O novo ombudsman da Folha de S. Paulo, Mário Magalhães, começou muito bem no serviço. Todo domingo tem um texto contundente apontando as bobagens que aparecem no jornal. Na última edição, dedicou a abertura da coluna ao irmão do presidente Lula que tanto sucesso andou fazendo na impressa apressadinha. Magalhães concorda com Elio Gaspari: Vavá foi linchado na imprensa. Corretamente, o ombudsman reclama porque a Folha não citou o nome do irmão de Lula na chamada de capa sobre o indiciamento dos suspeitos nas investigações da Operação Xeque-Mate. Vavá, como se sabe, não foi indiciado...
A seguir, o texto de Mário Magalhães:
Cadê Vavá?
O aposentado Genival Inácio da Silva, irmão do presidente da República, ganhou a manchete da Folha em quatro edições de junho.
A primeira contou que a Polícia Federal qualificou Vavá como suspeito de tráfico de influência e exploração de prestígio. A terceira transcreveu gravações em que o indiciado usa o nome de Lula para obter dinheiro. Na segunda e na quarta, o chefe do Executivo manifestou convicção da inocência do irmão.
Na terça, o Ministério Público Federal acusou 39 pessoas por vários crimes, mas não incluiu Vavá na denúncia. Considerou que não havia provas contra ele na operação batizada como Xeque-Mate.
Era obrigatória a menção, em título da Primeira Página, à decisão favorável ao cidadão antes em apuros. Na edição São Paulo da quarta, o título ignorou a vitória de Vavá: "Compadre do presidente e mais 38 são denunciados".
Escrevi na crítica diária a nota "Dois pesos, um erro grave". Não bastava o texto da chamada da capa informar que a acusação não atingia Vavá, era preciso destacar. Questão de equilíbrio: se Vavá enrolado valia manchete, Vavá se desenrolando merecia ao menos um título na página mais nobre.
O jornal vinha bem na cobertura, a despeito de alguns tropeços. A posição dos procuradores sobre a ausência de provas contra Vavá não enfraquece a opção anterior da Folha de o eleger objeto de manchetes. Fiscalizar o poder é função do jornalismo.
Vavá foi indiciado, manteve relações com supostos membros de uma quadrilha, a PF pediu sua prisão (negada pela Justiça), grampos expuseram conversas suspeitas, o presidente se pronunciou a respeito da investigação.
Isso tudo é notícia, tem interesse público e legítimo.
O jornal nem "condenou" nem "absolveu" Vavá. Assim como não afirmou que ele logrou êxito em suas ações. Na terça, ao contrário do que fizeram os diários "O Estado de S. Paulo" e "O Globo", não publicou a informação sem fundamento segundo a qual o irmão de Lula seria denunciado.
Em compensação, os concorrentes, com acerto, estamparam na capa a novidade positiva para Vavá.
Na edição Nacional, concluída às 21h06, a Folha havia titulado na Primeira Página "Ministério Público denuncia compadre de Lula e poupa Vavá". Não era bem isso.
Como explica o "Aurélio", "poupar" também tem o sentido de "ser tolerante" e "indulgenciar". O verbo editorializa, emite opinião subliminar em espaço impróprio.
Pedi um comentário à Redação, que respondeu: "Na edição São Paulo (0h19), ocorreu uma rediagramação da Primeira Página em razão da nova crise aérea. A denúncia do Ministério Público, no entanto, continuou na submanchete, mas o título passou de três para duas linhas [...]".
Mais: "Nas duas edições, as chamadas relativas ao caso afirmaram com todas as letras que o irmão de Lula não havia sido denunciado e que o Ministério Público Federal pedira mais apurações sobre o suposto lobby praticado por Genival Inácio da Silva (Vavá)".
Em suma: notícia ruim para Vavá ocupou manchete; boa, limitou-se às letras pequenas do texto da chamada.
A seguir, o texto de Mário Magalhães:
Cadê Vavá?
Questão de equilíbrio: se Vavá enrolado valia manchete, Vavá se desenrolando merecia ao menos um título na página mais nobre do jornal
O aposentado Genival Inácio da Silva, irmão do presidente da República, ganhou a manchete da Folha em quatro edições de junho.
A primeira contou que a Polícia Federal qualificou Vavá como suspeito de tráfico de influência e exploração de prestígio. A terceira transcreveu gravações em que o indiciado usa o nome de Lula para obter dinheiro. Na segunda e na quarta, o chefe do Executivo manifestou convicção da inocência do irmão.
Na terça, o Ministério Público Federal acusou 39 pessoas por vários crimes, mas não incluiu Vavá na denúncia. Considerou que não havia provas contra ele na operação batizada como Xeque-Mate.
Era obrigatória a menção, em título da Primeira Página, à decisão favorável ao cidadão antes em apuros. Na edição São Paulo da quarta, o título ignorou a vitória de Vavá: "Compadre do presidente e mais 38 são denunciados".
Escrevi na crítica diária a nota "Dois pesos, um erro grave". Não bastava o texto da chamada da capa informar que a acusação não atingia Vavá, era preciso destacar. Questão de equilíbrio: se Vavá enrolado valia manchete, Vavá se desenrolando merecia ao menos um título na página mais nobre.
O jornal vinha bem na cobertura, a despeito de alguns tropeços. A posição dos procuradores sobre a ausência de provas contra Vavá não enfraquece a opção anterior da Folha de o eleger objeto de manchetes. Fiscalizar o poder é função do jornalismo.
Vavá foi indiciado, manteve relações com supostos membros de uma quadrilha, a PF pediu sua prisão (negada pela Justiça), grampos expuseram conversas suspeitas, o presidente se pronunciou a respeito da investigação.
Isso tudo é notícia, tem interesse público e legítimo.
O jornal nem "condenou" nem "absolveu" Vavá. Assim como não afirmou que ele logrou êxito em suas ações. Na terça, ao contrário do que fizeram os diários "O Estado de S. Paulo" e "O Globo", não publicou a informação sem fundamento segundo a qual o irmão de Lula seria denunciado.
Em compensação, os concorrentes, com acerto, estamparam na capa a novidade positiva para Vavá.
Na edição Nacional, concluída às 21h06, a Folha havia titulado na Primeira Página "Ministério Público denuncia compadre de Lula e poupa Vavá". Não era bem isso.
Como explica o "Aurélio", "poupar" também tem o sentido de "ser tolerante" e "indulgenciar". O verbo editorializa, emite opinião subliminar em espaço impróprio.
Pedi um comentário à Redação, que respondeu: "Na edição São Paulo (0h19), ocorreu uma rediagramação da Primeira Página em razão da nova crise aérea. A denúncia do Ministério Público, no entanto, continuou na submanchete, mas o título passou de três para duas linhas [...]".
Mais: "Nas duas edições, as chamadas relativas ao caso afirmaram com todas as letras que o irmão de Lula não havia sido denunciado e que o Ministério Público Federal pedira mais apurações sobre o suposto lobby praticado por Genival Inácio da Silva (Vavá)".
Em suma: notícia ruim para Vavá ocupou manchete; boa, limitou-se às letras pequenas do texto da chamada.
Essa coisa do Vavá é prato requentado. No auge da crise do mensalão,a revista VEJA publicou uma reportagem sobre isso e porque ninguém correu atrás? Incompetência? Falta de vontade ou rabo preso? Acho que deve ser uma mistura dos três. De tempos em tempos, a pauta política vem da mídia, mas será que o ministério público está acompanhando?
ResponderExcluirwww.cyberideias.blogspot.com