Pular para o conteúdo principal

Ainda sobre o Copom

O leitor Alexandre Porto é dos que acompanha o Entrelinhas com frequência, manda comentários e dá palpites sobre o blog. Ontem, após a decisão do Copom, ele mandou o comentário abaixo, que merece ser reproduzido aqui. É uma análise muito interessante e instigante

Luiz,
Acho que em dezembro eu escrevi no meu blog que com essa crise tinha um cidadão feliz: Henrique Meirelles.

Sem ela, o Brasil ainda estaria com aquele cenário de crescimento de 6%, inflação na casa dos 7%, 8%, déficits em conta corrente etc.

Tudo isso teria que ser combatido via política monetária. E já estava em andamento um aperto monetário no segundo semestre de 2008, aperto que seria radicalizado ainda mais. Sem a crise, a gente estaria discutindo hoje uma Selic na casa dos 16, 17% e o Meirelles teria que andar com vários ternos na bolsa, para ir trocando os manchados pelos tomates. Hoje ele está rindo a toa. Está sendo elogiado até pela CNI (FIESP, CUT e Força Sindical não contam, pois reclamar faz parte do estatuto).

Tirando os efeitos da queda na demanda externa (sobre a qual não temos controle), a crise apenas radicalizou uma desaceleração que era inevitável e desejada pelo governo. Radical no sentido de forte e rápida.

E aí temos dois pontos para colocar na balança: a desaceleração forçada veio com muito menos custos para a política fiscal e permitiu um alívio monetário inédito; ao mesmo tempo em que foi uma tragédia para os investimentos produtivos e estes têm um peso muito grande no PIB.

A população, o consumidor, a demanda interna foi a que menos perdeu. A inflação caiu, a massa salarial se manteve em crescimento e o governo ainda aliviou impostos. Sofreu com o aumento do spread, mas este tem pouco peso nos supermercados, local onde, afinal de contas, o nosso povo fica realmente feliz.

E quanto às previsões, siga o exemplo do Delfim hoje na Folha, perguntado por que todos erraram: "Leva à conclusão de que o mercado não sabe nada."

A queda de 100 pontos não me surpreendeu, pois ao contrário de muitos analistas, os técnicos da minha consultoria DataCafuringa, acreditam que o Copom olha mais para o IGP, em especial para o IPA, e menos para o PIB, câmbio ou IPCA. E ambos estão em deflação no ano e estarão, daqui a três ou quatro meses, em deflação em 12 meses. E isso significa preços administrados em baixa.

Mas seguindo a tese do tobogã, não acredito que a Selic vai se manter nesse patamar nesse patamar quando a economia voltar a se aquecer, ainda mais com a queda impressionante nos investimentos.

A teoria do tobogã pode ser lida aqui

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...