Pular para o conteúdo principal

Situação de Renan se complica

A reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, sobre supostas irregularidades nos negócios agropecuários do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) pode provocar uma modificação radical na até então confortável situação do presidente do Senado no Conselho de Ética da Casa. O parecer que absolve Renan tinha tudo para ser aprovado nesta sexta-feira – no máximo poderia haver alguma postergação em virtude de eventual falta de quórum ou pedido de adiamento para realização de oitivas com o advogado de Mônica Veloso e com o lobista Cláudio Gontijo. Com a reportagem do JN, cujo conteúdo está resumido na matéria abaixo, do site G1, Renan ficou em situação delicada. Nos bastidores brasilienses, circula a informação de que a revista Veja também vai trazer reportagem sobre o gado do presidente do Senado. A continuar a pancadaria neste nível, vai ser mesmo muito difícil para Calheiros permanecer à frente da presidência do Senado, a menos que ele tenha uma excelente explicação na ponta da língua e que não possa ser derrubada posteriormente por matérias de jornal. Esta sexta-feira promete ser excepcionalmente agitada na capital federal...


Empresas citadas na defesa de Renan são suspeitas de irregularidades
Senador apresentou ao Conselho de Ética recibos de venda de gado para provar renda.

Uma reportagem exclusiva do Jornal Nacional, da Rede Globo, desta quinta-feira (14), mostra divergências nos recibos de rendimentos rurais apresentados pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para comprovar a origem do dinheiro da pensão paga por ele à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de 3 anos.
Calheiros é dono de três fazendas. Ainda arrenda outras três. Segundo ele, 1,7 mil cabeças de gado são criadas nessas terras, todas vizinhas, e renderam um ganho de R$ 1,9 milhão nos últimos quatro anos.
Mas o gerente das fazendas, Everaldo de Lima Silva, diz que o número de animais é bem menor do que esse. Seriam na verdade 1,1 mil cabeças, ao todo.
Conselho de Ética
Há uma semana, o senador Renan Calheiros entregou ao Conselho de Ética uma relação de cópias de alguns cheques, extratos bancários e 70 recibos em folhas de papel sem timbre ou numeração, assinadas por ele.
As cópias referem-se à venda de gado. A papelada, segundo a defesa do senador, comprovaria a origem do dinheiro da pensão paga por ele à jornalista Mônica Veloso.
O Conselho de Ética investiga a suspeita de que as contas de Calheiros foram pagas por Claudio Gontijo, lobista da construtora Mendes Júnior.
O Jornal Nacional recebeu cópias dos recibos enviados por Renan Calheiros. E tentou localizar as empresas e pessoas que teriam comprado animais de suas fazendas. Encontrou situações que contradizem a defesa do senador.
Os compradores
De acordo com o cadastro da Secretaria de Fazenda do estado de Alagoas, os donos de três das seis empresas que compraram animais do senador Renan Calheiros moram em uma rua no bairro de Rio Novo, subúrbio de Maceió. Duas das empresas foram multadas por extravio de notas fiscais.
João Teixeira dos Santos, de 82 anos, é sócio gerente da Carnal Carnes de Alagoas, já inativa. O senador apresentou três recibos para a Carnal, no valor de R$ 127 mil. João Teixeira diz que nunca deu cheque nem comprou animais de Renan Calheiros.
A empresa GF da Silva Costa também é de Rio Novo. Segundo os recibos, teria comprado R$ 164 mil em bois do senador.
No endereço de Genildo Ferreira, dono da empresa, ninguém o conhece. O CPF dele consta como suspenso na Receita Federal. A sede da empresa fica em uma casa em Satuba, uma cidade vizinha. As correspondências da empresa estão acumuladas. Ninguém vai buscar.
A locatária do imóvel, Givanete Maria da Silva, que mora lá há três anos, diz que ali nunca funcionou negócio de carne. "Aqui nessa casa não", garante ela.
Na Secretaria de Fazenda, a empresa também aparece como inativa. E foi multada em R$ 680 mil por extravio de notas fiscais. Cinco recibos apresentados pelo senador são posteriores ao fechamento da empresa.
Roberto Gomes de Souza foi contador da empresa. É o mesmo contador da Carnal. Ele disse que não lembra de negócios das duas empresas com o senador.
A Stop Carnes é um pequeno açougue. Apesar de estar em funcionamento, também aparece como inativo no cadastro da Fazenda Estadual.
Recibos mostram que o senador Renan teria vendido R$ 47 mil em gado para a Stop. O dono é Elzir de Souza Silva. Ele confirma que comprou animais do senador, mas não sabe dizer quantos, nem tem recibos.
"Você me vende o boi. Sei lá se é do Renan Calheiros ou não. Eu paguei a você. Tô comprando a você. Agora se você tá atrás de Renan Calheiros, não sei como é", diz ele. E completa: "Eu nem conheço ele. Já viu pobre conhecer rico?"
O maior cliente do senador Renan Calheiros é o açougue São Jorge, em Benedito Bentes. Os recibos estão em nome da MW Ricardo da Rocha, uma microempresa, que teria comprado do senador R$ 429 mil.
A empresa, no entanto, declarou faturamento de apenas R$ 23 mil no ano passado. Procurados, os proprietários Maria Waldeci Ricardo da Rocha e José Acácio da Rocha não quiseram dar entrevista.
Outro lado
O senador Renan Calheiros não quis gravar entrevista ao Jornal Nacional. Por telefone, disse que tem como provar a legalidade da venda do gado com notas fiscais e guias de transporte animal. Disse ainda que todo o dinheiro foi depositado em sua conta pessoal.
O senador afirmou que todos os negócios foram fechados pelo veterinário Gualter Peixoto, que presta serviço a ele em Alagoas. Renan disse também que não é problema dele se algum empresário tiver enganado o fisco. E afirmou que pediu à Secretaria da Fazenda de Alagoas documentos sobre os negócios realizados.
E rebateu as declarações de Everaldo de Lima Silva, gerente de suas fazendas. Segundo o senador, Everaldo é peão da fazenda e não tem noção do tamanho do rebanho.

