eleitoral. Bem, dá até desânimo comentar a matéria, se é que dá para chamar a coisa de matéria. Mas vamos lá: primeiro, a própria Folha não se cansa de dizer que o pior da "maior crise da história do capitalismo desde 1929" não passou, portanto dias mais difíceis virão pela frente. Ora, quando é para fazer a previsão do cenário para os juros, porém, o jornal dá como provável a recuperação da economia brasileira em 2010. Ademais, é um pouco ingênua a premissa de que o governo federal manterá, em 2010, o mesmo grau de autonomia que deu ao Banco Central todos esses anos. Ao contrário, os recentes movimentos em torno do Banco do Brasil mostram que a ala "desenvolvimentista" do governo Lula está avançando sobre os "ortodoxos" encastelados no BC. E é possível até que Henrique Meirelles deixe a presidência do banco para disputar a eleição de 2010... Este blog duvida que a taxa de juros suba em 2010, a menos que o crescimento seja tamanho que compense a impopular medida. Neste caso, porém, o crescimento será mais efetivo como cabo eleitoral do candidato governista do que a alta de juros para a oposição. Tudo somado, a materola da Folha não passa de cascata, como se diz no jargão das redações, e das ruins. Vai a seguir, para os leitores do blog.
Taxa de juros pode voltar a subir em 2010
Com expectativa de reaquecimento da economia e alta de preços das commodities, mercado projeta retomada na alta da Selic
Dúvida é se BC fará agora um corte maior do juro e depois subirá o que for necessário ou se vai reduzir menos a taxa para evitar alta forte em 2010
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se o Banco Central confirmar as expectativas do mercado financeiro nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) de junho e julho, o Brasil terá, pela primeira vez desde a estabilização econômica, em 1994, taxas de juros de um dígito, algo próximo a 9,25% ao ano. Mas o piso histórico não deverá durar muito. Provavelmente, não mais que um ano.
De acordo com as expectativas do mercado financeiro, a Selic -taxa de referência da economia- voltará a subir em 2010, ano eleitoral. As projeções até agora incorporam a elevação de um ponto percentual, o que colocaria a taxa próxima a 10,25% ao ano.
O Banco Central, que no último relatório fez questão de enfatizar o baixo risco de pressões inflacionárias em 2009, considera haver uma chance de 30% de a inflação chegar ao final do primeiro trimestre de 2011 em um patamar maior que 4,6%, acima do centro da meta fixada pelo governo.
A premissa que sustenta a provável elevação da Selic no ano que vem é a de que a economia brasileira estará se recuperando em 2011 amparada pela melhora no resto do mundo e pelo aumento nos preços das commodities. Como há uma defasagem de quase um ano entre o aumento de juros pelo BC e o impacto na economia, a elevação na taxa de juros teria que ser feita em 2010.
Preocupação
"No segundo trimestre do ano que vem, deve haver uma revisão da política monetária. Em 2011, inflação e crescimento podem voltar a preocupar", diz o economista Roberto Padovani, estrategista para América Latina do Banco WestLB.
Por trás dessa discussão está o que os economistas chamam de "juros de equilíbrio", um número que ninguém sabe precisar, mas que é considerado como uma taxa neutra, que não deprime o consumo e, ao mesmo tempo, é capaz de evitar que ocorra um superaquecimento da economia.
"Para tirar a economia do atoleiro, os juros têm que operar abaixo do equilíbrio. Mas na frente será necessário um ajuste fino", diz o economista Caio Megale, da Mauá Invest.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, em entrevista recente à Folha, disse que é "prematuro" afirmar que o país tem condições de manter a taxa de juros em um dígito.
O debate que toma conta dos economistas que acompanham o BC é como será feita a elevação. A principal incerteza é a duração da crise econômica. Mas fatores internos também vão pesar. Entre eles, a resistência do governo, por exemplo, a um ajuste nos juros em ano eleitoral e até mesmo a saída de Meirelles para se candidatar ao governo de Goiás.
A dúvida é se o BC fará uma queda mais ousada agora e depois subirá o que for necessário ou se preferirá reduzir a Selic menos agora para não precisar fazer um ajuste maior no ano que vem.
"Tem muita incerteza até o momento. A única coisa que se pode dizer é que, se a atual condução da política monetária continuar, em algum momento até 2010, pode ser que a Selic tenha que subir. Quanto e quando é impossível saber neste momento", afirma o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.
Taxa de juros pode voltar a subir em 2010
Com expectativa de reaquecimento da economia e alta de preços das commodities, mercado projeta retomada na alta da Selic
Dúvida é se BC fará agora um corte maior do juro e depois subirá o que for necessário ou se vai reduzir menos a taxa para evitar alta forte em 2010
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se o Banco Central confirmar as expectativas do mercado financeiro nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) de junho e julho, o Brasil terá, pela primeira vez desde a estabilização econômica, em 1994, taxas de juros de um dígito, algo próximo a 9,25% ao ano. Mas o piso histórico não deverá durar muito. Provavelmente, não mais que um ano.
De acordo com as expectativas do mercado financeiro, a Selic -taxa de referência da economia- voltará a subir em 2010, ano eleitoral. As projeções até agora incorporam a elevação de um ponto percentual, o que colocaria a taxa próxima a 10,25% ao ano.
O Banco Central, que no último relatório fez questão de enfatizar o baixo risco de pressões inflacionárias em 2009, considera haver uma chance de 30% de a inflação chegar ao final do primeiro trimestre de 2011 em um patamar maior que 4,6%, acima do centro da meta fixada pelo governo.
A premissa que sustenta a provável elevação da Selic no ano que vem é a de que a economia brasileira estará se recuperando em 2011 amparada pela melhora no resto do mundo e pelo aumento nos preços das commodities. Como há uma defasagem de quase um ano entre o aumento de juros pelo BC e o impacto na economia, a elevação na taxa de juros teria que ser feita em 2010.
Preocupação
"No segundo trimestre do ano que vem, deve haver uma revisão da política monetária. Em 2011, inflação e crescimento podem voltar a preocupar", diz o economista Roberto Padovani, estrategista para América Latina do Banco WestLB.
Por trás dessa discussão está o que os economistas chamam de "juros de equilíbrio", um número que ninguém sabe precisar, mas que é considerado como uma taxa neutra, que não deprime o consumo e, ao mesmo tempo, é capaz de evitar que ocorra um superaquecimento da economia.
"Para tirar a economia do atoleiro, os juros têm que operar abaixo do equilíbrio. Mas na frente será necessário um ajuste fino", diz o economista Caio Megale, da Mauá Invest.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, em entrevista recente à Folha, disse que é "prematuro" afirmar que o país tem condições de manter a taxa de juros em um dígito.
O debate que toma conta dos economistas que acompanham o BC é como será feita a elevação. A principal incerteza é a duração da crise econômica. Mas fatores internos também vão pesar. Entre eles, a resistência do governo, por exemplo, a um ajuste nos juros em ano eleitoral e até mesmo a saída de Meirelles para se candidatar ao governo de Goiás.
A dúvida é se o BC fará uma queda mais ousada agora e depois subirá o que for necessário ou se preferirá reduzir a Selic menos agora para não precisar fazer um ajuste maior no ano que vem.
"Tem muita incerteza até o momento. A única coisa que se pode dizer é que, se a atual condução da política monetária continuar, em algum momento até 2010, pode ser que a Selic tenha que subir. Quanto e quando é impossível saber neste momento", afirma o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.
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