Saiu na Folha de S. Paulo um excelente artigo do economista Fernando Sampaio sobre os números divulgados ontem pelo IBGE. Abaixo, na íntegra, para os leitores do blog:
ANÁLISE
Cresce chance de PIB fechar ano sem queda
FERNANDO SAMPAIO
Os números do PIB divulgados ontem pelo IBGE trouxeram, ao mesmo tempo, uma confirmação e uma surpresa. A confirmação foi que, em linha com o que a virtual unanimidade dos analistas estimava, a economia brasileira atravessou, nos primeiros meses de 2009, o segundo trimestre consecutivo de contração -evento que, pelo critério seguido por muitos economistas, configura uma recessão.
Mais importante que essa confirmação, porém, foi a surpresa: a contração do PIB no primeiro trimestre, ante o trimestre final de 2008, foi de só 0,8%. Em média, os analistas esperavam uma queda maior, próxima de 2% (estávamos, na LCA, na ponta "otimista", ao projetar queda de 1,5%).
Dois elementos amorteceram a retração do PIB no primeiro trimestre, e com mais força do que se antevia. O primeiro foi o consumo das famílias: depois de ter caído 1,8% do terceiro para o quarto trimestre de 2008, esse que é o maior componente da demanda agregada (responde por cerca de 60% do PIB) teve pequena alta, de 0,7%, no primeiro trimestre.
O corte do IPI cobrado na compra de carros e o reajuste anual do salário mínimo (que passou de R$ 415 para R$ 465 de fevereiro para março, um aumento de 12%) certamente contribuíram para essa recuperação do consumo. Também deve ter contribuído o fato de que nos meses iniciais de 2009 a piora do mercado de trabalho foi mais lenta do que no final de 2008, o que ajudou a reverter parte da queda da confiança dos consumidores.
O outro elemento que amenizou a contração do PIB foi o setor de serviços, que depende muito menos de exportações do que a indústria e a agricultura. A exemplo do consumo das famílias, o setor havia sofrido queda no quarto trimestre (de 0,4%) e voltou a crescer, embora também timidamente, no início de 2009 (quando se expandiu em 0,8% ante o trimestre imediatamente anterior).
Já a contração do volume exportado de bens e serviços se agravou: seu ritmo de queda passou de 3,2% no quarto trimestre para assustadores 16% no primeiro trimestre. E o recuo do investimento também se aprofundou, embora de forma menos dramática, ao passar de -9,3% para -12,6% (sempre na comparação com o trimestre precedente).
São fortes os indícios de que a economia está em recuperação neste segundo trimestre. Somando a isso os resultados menos negativos do que se antecipava no primeiro trimestre, há perspectiva de que as projeções do mercado para a evolução do PIB em 2009 -cuja mediana na sexta se situava em -0,7%- sejam revistas para cima. Aumentou bastante a probabilidade de que, sustentado pelo consumo, o PIB brasileiro feche o ano sem queda.
FERNANDO SAMPAIO , economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.
ANÁLISE
Cresce chance de PIB fechar ano sem queda
FERNANDO SAMPAIO
Os números do PIB divulgados ontem pelo IBGE trouxeram, ao mesmo tempo, uma confirmação e uma surpresa. A confirmação foi que, em linha com o que a virtual unanimidade dos analistas estimava, a economia brasileira atravessou, nos primeiros meses de 2009, o segundo trimestre consecutivo de contração -evento que, pelo critério seguido por muitos economistas, configura uma recessão.
Mais importante que essa confirmação, porém, foi a surpresa: a contração do PIB no primeiro trimestre, ante o trimestre final de 2008, foi de só 0,8%. Em média, os analistas esperavam uma queda maior, próxima de 2% (estávamos, na LCA, na ponta "otimista", ao projetar queda de 1,5%).
Dois elementos amorteceram a retração do PIB no primeiro trimestre, e com mais força do que se antevia. O primeiro foi o consumo das famílias: depois de ter caído 1,8% do terceiro para o quarto trimestre de 2008, esse que é o maior componente da demanda agregada (responde por cerca de 60% do PIB) teve pequena alta, de 0,7%, no primeiro trimestre.
O corte do IPI cobrado na compra de carros e o reajuste anual do salário mínimo (que passou de R$ 415 para R$ 465 de fevereiro para março, um aumento de 12%) certamente contribuíram para essa recuperação do consumo. Também deve ter contribuído o fato de que nos meses iniciais de 2009 a piora do mercado de trabalho foi mais lenta do que no final de 2008, o que ajudou a reverter parte da queda da confiança dos consumidores.
O outro elemento que amenizou a contração do PIB foi o setor de serviços, que depende muito menos de exportações do que a indústria e a agricultura. A exemplo do consumo das famílias, o setor havia sofrido queda no quarto trimestre (de 0,4%) e voltou a crescer, embora também timidamente, no início de 2009 (quando se expandiu em 0,8% ante o trimestre imediatamente anterior).
Já a contração do volume exportado de bens e serviços se agravou: seu ritmo de queda passou de 3,2% no quarto trimestre para assustadores 16% no primeiro trimestre. E o recuo do investimento também se aprofundou, embora de forma menos dramática, ao passar de -9,3% para -12,6% (sempre na comparação com o trimestre precedente).
São fortes os indícios de que a economia está em recuperação neste segundo trimestre. Somando a isso os resultados menos negativos do que se antecipava no primeiro trimestre, há perspectiva de que as projeções do mercado para a evolução do PIB em 2009 -cuja mediana na sexta se situava em -0,7%- sejam revistas para cima. Aumentou bastante a probabilidade de que, sustentado pelo consumo, o PIB brasileiro feche o ano sem queda.
FERNANDO SAMPAIO , economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.
Bom, não dá para não comentar o orgasmo múltiplo de nossa imprensa ao noticiar em letras garrafais que o país "entrou em recessão". Pois bem, abaixo seguem os links com a 1ª recessão do governo Lula e a última do governo FHC (nesse caso, os jornais não noticiaram como recessão, já que só em 2007 houve revisão nos números que apontou a queda no período). Mas vale observar a habilidade da "jestão" tucana: estávamos em crise porque todo o Brasil era afetado pela crise... energética!!!
ResponderExcluirhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/cp30052003.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cp16082001.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cp30112001.htm
Ah, só um "PS": Note que, pelo menos na matéria deste último link, a Folha considera o número do PIB como a variação em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, muito diferente do estardalhaço que fez na queda do 4º trimestre de 2008, quando o país caiu ante o 3º trimestre, mas subiu 1,3% sobre o 4º trimestre de 2007...
ResponderExcluirPor fim, basta ver também a "ordem de importância" de como, agora, aparecem os dados do último PIB. Trecho de matéria da Folha On Line (http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u579160.shtml): "A economia brasileira teve retração de 1,8% no primeiro trimestre de 2009 ante igual período do ano passado, e de 0,8% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, informou nesta terça-feira o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com dois trimestres consecutivos de encolhimento, o país entrou em recessão técnica, a primeira desde 2003."
ResponderExcluirSinceramente, desconheço se a comparação com o o mesmo trimestre do ano anterior, quando se falava do PIB do 1º trimestre, era citava. Lembro que só se falava dos menos 3 e poucos por cento... No comentário acima, errei ao citar os trimestres. É um para a frente: 1º trimestre de 2009, 4º trimestre de 2008 e 1º trimestre de 2008, nessa ordem...
Não podemos esquecer que a LCA tinha até há pouco tempo como sócios os meus dois favoritos para o ministério da Fazenda da era Dilma; Luciano Coutinho e Bernardo Appy.
ResponderExcluir