Pular para o conteúdo principal

Ombudsman da Folha e o blog da Petrobras

O Ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, concorda com este blogueiro no que diz respeito à polêmica em torno do blog da Petrobras. Em sua coluna deste domingo, CELS comenta o assunto. Vale a pena ler,

Muito barulho por quase nada

A reação de muitos veículos, jornalistas e entidades ao blog da Petrobras foi claramente despropositada

NINGUÉM precisava ter lido o blog da Petrobras para perceber problemas na reportagem publicada no sábado, dia 6, sobre as relações entre a empresa e a entidade MBC (Movimento Brasil Competitivo).
Expressei assim, na crítica diária que faço das edições deste jornal, minha reação inicial ao deparar-me com a chamada de capa dada a ela: "Francamente, não vejo relevância na informação de que verba da Petrobras foi para ONG que tem seu presidente entre os membros do conselho para que ela esteja na primeira página".
Meu argumento era que em geral a presença de pessoas que ocupam cargos de prestígio em conselhos de organizações como o MBC é apenas simbólica. Como o próprio texto da reportagem informava, o presidente da Petrobras nem participa das reuniões do MBC.
Concluí que "a contratação do MBC pela Petrobras pode merecer críticas, ser denunciada, por diversos motivos. Pelo fato de que Dilma Rousseff e José Sergio Gabrielli participam nominalmente do conselho da ONG, não".
A publicação de cartas do presidente do MBC e da gerente de imprensa da Petrobras no "Painel do Leitor" de segunda-feira confirmou minhas impressões e foi suficiente para eu (e muitos leitores) fechar juízo de valor sobre o caso.
Ao longo da semana, a relação entre a Petrobras e o MBC foi deixada de lado (o que parece confirmar a sua pouca relevância) e o debate, injustificadamente histérico, se concentrou na criação do blog Fatos e Dados pela estatal.
A Petrobras e qualquer entidade ou cidadão têm o direito indiscutível de criar quantos blogs, sites, jornais ou publicações de qualquer espécie que quiserem. Se ela deseja tornar públicas todas as perguntas de jornalistas que receber, também não há nada que a impeça nem legal nem eticamente (em especial se deixar claro a quem se dirigir a ela que vai fazer isso).
Não faz sentido a Petrobras querer editar o conteúdo dos veículos de comunicação. Mas não há problema em ela tornar público material que seja cortado durante o processo de edição feito por esses veículos.
A reação de muitos jornalistas, veículos e entidades à iniciativa foi claramente despropositada. Se alguém pode sair prejudicado pela decisão de revelar as questões de jornalistas antes da publicação das reportagens a que se destinam é a própria empresa, como seu recuo nesse ponto deixou claro: se as pautas exclusivas deixam de ser exclusivas porque a fonte as revela ao público, o mais indicado para quem as produz é não ouvir essa fonte antes de publicar a reportagem.
Do episódio, só há a lamentar que tenha sido mais lenha para atiçar a fogueira do conflito sectário que envenena o ambiente político nacional em prejuízo de todos.

PARA LER
"Blablablogue", organizado por Nelson de Oliveira, editora Terracota, 2009 (R$ 25)

PARA VER
"Nome Próprio", de Murilo Salles, com Leandra Leal, 2007

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe