Pular para o conteúdo principal

Vazamento de pesquisa visou minimizar
os danos da alta popularidade de Lula?

A reportagem abaixo, na versão da Agência Estado, revela alguns números de uma pesquisa que teria sido encomendada pelo PSDB e Democratas sobre o cenário político nacional. Os números seriam francamente favoráveis ao presidente Lula, com destaque para a avaliação de que 56% dos eleitores reelegeriam o presidente para um terceiro mandato. A matéria está bem feita e correta, mas fica no ar uma dúvida: por que diabos tucanos e democratas resolveram vazar notícias tão boas para o presidente Lula? A resposta é simples: porque hoje seria divulgada a pesquisa CNT/Sensus sobre a popularidade do governo e do presidente. O que tucanos e democratas fizeram foi uma estratégia para minimizar os danos da outra pesquisa, CNT/Sensus, que mostra a segunda melhor avaliação de Lula desde 2005... É simples assim.


Oposição sente-se perdida com alta avaliação de Lula

Christiane Samarco e Eugênia Lopes


BRASÍLIA - Sem uma bússula precisa de atuação no Congresso, o Democratas e o PSDB encomendaram pesquisas para orientar os dois partidos e o resultado foi desalentador para a oposição. Os levantamentos mostraram que, a despeito do apagão aéreo, das denúncias de corrupção que envolvem o governo federal e o PT, e da crise na área de segurança em todo o País, a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sofreu muito.

Na pesquisa dos tucanos, Lula é tão bem avaliado que 56% dos 3.500 consultados disseram que estão dispostos a reelegê-lo para um eventual terceiro mandato. Pior: nas duas enquetes, o PT aparece como o partido mais popular e com a melhor avaliação positiva dentre todas as legendas.

"As duas pesquisas são uma clara recomendação à união das oposições, principalmente no flanco congressual, que é onde podemos somar espaços", avalia o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

Legislativo

A imagem do Legislativo é tão ruim que, indagados sobre a hipótese de fechamento do Congresso, 58% dos entrevistados no levantamento do PSDB revelaram que apoiariam a idéia.

"Não se tem uma fórmula para atuar na oposição, mas ficou claro que sair batendo no governo e no presidente Lula não resolve", conclui o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), que participou da elaboração da pesquisa qualitativa ao lado do sociólogo Antonio Lavareda. "Temos que ter proposta", emenda o tucano. Mas os levantamentos também mostram que não será nada fácil para a oposição encontrar novas bandeiras que sustentem o discurso dos adversários de Lula nas próximas eleições.

Pontos fracos de Lula

Ficou claro para democratas e tucanos que os dois pontos fracos do governo Lula são a falta de segurança e a corrupção. Para os 2 mil entrevistados da pesquisa encomendada pelos democratas ao instituto GPP, o pior desempenho do atual governo está na área de segurança (44,1%) seguido da saúde (22,8%). A melhor avaliação foi dada por 33,5% dos entrevistados aos programas dirigidos à a população mais pobre.

No caso da corrupção, no entanto, a pesquisa qualitativa do PSDB mostrou que foi no atual governo que mais se combateu o problema.

"Imaginar que a corrupção seja fator de desgaste para o governo é ilusório", conclui Fruet. "A pesquisa mostra que o brasileiro está mais feliz", completa o tucano. De fato, a avaliação média nacional do governo, aferida pela pesquisa GPP, atingiu a nota 6,39, na escala de zero a dez.

Terceiro mandato
Embora a pesquisa do PSDB tenha revelado que 56% do eleitorado estejam dispostos a reeleger Lula para um terceiro mandato, o tucanato não está preocupado. "Pessoalmente, acho que Lula está investindo para voltar ao Planalto em 2014, e não em 2010, num terceiro mandato", opina o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), cotado para suceder o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) na presidência nacional do partido.

Ele afirma não ter receio de uma investida do PT em favor do terceiro mandato e justifica: "Não acredito que Lula aceite romper com seu passado democrático".

Guerra insiste que a oposição não foi surpreendia pelos resultados favoráveis ao Planalto. "Lula está bem avaliado porque ganhou a eleição e porque a oposição ainda não se reestruturou da derrota e está sem foco", pondera o senador. Ele e Fruet destacam que, embora ruim, o resultado não é desesperador para a oposição. "Ao contrário", diz Fruet, "existe um espaço para a mudança apesar de a satisfação do brasileiro com o atual governo ser grande". Para consolo do tucanato, pouco mais da metade dos consultados no levantamento disse que votaria em um candidato de oposição "se ele representar melhora para o País".

Fruet vai sugerir ao PSDB que atue "para reavivar a memória do eleitorado simpatizante do partido" nos dois pontos que os entrevistados reconhecem como "obras do governo tucano": saúde e estabilidade da moeda. A bandeira dos programas sociais iniciados pelo governo Fernando Henrique Cardoso, como o bolsa escola, já foi totalmente incorporada pela administração Lula. Resta lutar, agora, para que o PT não lhes roube também a bandeira da estabilidade econômica.

Pesquisa

A pesquisa coordenada pelo cientista político também mostrou que o PT, o PMDB e o PSDB são os únicos partidos que têm saldo positivo na avaliação do eleitorado. Os demais, inclusive o Democratas que ainda é muito pouco conhecido, têm avaliação negativa. O baixo conhecimento talvez explique o fato de o PSDB ser apontado como o maior partido que faz "a maior oposição ao governo Lula", na pesquisa do Democratas.

O PT, por sua vez, é o partido mais identificado com a defesa dos trabalhadores, dos mais pobres e, para desalento da oposição, também da classe média. Enquanto isto, PMDB e PSDB aparecem como os maiores defensores dos interesses dos ricos e das elites.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe