Pular para o conteúdo principal

Surfando em cadáveres 3: a culpa é da pista

Os blogs de direita começam a ficar um tanto contrariados com alguns fatos que insistem em não bater com a tese de que o presidente Lula é o grande culpado pelo acidente com o avião da TAM em Congonhas.

Ontem, logo após a tragédia, a direita, animadíssima com o acontecimento, já tinha uma tese pronta para explicar o que ocorreu em São Paulo: a "culpa" só podia ser da pista de Congonhas, recém-reformada, que não recebeu o chamado "grooving", conjunto de sulcos no asfalto que ajuda a evitar alagamentos. Logo, se o problema era da pista, a "culpa" então seria da Infraero e, por consequência, do governo federal. Em última instância, de Luiz Inácio Lula da Silva, ele mesmo.

O problema é que hoje o presidente da TAM disse que a falta de grooving não interfere na aderência da aeronave. Disse mais: a medição da quantidade de água na pista havia sido feita logo antes do pouso do avião que se acidentou.

É chato, mas não foi a pista. Frustrado, o direitoso Reinaldo Azevedo insinua que o presidente da TAM quer "preservar" seu negócio e não falaria mal da pista para não "inviabilizar" Congonhas. O Reinaldo podia pesquisar no Google antes de falar besteira: diversos aeroportos do mundo não utilizam o grooving e nem por isto reportam acidentes.

Surfar em cadáveres para politizar uma tragédia é muito feio. Mas ainda mais feio é usar argumentos capciosos e incorretos para surfar nos cadáveres. No fim, revela não apenas falta de caráter, mas de competência também.

Comentários

  1. Entrelinhas, você cita tanto o Reinaldo Azevedo. Por que? Está querendo ser citado no Blog dele?

    ResponderExcluir
  2. Não por isto, apenas por que ele é um jornalista que este blog respeita.

    ResponderExcluir
  3. Quando penso em mal jornalismo, me lembro de Reinaldo Azevedo. Figura nojenta, que em vez de informar, só faz criticar e de forma despudurada.
    Evite falar neste escroque.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...