Pular para o conteúdo principal

Escândalos ocultam o que de fato importa

Os escândalos envolvendo políticos e personalidades, especialmente se trazem os elementos dinheiro, sexo e drogas, imediatamente ganham manchetes e acabam ofuscando notícias bem mais relevantes para o dia a dia da população. É o que está ocorrendo agora, com o "Renangate". Enquanto a opinião pública acompanha os cada vez mais enrolados capítulos da novela, o governo federal vai tomando decisões importantes para os próximos anos. Na matéria abaixo, da Agência Estado, está reproduzida a opinião do presidente Lula sobre uma questão que talvez seja hoje a mais crucial para o futuro da economia nacional: a definição da meta de inflação para 2009, que será decidida na próxima semana pelo Conselho Monetário Nacional. Como se pode ler a seguir, o presidente ficou ao lado do ministro Guido Mantega e prefere os atuais 4,5%. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, defende redução para 4%. A questão da meta é crucial porque dela decorre o tipo de política monetária a ser adotada daqui para frente. Se a meta for menor, o BC tem menos espaço para baixar a taxa básica de juros; permanecendo os 4,5%, abre-se um espaço maior para o movimento em curso no Copom, que vem baixando a Selic desde meados de 2005.

Em tese, a opinião de Lula não deveria ter influência sobre o CMN, mas na prática a coisa é bem diferente. O ex-ministro Antonio Palocci relata, em seu livro Sobre Formigas e Cigarras, que a opinião do presidente foi decisiva, em 2003, para que o CMN definisse a meta de 5,5% para 2004. Daquela vez, Lula fechou com os ortodoxos e opinou por uma meta mais estreita do que a defendida pelo então ministro José Dirceu, que vocalizava o pensamento dos economistas petistas. Agora, Lula ficou contra a ortodoxia de Meirelles.

A definição do proóximo dia 27 merece, portanto, ser acompanhada com atenção, mesmo que neste dia Mônica Veloso resolva contar novidades sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros. Se ele ainda for o presidente, é claro...



SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não é mais necessário aumentar o esforço para reduzir a meta de inflação, demonstrando uma posição que tende mais para o lado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no embate entre o Ministério e o Banco Central sobre o estabelecimento da meta para 2009. A manutenção da meta em 4,5% ou sua redução será analisada em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) na próxima semana (dia 27).
"Penso que não devemos fazer mais sacrifício, reduzindo a meta", afirmou o presidente em entrevista ao jornal Valor Econômico. "Seria bom, e essa é uma opinião muito pessoal, que a gente refletisse bem. Já fizemos o sacrifício para 4,5% e foi muito duro. Gostaria que pensássemos politicamente, que não temos mais o direito de fazer um novo arrocho", completou.
Câmbio
Lula disse que o governo está preocupado com a apreciação do real e adotará medidas para compensar os setores mais atingidos pelo dólar fraco, mas não fará "mágica". Para esse tema, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou o discurso do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "Não tem milagre. Em algum momento o mercado vai se ajustar e é assim que nós vamos conviver."
Segundo ele, é muito difícil determinar qual o câmbio bom. "Para quem exporta, R$ 4 seria ótimo. Para quem importa, se fosse R$ 1 seria ótimo. O dado concreto é que vamos manter o câmbio flutuante e ele flutua, vai para baixo e para cima. Obviamente, precisamos estar preocupados com o câmbio, mas não vamos fazer nenhuma loucura. Vamos tentar fazer todos os acertos necessários e que forem possíveis para mantê-lo nesse nível ou um pouquinho mais. Por isso compramos muitos dólares", afirmou.
Lula, contudo, defendeu, enfaticamente, a adoção de uma política industrial que ajude setores ineficientes ou escolha os que precisam de mais investimentos. Lula também afirmou ainda que as reservas cambiais devem chegar a US$ 200 bilhões até o final do ano
.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe