A matéria reproduzida no pé desta nota é da Agência Estado e provavelmente antecipa o tom do material que o jornal O Estado de S. Paulo publicará sobre o 5° Congresso Nacinal do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que está sendo realizado em Brasília. Há vários problemas na matéria, mas o maior deles é colocar um monte de informações verdadeiras (este blog dá de barato que o repórter reproduziu corretamente os discursos das lideranças) totalmente fora do contexto. Em linhas gerais, a reportagem procura mostrar que o MST "pós-Lula" (o viés já começa no título) prefere o venezuelano Hugo Chávez ao presidente brasileiro e também que o movimento voltou a falar de "revolução".
O repórter da Agência Estado ou nunca esteve em qualquer outro evento do MST ou está de má fé. Não é preciso ser simpatizante do movimento para saber que os sem-terra jamais deixaram de falar da chamada Revolução Brasileira – um conceito muito caro ao historiador Caio Prado Jr., historiador cuja obra o movimento tem especial apreço e cuida de estudar (coisa que, pelo visto, anda faltando aos jornalistas). O discurso de João Pedro Stédile sobre o atual estágio do movimento de massas no Brasil não tem absolutamente nada de novo: desde o mandarinato de Fernando Henrique Cardoso ele tem esta avaliação, algo simples de ser conferido com uma busca simples no Google (basta digitar João Pedro Stédile e descenso para obter 331 resultados, muitos deles entrevistas antigas, com frases do líder sem-terra expressando rigorosamente a mesma avaliação...).
O MST também sempre gostou mais de Chávez do que de Lula, não há novidade alguma nas críticas de Stédile e demais lideranças sem-terra ao presidente brasileiro. É evidente que o MST ainda está no campo, digamos assim, simpático ao atual governo, inclusive porque a experiência dos militantes em lidar com governantes do PSDB, do antigo PFL e demais legendas conservadores não foi propriamente animadora. Desde meados do primeiro mandato de Lula, porém, os sem-terra não têm a ilusão de que o PT possa fazer uma gestão autenticamente de esquerda, sobretudo em função da opção de Lula por uma aliança com setores da direita, a fim de garantir a governabilidade.
Tudo somado, na matéria abaixo há muitas verdades que no conjunto expressam uma grande mentira. O MST não mudou nada, está reafirmando os seus compromissos de sempre. Lula também não mudou e não é o "inimigo" dos sem-terra que o título marotinho da reportagem tenta passar, de contrabando, ao leitor.
MST ´pós-Lula´ volta a falar em revolução no País
João Pedro Stédile diz que mudanças são possíveis se ´as massas forem para as ruas´; movimento promove 5º Congresso Nacional com 18 mil participantes
José Maria Tomazela
BRASÍLIA - Dois dos principais dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) voltaram a falar em mudança de poder no País, mesmo faltando mais de um ano para terminar o governo do seu antigo aliado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O líder nacional João Pedro Stédile disse que as mudanças são possíveis se "as massas forem para as ruas".
Segundo o líder, o MST acumula forças e espera o momento em que o povo brasileiro volte a se mobilizar. "Estamos num momento de descenso do movimento de massa, mas um dia vai haver uma reação." Stédile traçou um quadro propício para a mobilização popular, mas acusou o governo Lula de "abafar" os efeitos da crise. "No meio do povo, a crise está sendo maquiada com o programa Bolsa Família."
Depois de analisar os momentos de crise e de mobilização vividos pelo País nas últimas décadas, concluiu que o momento é de acumular forças. "Mobilização sem crise econômica é muito difícil." No mesmo evento, o 5º Congresso Nacional do MST em Brasília, o dirigente nacional Gilmar Mauro disse que o movimento vai construir um novo ciclo "que ajudará que tenha uma revolução no Brasil".
Dirigindo-se a mais de 10 mil sem-terra que lotavam o ginásio Nilson Nelson, disse que não se fará reforma agrária sem mudar o poder no País. "O futuro da revolução brasileira depende de nós." E resumiu a missão do MST: formar militantes para fazer a reforma agrária e estimular as classes operárias, as periferias e os morros para mudar o País.
Fracasso da reforma agrária
Em conversa com jornalistas, Stédile reconheceu que o modelo de reforma agrária "resultado de 20 anos de lutas" fracassou. Ele comparou os assentamentos a um "quadrado burro" e disse que a maior parte foi feita na Amazônia Legal, contribuindo para o desmatamento. O novo modelo, que está sendo discutido no congresso, prevê agrovilas próximas de centros urbanos para escoar a produção. "Tem de ser combinado com pequenas agroindústrias para se tornar sustentável."
Ele acusou Lula de ter descumprido compromisso assinado durante a marcha nacional em 2005, de liberar R$ 100 milhões para agroindústrias. O MST não vai parar de fazer ocupações e pressionar para conseguir terra, mas terá novas formas de luta principalmente contra o agronegócio. "Por exemplo, nosso sonho é desapropriar a usina Cevasa, da Cargill, na região de Ribeirão Preto (SP). Como não temos forma de desapropriar, vamos ocupar por um dia", exemplificou.
Ele disse que o movimento cresceu em número de militantes e importância para a sociedade, mas precisa extrapolar sua pauta, buscando interferir na política econômica. "Não vamos virar um partido político."
Depois de criticar a "grande imprensa", disse que o MST pretende construir uma rede de rádios para chegar às massas. O líder disse ter indicativos de que a sociedade apóia o movimento. Defendeu a união das forças de esquerda, mas disse que o MST não tem o poder de ser o "padrinho".
Anunciou um plebiscito para a Semana da Pátria, no qual serão colocados temas como a reestatização da Companhia Vale do Rio Doce, o alto custo da energia elétrica e a questão do emprego. Stédile fala aos militantes sobre o agronegócio como um projeto da classe dominante. Outro palestrante, Plínio de Arruda Sampaio, vai abordar a história da reforma agrária. O congresso se encerra nesta sexta-feira.
O repórter da Agência Estado ou nunca esteve em qualquer outro evento do MST ou está de má fé. Não é preciso ser simpatizante do movimento para saber que os sem-terra jamais deixaram de falar da chamada Revolução Brasileira – um conceito muito caro ao historiador Caio Prado Jr., historiador cuja obra o movimento tem especial apreço e cuida de estudar (coisa que, pelo visto, anda faltando aos jornalistas). O discurso de João Pedro Stédile sobre o atual estágio do movimento de massas no Brasil não tem absolutamente nada de novo: desde o mandarinato de Fernando Henrique Cardoso ele tem esta avaliação, algo simples de ser conferido com uma busca simples no Google (basta digitar João Pedro Stédile e descenso para obter 331 resultados, muitos deles entrevistas antigas, com frases do líder sem-terra expressando rigorosamente a mesma avaliação...).
O MST também sempre gostou mais de Chávez do que de Lula, não há novidade alguma nas críticas de Stédile e demais lideranças sem-terra ao presidente brasileiro. É evidente que o MST ainda está no campo, digamos assim, simpático ao atual governo, inclusive porque a experiência dos militantes em lidar com governantes do PSDB, do antigo PFL e demais legendas conservadores não foi propriamente animadora. Desde meados do primeiro mandato de Lula, porém, os sem-terra não têm a ilusão de que o PT possa fazer uma gestão autenticamente de esquerda, sobretudo em função da opção de Lula por uma aliança com setores da direita, a fim de garantir a governabilidade.
Tudo somado, na matéria abaixo há muitas verdades que no conjunto expressam uma grande mentira. O MST não mudou nada, está reafirmando os seus compromissos de sempre. Lula também não mudou e não é o "inimigo" dos sem-terra que o título marotinho da reportagem tenta passar, de contrabando, ao leitor.
MST ´pós-Lula´ volta a falar em revolução no País
João Pedro Stédile diz que mudanças são possíveis se ´as massas forem para as ruas´; movimento promove 5º Congresso Nacional com 18 mil participantes
José Maria Tomazela
BRASÍLIA - Dois dos principais dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) voltaram a falar em mudança de poder no País, mesmo faltando mais de um ano para terminar o governo do seu antigo aliado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O líder nacional João Pedro Stédile disse que as mudanças são possíveis se "as massas forem para as ruas".