Comentários

  1. Eu, como leitor assíduo deste blog, na qual encontro opniões e visões políticas muito iguais às minhas, começo a ter um desprazer ao ver situações em que claramente se vê uma forte defesa de atos praticados pelo Renan Calheiros, que hoje é aliado ao presidente (que faz questão que seu prório irmão seja investigado). este blog, um grande formador de opnião, usou um termo "continuar a pancadaria neste nível" como se o ato da mídia, que na minha opnião tem errado muito diante de atos de corrupção envolvendo o governo, fosse uma coisa ilegal ou parecida com seus a maioria de seus atos contra o governo. Esta atitude do JN ( para mim um péssimo jornal) foi positiva, pois segundo a constatação há indícios de fraude nas provas colhidas. Os criminosos devem ser punidos, independentemente de qualquer coisa.

    Esta proteção que este blog faz a Renan Calheiros é incoerente. A frase usado no comentário é infeliz, pois o verdadeiro jornalismo foi prestado, mesmo que o mesmo não ocorra com os membros da oposição ao governo, como é o caso dos grandes desmandos que ocorrem em SP com o governador José Serra.

    A mídia deve ser criticada nos erros...

    ResponderExcluir
  2. Caro Luiz Antônio,

    Achei que você comentaria a frase da Marta Suplicy, que sugeriu aos passageiros brasileiros que "relaxassem e gozassem" diante do caos nos aeroportos. Qual é sua opinião sobre o fato?

    ResponderExcluir
  3. Caro Samuel,
    Obrigado pela audiência e pelos elogios ao blog. Talvez possa ter me expressado mal, mas creio que não há nenhuma "defesa" do senador Calheiros na nota em questão, que apenas retrata a piora em sua situação e vaticina que ele talvez não tenha condições de seguir na presidência do Senado. Quando digo que há "pancadaria" contra Renan, não há nenhum juízo de valor, apenas a tentativa de mostrar o que de fato está acontecendo: a grande imprensa resolveu, por algum motivo que ainda não descobri, disparar a artilharia contra o presidente do Senado. Isto ocorreu contra Lula, Palocci, Zé Dirceu e tantos outros. De toda maneira, a nota é uma análise do comportamento da mídia e não versa sobre o teor das denúncias, que, se comprovadas, poderão terminar na cassação do senador, que já não pode mais renunciar ao cargo...
    Um abraço, Luiz.

    ResponderExcluir
  4. Prezado Caio,
    Sobre o comentário de Marta Suplicy, a charge do dia de hoje fala por mim. É evidentem que a ministra falou bobagem, foi uma declaração extremamente infeliz, bem parecida com a de Fernando Henrique Cardoso sobre os aposentados serem vagabundos...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe