Pular para o conteúdo principal

Reforma política esbarra na falta
de consenso da classe política

A rejeição do núcleo fundamental da proposta de reforma política na noite de ontem, na Câmara dos Deputados, mostra como é difícil aprovar mudanças de vulto na legislação brasileira. De fato, no caso de projetos realmente polêmicos, como era o que introduzia a votação em listas, é preciso haver um certo consenso na classe política. Tal consenso se forma, em geral, a partir da base da sociedade, que pressiona os políticos e força as mudanças. Em situações excepcionais, isto pode se dar a partir da vontade do presidente, em geral logo após um eleição na qual ele saia extremamente fortalecido – foi o que ocorreu no caso da reforma da Previdência, em 2003.

O problema de fundo da reforma política é a questão da representação – hoje a Câmara Federal, que deveria representar a população na base da regra "cada cabeça, um voto", tem enormes distorções, de forma que o voto do cidadão das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste vale mais do que o do Sul e Sudeste. Essas distorções têm origem no famoso Pacote de Abril de 1977 e são dificílimas de serem modificadas, porque evidentemente os políticos das regiões beneficiadas não abrem mão da super-representação.

Ao fim e ao cabo, é possível que os políticos aprovem uma "minirreforma" política, com eventual endurecimento na regra da fidelidade partidária, reintrodução da cláusula de barreira e talvez até a mudança no período dos mandatos Executivos, de 4 para 5 anos, com fim da reeleição. Para esses pontos, dá para vislumbrar não um consenso completo, mas uma maioria suficientemente forte para fazer passar tais medidas. A conferir.

Comentários

  1. Luiz, sou nordestino, do Estado do Rio Grande do Norte, e posso te garantir que não há nenhuma distorção na nossa representação na Câmara dos Deputados. Veja: na eleição de 2006 o total de votos apurados no RN foi de 1.789.912. Dividido pelas 8 vagas, equivale a 223.739 votos/deputado. Para efeito de comparação, no Rio Grande do Sul, foram apurados 6.676.828 votos para 31 deputados. Equivale a 215.381 votos/deputado. Minha fonte é o UOL. O deputado federal eleito menos votado no Rio Grande do Norte teve 69.277 votos (Sandra Rosado). Como você pode confirmar no Terra, Sandra foi a segunda mais votada do Brasil entre os últimos colocados. Alias, o mais votado dentre os últimos colocados foi Zequinha Marinho, com 91.577 votos (Pará). O Pará, veja só, fica na Região Norte :-). Gostaria que ao menos você, como jornalista correto que é, não continuasse propagando essa generalização injusta e que não corresponde aos fatos.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...