Segundo o líder, o MST acumula forças e espera o momento em que o povo brasileiro volte a se mobilizar. "Estamos num momento de descenso do movimento de massa, mas um dia vai haver uma reação." Stédile traçou um quadro propício para a mobilização popular, mas acusou o governo Lula de "abafar" os efeitos da crise. "No meio do povo, a crise está sendo maquiada com o programa Bolsa Família."
Depois de analisar os momentos de crise e de mobilização vividos pelo País nas últimas décadas, concluiu que o momento é de acumular forças. "Mobilização sem crise econômica é muito difícil." No mesmo evento, o 5º Congresso Nacional do MST em Brasília, o dirigente nacional Gilmar Mauro disse que o movimento vai construir um novo ciclo "que ajudará que tenha uma revolução no Brasil".
Dirigindo-se a mais de 10 mil sem-terra que lotavam o ginásio Nilson Nelson, disse que não se fará reforma agrária sem mudar o poder no País. "O futuro da revolução brasileira depende de nós." E resumiu a missão do MST: formar militantes para fazer a reforma agrária e estimular as classes operárias, as periferias e os morros para mudar o País.
Fracasso da reforma agrária
Em conversa com jornalistas, Stédile reconheceu que o modelo de reforma agrária "resultado de 20 anos de lutas" fracassou. Ele comparou os assentamentos a um "quadrado burro" e disse que a maior parte foi feita na Amazônia Legal, contribuindo para o desmatamento. O novo modelo, que está sendo discutido no congresso, prevê agrovilas próximas de centros urbanos para escoar a produção. "Tem de ser combinado com pequenas agroindústrias para se tornar sustentável."
Ele acusou Lula de ter descumprido compromisso assinado durante a marcha nacional em 2005, de liberar R$ 100 milhões para agroindústrias. O MST não vai parar de fazer ocupações e pressionar para conseguir terra, mas terá novas formas de luta principalmente contra o agronegócio. "Por exemplo, nosso sonho é desapropriar a usina Cevasa, da Cargill, na região de Ribeirão Preto (SP). Como não temos forma de desapropriar, vamos ocupar por um dia", exemplificou.
Ele disse que o movimento cresceu em número de militantes e importância para a sociedade, mas precisa extrapolar sua pauta, buscando interferir na política econômica. "Não vamos virar um partido político."
Depois de criticar a "grande imprensa", disse que o MST pretende construir uma rede de rádios para chegar às massas. O líder disse ter indicativos de que a sociedade apóia o movimento. Defendeu a união das forças de esquerda, mas disse que o MST não tem o poder de ser o "padrinho".
Anunciou um plebiscito para a Semana da Pátria, no qual serão colocados temas como a reestatização da Companhia Vale do Rio Doce, o alto custo da energia elétrica e a questão do emprego. Stédile fala aos militantes sobre o agronegócio como um projeto da classe dominante. Outro palestrante, Plínio de Arruda Sampaio, vai abordar a história da reforma agrária. O congresso se encerra nesta sexta-feira.
"O título marotinho da reportagem da Agencia Estado tenta passar, de contrabando, ao leitor que o MST mudou?"
ResponderExcluirEnganar o leitor? Quem se informa sabe o que é e pensa o MST. Eu não caio nessa. Agora, falando em MST, o movimento só quer terra? Já vi o MST invadir praças de pedágio. Também se "apropriar" de uma praça pública municipal. Onde está a "terra" nessas invasões?
Vejo o MST apenas como um sintoma do atraso do país. Quanto mais força tiver, mais atrasado o Brasil estará.
Se o modelo agrário do Brasil é ruim, não é o modelo MST a solução.
Toda vez que ouço falar em MST, lembro-me do filme "Os Gritos do Silêncio". E o jornalista nativo sofreu, viu Entrelinhas!