Em mais uma colaboração para essas Entrelinhas, o professor Wagner Iglecias analise o quadro sucessório na capital paulista, tendo como referência a pesquisa Vox Populi divulgada na semana passada. Este blog assina embaixo, com a ressalva de que o deputado Aldo Rebelo (PCdoB) pode ser uma alternativa ainda mais forte do que a ex-prefeita Luiza Erundina. Kassab também pode crescer muito e já conversa com o PMDB para obter tempo maior no horário eleitoral gratuito. No todo, a análise está impecável: a eleição está em aberto.
Pesquisa do instituto Vox Populi divulgada nesta semana dá conta de que o ex-governador Geraldo Alckmin lidera a corrida sucessória pela prefeitura de São Paulo, com 31% da preferência dos pesquisados. É seguido de perto por Marta Suplicy, com 28%, e depois aparecem Paulo Maluf (10%), Luiza Erundina (9%), Gilberto Kassab (7%) e Paulinho da Força (7%). Ainda é muito cedo para tomar estes números como a tendência do próximo ano, quando vai ocorrer a eleição. O palpite deste comentarista, aliás, é que estes números devem ser tomados com precaução.
Alckmin deixou o governo do estado com alto índice de popularidade. Teve votação bastante expressiva na cidade de São Paulo na última eleição presidencial e a intenção de voto nele expressa pela sondagem do Vox Populi se deve, também, ao efeito recall, visto que seu nome está bastante fresco na memória do eleitor. A liderança nas pesquisas de intenção de voto vitamina as correntes tucanas próximas a ele, e coloca uma grande pedra no sapato do atual governador José Serra, conforme discutiremos ao final deste artigo.
Marta não surpreende ao aparecer com 28%. Afinal, foi prefeita há pouco tempo, antes de Serra e Kassab, tendo deixado o Palácio das Indústrias com uma boa avaliação de seu governo. O que surpreende é que tenha um índice tão significativo mesmo após a desastrosa declaração pública que deu recentemente acerca da crise aérea, a qual foi fartamente explorada na imprensa e certamente o será por seus adversários. De duas uma: ou o grosso da população não ficou sabendo da declaração ou, por não utilizar aviões, deu pouca importância a ela.
Por outro lado, o alto índice de intenção de votos em Marta desestimula setores outros do petismo, inclusive no governo federal, que já vislumbravam uma candidatura alternativa à Prefeitura após a infeliz declaração da ex-prefeita. Marta, no entanto, aparece na pesquisa com alto índice de rejeição, o que pode pesar significativamente no cálculo petista sobre a viabilidade da sua ou de outra candidatura com a qual o partido pretende retomar o controle da maior cidade do país.,
Com Maluf e Erundina ocorre o mesmo efeito recall que ocorre com Alckmin e Marta. Embora tenham comandado a cidade de São Paulo já há bastante tempo, continuam sendo nomes muito conhecidos da população. Maluf, embora hoje ainda tenha votos para conseguir eleger-se com folga para a Câmara dos Deputados, como ocorreu em outubro último, é uma figura política desgastada que muito provavelmente não reúne mais condições de eleger-se a cargos executivos, quando são necessários muito mais votos que para os cargos proporcionais.
Já Erundina está no jogo. Foi boa prefeita, tem um mandato sério como deputada federal e pode, via PSB, constituir-se num pólo aglutinador de forças progressistas alternativo à bipolaridade entre tucanos e petistas, que ocorre há anos em São Paulo e deverá repetir-se também em 2008.
Paulinho da Força, por sua vez, reúne um bom cesto de votos, como já vem ocorrendo nas últimas eleições, e este poderá constituir-se em importante lastro para as negociações de segundo turno. Interessante saber se, na eventualidade de ter uma boa votação mas não estar entre os dois finalistas, para que lado penderá o sindicalista, visto que a Força Sindical tem inegável proximidade com tucanos e pefelistas em São Paulo, mas agora ocupa um Ministério no governo Lula.
A intenção de votos no prefeito Gilberto Kassab é intrigante. Em sondagens anteriores ele talvez comparecesse com menos dos que os 7% que o Vox Populi lhe atribui. Era um desconhecido dos paulistanos. Alguém que fora guindado ao posto de gestor da maior cidade do Hemisfério Sul sem ter tido um único voto para tanto. Chegou à prefeitura por conta da saída de José Serra para a disputa pelo governo do estado. Recente pesquisa do Instituto Datafolha dá conta de que cerca de um terço dos paulistanos, hoje, avaliam como ótima ou boa a gestão Kassab.
A maioria da população aprova a operação "Cidade Limpa", que é a marca de sua administração até o momento. Desta forma, os 7% que Kassab amealha nesta sondagem do Vox Populi podem vir a ser maiores nas próximas pesquisas. Talvez a intenção de votos no atual prefeito esteja numa curva ascendente. Não se sabe. Somente as próximas pesquisas poderão dizer isto. Entretanto, se Kassab subir mais nos próximos levantamentos estará colocado um problema para o consórcio tucano-democrata que governa o estado de São Paulo há tanto tempo e que comanda a capital paulista desde 2005.
Para a nova geração que vai ganhando o comando do ex-PFL, manter a cidade de São Paulo é fundamental. Desta forma, a candidatura Kassab seria irreversível. Mas se mantida a grande intenção de votos em Alckmin, ficaria muito difícil que o PSDB não tivesse o ex-governador como candidato. Logo ele, que superou José Serra na disputa pela legenda na eleição presidencial de 2006. E a Serra, em sua estratégia para ser o candidato tucano à Presidência da República em 2010, seria fundamental ter um aliado no comando da maior cidade do país. Neste caso Kassab, do DEM, e não Alckmin, do seu PSDB.
A divisão no campo conservador poderia favorecer uma candidatura petista. No entanto, é natural supor uma composição entre democratas, serristas e alckmistas num segundo turno diante do PT, inimigo comum.
Em suma, o jogo permanece indefinido, apesar da dianteira de Alckmin e Marta. A pesquisa Vox Populi amaina um pouco a luta interna no petismo, enquanto acirra os ânimos nas hostes tucano-democratas. Maluf e Paulinho devem ficar mais ou menos onde estão, e Erundina pode vir a constituir-se em uma alternativa. A conferir.
Wagner Iglecias é doutor em sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Pesquisa do instituto Vox Populi divulgada nesta semana dá conta de que o ex-governador Geraldo Alckmin lidera a corrida sucessória pela prefeitura de São Paulo, com 31% da preferência dos pesquisados. É seguido de perto por Marta Suplicy, com 28%, e depois aparecem Paulo Maluf (10%), Luiza Erundina (9%), Gilberto Kassab (7%) e Paulinho da Força (7%). Ainda é muito cedo para tomar estes números como a tendência do próximo ano, quando vai ocorrer a eleição. O palpite deste comentarista, aliás, é que estes números devem ser tomados com precaução.
Alckmin deixou o governo do estado com alto índice de popularidade. Teve votação bastante expressiva na cidade de São Paulo na última eleição presidencial e a intenção de voto nele expressa pela sondagem do Vox Populi se deve, também, ao efeito recall, visto que seu nome está bastante fresco na memória do eleitor. A liderança nas pesquisas de intenção de voto vitamina as correntes tucanas próximas a ele, e coloca uma grande pedra no sapato do atual governador José Serra, conforme discutiremos ao final deste artigo.
Marta não surpreende ao aparecer com 28%. Afinal, foi prefeita há pouco tempo, antes de Serra e Kassab, tendo deixado o Palácio das Indústrias com uma boa avaliação de seu governo. O que surpreende é que tenha um índice tão significativo mesmo após a desastrosa declaração pública que deu recentemente acerca da crise aérea, a qual foi fartamente explorada na imprensa e certamente o será por seus adversários. De duas uma: ou o grosso da população não ficou sabendo da declaração ou, por não utilizar aviões, deu pouca importância a ela.
