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Recordar é viver

Já faz mais de um mês que a nota abaixo foi publicada. Aparentemente, o blog estava com a razão, a tal gripe suína, vendida pelos jornalões como uma daquelas doenças destinadas a dizimar a população mundial, não passou mesmo de um traque. Com todo o respeito pelas vítimas da enfermidade, o fato é que a mídia adora este tipo de notícia por uma razão simples: vende jornal adoidado. Alarmismo, sensacionalismo e tragédias soam como música no ouvido do pessoal que cuida do caixa das empresas de comunicação...

Um novo Ebola?
Terça-feira, 28 de Abril de 2009

Ok, pode ser que a gripe suína seja mesmo muito grave, mas o alarde da mídia em torno da doença parece um pouco exagerada. Faz lembrar o tal do Ebola, o vírus que dizimaria meia África e deixar um rastro de desgraça pelo mundo afora. Na época (edição de 9 de agosto de 2000), a revista Veja (sempre ela) publicou a seguinte matéria:

Truque assassino
Descoberto mecanismo de infecção do vírus Ebola, que mata nove entre dez contaminados

O Ebola é um pesadelo. Capaz de liquidar suas vítimas em poucos dias, é o mais violento de todos os vírus. De cada dez pessoas contaminadas, nove morrem. Isso ocorre porque o microrganismo ataca veias e artérias de todo o corpo, provocando hemorragia generalizada. Certos órgãos, como o fígado e os rins, simplesmente se desfazem e o sangue jorra em tal profusão que sai pelos olhos e poros. Na semana passada, cientistas americanos anunciaram o primeiro passo para combater esse assassino cruel: a descoberta da proteína usada pelo Ebola para destruir as células, causando o rompimento dos vasos sanguíneos. Entender o mecanismo de infecção torna possível o desenvolvimento de recursos para controlá-lo. "Remédios exigem maior prazo de pesquisa, mas uma vacina pode ser desenvolvida com rapidez", disse a VEJA Gary Nabel, coordenador da pesquisa no Instituto Nacional de Saúde, responsável pelos estudos com o vírus, nos Estados Unidos.

A primeira epidemia de Ebola da qual se tem notícia matou 500 pessoas em 1976, no Zaire (atual Congo). Dezenove anos mais tarde, um novo surto, com 245 mortes, chocou o mundo com cenas dantescas. Temeu-se que o microrganismo se alastrasse de maneira incontrolável, causando uma catástrofe de proporções planetárias. O clima de pânico internacional foi transposto para o cinema no filme Epidemia, com Dustin Hoffman, em 1995. A preocupação justifica-se. O Ebola é um vírus rápido, com um período de incubação de duas a três semanas, que se espalha num piscar de olhos. Um simples espirro é capaz de lançar milhares de micróbios no ar. Pode ser transmitido por contato sexual, pelo sangue e por secreções de pessoas contaminadas. Mas, da mesma forma abrupta que apareceu, a epidemia se foi. Uma particularidade do Ebola é a capacidade de devastar vilas inteiras e depois sumir sem ninguém saber ao certo como nem por quê. Isso explica, em parte, que o microrganismo continue raro, restrito a algumas regiões da África. Impressiona que já se saiba tanto sobre a fisiologia de um vírus e tão pouco sobre seu comportamento. "Ainda precisamos descobrir onde ele existe na natureza e qual bicho serve de transmissor para o ser humano", diz Nabel. A descoberta de seu mecanismo de ação pode ajudar os pesquisadores a entender doenças parecidas, como a dengue hemorrágica e as infecções por hantavírus que ocorrem no Brasil.


Bem, a África continua por lá e os africanos também. Mundo afora, parece que não foi muita gente que morreu contaminado pelo "pesadelo" da Veja. Notícia ruim vende mais, muito mais, e os veículos de comunicação, especialmente os impressos, andam precisando reforçar o caixa. Portanto, ninguém se espante muito com as manchetes assustadoras sobre a gripe suína. Este blog continua achando que deve ser coisa de palmeirense... Aguardemos a capa de Veja deste domingo!

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