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Ciro Gomes e a cascata do barulho

Cada vez mais gente está levando a sério a possibilidade de Ciro Gomes ser candidato ao governo de São Paulo. Este blog continua achando que a "informação" é cascata, destinada a deixar o tucanato paulista nervosinho com a possibilidade. Ciro às vezes tem os seus rompantes, mas em geral é um rapaz com a cabeça no lugar, especialmente quando se trata da carreira política, tanto é que não disputou vaga para o Senado na última eleição, mas para a Câmara Federal. Ciro poderá, em 2010, tanto concorrer à presidência da República – para marcar posição e manter seu nome na lista dos possíveis presidenciáveis do futuro – como disputar uma vaga no Congresso Nacional. Mas não vai cair nesta conversa mole de vir para São Paulo e concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, até porque de burro Ciro não tem nada.

O risco é enorme, inclusive pela acusação que certamente seria feita de oportunismo na troca do domicílio eleitoral. O deputado socialista nasceu em Pindamonhangaba, mas é tão paulista quanto Mangabeira Unger é carioca. Alguém pode dizer que Lula é pernambucano e se fez em São Paulo, mas a diferença é justamente esta: desde sempre o atual presidente atuou na política local, ao passo que Ciro fez carreira no Ceará, só vem a São Paulo para eventos oficiais ou para curtir a noite paulistana. O interior do Estado, especialmente, teria enorme má vontade com a candidatura do emigrante de Pindamonhangaba.

Alguém pode ainda alegar o exemplo de Leonel Brizola, o gaúcho que brilhou no Rio de Janeiro -, e aí a explicação é outra: o Rio é o único estado brasileiro onde tal coisa poderia acontecer. Seria inclusive muito mais crível que Ciro disputasse o governo do Rio (já se falou desta possibilidade com Heloísa Helena, também daria para conceber). Em São Paulo, não dá pé. Ou o sujeito é paulista mesmo ou está por aqui há muito tempo, como o matogrossense Jânio Quadros ou a paraibana Luiza Erundina.

Comentários

  1. Será cascata mesmo? Pesquisas indicam que, se candidato a governador de SP ele já sai com 16%, antes de qualquer campanha. O PSB, seu partido, apesar de aliado de Serra em nível estadual, tem uma estrutura partidária razoável e com possibilidades de coligações interessantes, inclusive com o próprio PT (de vice, por exemplo), um apoio de centro-esquerda em um eventual segundo turno. Além, é claro, da rejeição natural a qualquer candidato apoiado pelos tucanos-demos (e seu apêndice, o PPS), pelos infinitos anos no governo paulista. Sei não, tá ficando interessante esse debate.

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