Por outro lado, o alto índice de intenção de votos em Marta desestimula setores outros do petismo, inclusive no governo federal, que já vislumbravam uma candidatura alternativa à Prefeitura após a infeliz declaração da ex-prefeita. Marta, no entanto, aparece na pesquisa com alto índice de rejeição, o que pode pesar significativamente no cálculo petista sobre a viabilidade da sua ou de outra candidatura com a qual o partido pretende retomar o controle da maior cidade do país.,
Com Maluf e Erundina ocorre o mesmo efeito recall que ocorre com Alckmin e Marta. Embora tenham comandado a cidade de São Paulo já há bastante tempo, continuam sendo nomes muito conhecidos da população. Maluf, embora hoje ainda tenha votos para conseguir eleger-se com folga para a Câmara dos Deputados, como ocorreu em outubro último, é uma figura política desgastada que muito provavelmente não reúne mais condições de eleger-se a cargos executivos, quando são necessários muito mais votos que para os cargos proporcionais.
Já Erundina está no jogo. Foi boa prefeita, tem um mandato sério como deputada federal e pode, via PSB, constituir-se num pólo aglutinador de forças progressistas alternativo à bipolaridade entre tucanos e petistas, que ocorre há anos em São Paulo e deverá repetir-se também em 2008.
Paulinho da Força, por sua vez, reúne um bom cesto de votos, como já vem ocorrendo nas últimas eleições, e este poderá constituir-se em importante lastro para as negociações de segundo turno. Interessante saber se, na eventualidade de ter uma boa votação mas não estar entre os dois finalistas, para que lado penderá o sindicalista, visto que a Força Sindical tem inegável proximidade com tucanos e pefelistas em São Paulo, mas agora ocupa um Ministério no governo Lula.
A intenção de votos no prefeito Gilberto Kassab é intrigante. Em sondagens anteriores ele talvez comparecesse com menos dos que os 7% que o Vox Populi lhe atribui. Era um desconhecido dos paulistanos. Alguém que fora guindado ao posto de gestor da maior cidade do Hemisfério Sul sem ter tido um único voto para tanto. Chegou à prefeitura por conta da saída de José Serra para a disputa pelo governo do estado. Recente pesquisa do Instituto Datafolha dá conta de que cerca de um terço dos paulistanos, hoje, avaliam como ótima ou boa a gestão Kassab.
A maioria da população aprova a operação "Cidade Limpa", que é a marca de sua administração até o momento. Desta forma, os 7% que Kassab amealha nesta sondagem do Vox Populi podem vir a ser maiores nas próximas pesquisas. Talvez a intenção de votos no atual prefeito esteja numa curva ascendente. Não se sabe. Somente as próximas pesquisas poderão dizer isto. Entretanto, se Kassab subir mais nos próximos levantamentos estará colocado um problema para o consórcio tucano-democrata que governa o estado de São Paulo há tanto tempo e que comanda a capital paulista desde 2005.
Para a nova geração que vai ganhando o comando do ex-PFL, manter a cidade de São Paulo é fundamental. Desta forma, a candidatura Kassab seria irreversível. Mas se mantida a grande intenção de votos em Alckmin, ficaria muito difícil que o PSDB não tivesse o ex-governador como candidato. Logo ele, que superou José Serra na disputa pela legenda na eleição presidencial de 2006. E a Serra, em sua estratégia para ser o candidato tucano à Presidência da República em 2010, seria fundamental ter um aliado no comando da maior cidade do país. Neste caso Kassab, do DEM, e não Alckmin, do seu PSDB.
A divisão no campo conservador poderia favorecer uma candidatura petista. No entanto, é natural supor uma composição entre democratas, serristas e alckmistas num segundo turno diante do PT, inimigo comum.
Em suma, o jogo permanece indefinido, apesar da dianteira de Alckmin e Marta. A pesquisa Vox Populi amaina um pouco a luta interna no petismo, enquanto acirra os ânimos nas hostes tucano-democratas. Maluf e Paulinho devem ficar mais ou menos onde estão, e Erundina pode vir a constituir-se em uma alternativa. A conferir.
Wagner Iglecias é doutor em sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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