Pular para o conteúdo principal

A representação do PSOL está errada?

A atenta leitora Vera, assídua frequentadora deste blog, escreve comentário à nota anterior dizendo que o envio do processo relativo ao caso do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) pôde ser remetido de volta à Mesa Diretora por falhas na representação original, no PSOL. Na verdade, a representação pôde ser remetido de volta sobretudo porque Renan decidiu não submetê-lo à Mesa Diretora do Senado, a fim de dar celeridade ao processo e afastar a impressão de que ele mesmo gostaria de protelar o andamento das investigações. Processualmente, é possível que a representação do PSOL contenha falhas ou seja insuficiente, mas o fato é que neste momento, o enviou do processo de volta à Mesa Diretora é uma manobra processual e, o que é mais importante, politicamente desastrosa. Quintanilha é aliado de Renan e está usando as artimanhas à disposição para fazer o caso andar mais devagar. A avaliação de que isto dará fôlego ao presidente do Senado é precipitada e o tiro pode acabar saindo pela culatra: quanto mais tempo o caso permanecer na mídia, pior para Calheiros. Certamente, se ele deixasse a presidência do Senado, o caso acabaria em poucos dias e é bastante provável que ele conseguisse inclusive manter o mandato, porque não há prova alguma de que tenha usado dinheiro da Mendes Júnior para pagar a pensão da sua filha. No máximo, receberia uma advertência. Permanecendo na presidência, o caso ganha caráter político-partidário e permite, inclusive, que a ex-senadora alagoana Heloísa Helena, presidente do PSOL, aproveite para tirar uma casquinha em suas disputas locais, como bem apontou Vera.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...