Pular para o conteúdo principal

Serra, os mata-mosquito e os estudantes

O que vai abaixo é o artigo semanal do autor destas Entrelinhas para o Shopping News, que circula com o DCI às sextas-feiras.

O governador José Serra (PSDB) nunca reconhecerá o fato, mas certamente está muito arrependido de suas primeiras medidas para a área de Educação, sobretudo no que se refere ao ensino superior. O novo governo conseguiu, em menos de seis meses, provocar uma crise séria (e, até agora, sem solução à vista), levando os estudantes universitários a uma postura combativa que talvez só tenha paralelo com a época em que o próprio Serra presidiu a UNE, no início do regime militar. Professores e funcionários das três universidades paulistas também reagiram contra as primeiras medidas do governador e deflagraram greves que terminaram com uma significativa vitória das duas categorias.


A maioria dos leitores já deve estar a par da confusão armada pelo governo: logo no primeiro dia de mandato, Serra editou um decreto criando a secretaria de Ensino Superior, que retirava das universidades a prerrogativa de comandar o Cruesp, conselho de reitores que é a base da autonomia universitária. Dias depois, outro decreto na acabava com a autonomia financeira das instituições. Demorou um pouco, mas logo os reitores, professores, funcionários e estudantes reagiram e iniciaram, cada qual ao seu modo, um amplo movimento para defender as universidades da ofensiva contra a autonomia. Até agora, o fato mais marcante deste embate foi a ocupação, em 3 de maio, da reitoria da USP. Os estudantes continuam lá e não dão mostras de que pretendam sair tão cedo. Ontem, enfrentaram a tropa de choque da PM em uma manifestação pelos arredores da universidade.


O governador já recuou bastante, editou novos decretos para explicitar que não vai acabar com a autonomia e fechou acordo para reajustar os salários de professores e funcionários. Os alunos, porém, querem mais. O impasse continua e pelo andar da carruagem, os estudantes universitários serão uma pedra no sapato de Serra até o fim do mandato e especialmente na próxima campanha eleitoral que ele participar. Em 2002, Serra teve em seu encalço os mata-mosquitos que mandou demitir quando era ministro da Saúde. Em 2010, poderá ter os estudantes como verdadeiros carrapatos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe